Uma gota de água que pode virar uma bola de neve. É assim que Ingrid Rabelo, assistente social e assessora de juventudes do Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza (CDVHS), descreve como as ameaças de violência ignoradas podem se tornar problemas sérios. Se a escola toma conhecimento de situações como essa, é preciso intervir. Em Fortaleza, o acirramento de conflitos entre facções foi acompanhado de ordens para o fechamento de escolas em 2025. Nos bairros Pirambu, em maio, e Vicente Pinzón e Papicu, em agosto, aulas foram suspensas após as instituições receberem ameaças. Mesmo aquelas que se mantiveram abertas tiveram frequência reduzida de estudantes.
Alex Viana, gerente da Célula de Mediação Social e Cultura de Paz da Secretaria Municipal da Educação (SME), explica que não há como "desacreditar" das ameaças. "O contexto de alguns territórios é bem complexo. A gente tem buscado desenvolver protocolos em relação a como cada membro da comunidade escolar deve se comportar numa situação de crise, no pós-crise também", relata.
Algumas das ações fazem parte de um plano de contingência desenvolvido com metodologia adaptada do Comitê Internacional da Cruz Vermelha para países em guerra ou de violência extrema. Fortaleza é uma das cidades do Brasil em parceria com o Comitê.
No caso das escolas do Vicente Pinzón e Papicu, "corredores seguros" foram implantados com o auxílio da Guarda Municipal e PM. "A gente percebeu que na medida em que organizou esse acesso por vias definidas e monitoradas pela polícia, teve o aumento gradual da frequência", diz Alex.
Quando a ameaça é direcionada para algum estudante, outras estratégias são colocadas em prática: transferência para uma escola em outro território e até mesmo a inclusão do aluno no Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM), do Governo Federal.
Desde que começou a trabalhar na célula, em 2022, Alex conta que dois alunos sofreram ameaças de morte e a rede de proteção precisou ser acionada para garantir não só o direito à educação, mas também a prevenção da violência letal.