A trilha que caminhões e ônibus desbravam na busca por uma sustentabilidade econômica - em tempos de urgência para o meio ambiente - tem similar apenas na trajetória dos táxis no Brasil. Estimados em cerca de 600 mil profissionais e 300 mil veículos, eles passaram por duas grandes fases de estímulo à mudança.
O primeiro completa 50 anos em 2025 e se trata do Proálcool. Na época, o País saía da crise do petróleo de 1973 e queria diminuir a dependência de combustíveis internacionais a partir da invenção genuinamente brasileira: o etanol. Para isso, estimulou a produção de veículos do tipo na indústria automotiva e, em sequência, a adoção desses carros pelos taxistas.
"Mas, depois, o Governo abandonou o programa e o álcool ficou mais caro que a gasolina, impraticável para a gente", relembra Francisco Moura, presidente do Sindicato dos Taxistas Profissionais do Ceará (Sinditáxi-CE).
Pela regra da indústria, o litro do etanol precisa custar menos de 70% do preço do litro da gasolina para ser economicamente viável, especialmente para quem trabalha no transporte de passageiros.
Como alternativa mais sustentável para os táxis, o Governo Federal encampou outra fase de transição focada nos combustíveis. Desta vez, o estímulo era para a adoção do gás natural veicular (GNV), mas o gatilho era o mesmo: crise no preço do petróleo na década de 1980.
Projetos-piloto no transporte público e de cargas fizeram parte da investida a partir dos anos 90, mas apenas os táxis obtiveram sucesso. No Ceará, conta Moura, 70% da frota de cerca de 7 mil veículos tem kits GNV instalados. É a maior proporção entre as categorias, vide que os ônibus não tiveram adesão e as cargas iniciam esse movimento com maior volume na última década. Mas também têm gargalos.
"Olha o preço do metro cúbico (m³)... O valor para fazer a conversão do carro não sai por menos de R$ 6 mil e ainda tem as taxas anuais de vistoria que vão mais R$ 400", calcula o presidente do Sinditáxi Ceará.
Custos que comprometem a competitividade do gás natural no segmento. Mas estudos indicam que o GNV pode ser até 48% mais econômico que a gasolina e até 44% mais que o etanol, com preços mais competitivos. A última pesquisa da Agência Nacional do Petróleo indica que, no Ceará, o preço médio do litro da gasolina comum sai por R$ 6,29 e o do etanol por R$ 4,94, enquanto o GNV custa R$ 5,15 por m³.
O preço, a rede de distribuição das regiões metropolitanas e, principalmente, a solidez do mercado que proporciona menor variação tornam o GNV mais competitivo, segundo aponta Marcus Quintella, diretor do FGV Transportes.
Uma nova onda de estímulo a esses veículos ocorre com a aprovação de isenção do Imposto Sobre Produto Industrializado para os taxistas, mas o desconhecimento sobre a nova tecnologia, o medo de desvalorização na revenda e o tempo médio de abastecimento afetam o negócio para os taxistas e demais usuários.