Hoje com aproximadamente 1,5 bilhão de habitantes, a África deve triplicar de população até 2100, enquanto regiões historicamente mais ricas, como Europa e América do Norte, vivem um processo de declínio populacional, envelhecimento acelerado e taxas de natalidade persistentemente baixas. Esse reposicionamento demográfico tem potencial para redesenhar deslocar o centro de gravidade do poder mundial.
O crescimento populacional concentrado na África poderá reconfigurar as dinâmicas de poder, influência e demanda global, aponta Vladimir Feijó, doutor em Direito Internacional pela PUC Minas.
"O continente com grande população jovem terá potencial de força de trabalho, de consumo e de mobilização política. Isso pode se traduzir em maior influência nas instituições multilaterais, como a ONU, o FMI e o Banco Mundial", afirma. A juventude africana poderá exercer papel crucial nas decisões econômicas e diplomáticas, tanto como força produtiva quanto como eleitorado político ativo.
Feijó, no entanto, alerta para os desafios que acompanham esse protagonismo. O crescimento acelerado poderá intensificar fluxos migratórios. "Esse cenário exigirá novos marcos jurídicos e diplomáticos sobre mobilidade, cidadania e direitos humanos", aponta.
Na visão de Vitelio Brustolin, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a África pode ganhar peso internacional com países como Nigéria, Etiópia, Egito e República Democrática do Congo se tornando potências regionais e, eventualmente, globais.
Brustolin também chama atenção para os riscos de um aumento de disputas por recursos naturais, como água, alimentos e energia.
Mariana Ramalho, doutora e professora de UFC e especializada em saúde coletiva, observa que a África atravessará um período de transições simultâneas: demográfica, epidemiológica, urbana e ambiental. "O crescimento desordenado pode agravar a favelização, aumentar a pobreza extrema, a insegurança alimentar e a sobrecarga nos sistemas de saúde".