Apesar de serem muitas vezes tratados como um grupo homogêneo, com os mesmos pensamentos e desejos, crianças e adolescentes são diversos. Em um cenário sensível e complexo como o da influência da violência nas escolas, não há como esperar que a resposta seja única - nem para as que dividem o mesmo bairro. Gestores e ativistas entendem que escutar os estudantes é um passo fundamental para melhorar o clima escolar.
"A gente tem percebido que os espaços de escuta dos jovens transformam aquele cenário. Promover as rodas de conversa, a presença da arte, da cultura e do esporte também, tem um efeito muito visível", relata Ingrid Rabelo, assistente social e assessora de juventudes do Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza (CDVHS).
A experiência trabalhando para fortalecer os grêmios estudantis das escolas do Grande Bom Jardim, em Fortaleza, realizar festivais e sábados culturais para os jovens e estreitar laços com as escolas ajudou Ingrid a perceber que as demandas vão desde um local seguro para jogar bola até um auxílio para encontrar o primeiro emprego.
Para Enedite Madeira, diretora da escola de ensino médio de tempo integral Jocie Caminha, no bairro Granja Portugal, o olhar de cuidado para ansiedades, mudanças de comportamento ou desempenho e faltas é parte importante dos projetos implementados na escola.
O programa Professor Diretor de Turma, como a diretora exemplifica, é uma iniciativa da Secretaria da Educação do Estado (Seduc) que promove a proximidade de um docente com uma turma da escola. Ele fica mais atento às questões socioemocionais dos alunos e consegue ajudar até mesmo outros professores a lidar com as dificuldades particulares daqueles adolescentes. Já com as famílias, Enedite relata que disponibilizar mais horários para reuniões e um número de WhatsApp foi um diferencial para o contato aumentar.
Além disso, a parceria desenvolvida por meio do Fórum de Escolas do Grande Bom Jardim permite a troca de ideias com gestores de outras instituições de ensino do território. O apoio da rede permite uma visão mais ampla dos problemas comuns e o compartilhamento de soluções possíveis. "Nem tudo que funciona na minha escola vai funcionar em outra, mas a gente unifica forças e faz um bom trabalho", diz a diretora. O Fórum também faz parcerias com movimentos sociais, organizações da sociedade civil e acadêmicos para levar experiências culturais, esportivas e debates sobre direitos humanos aos colégios do Grande Bom Jardim.
Aprender sobre diversidade e valores como empatia e respeito também ajuda a escola a ser menos violenta, opina o estudante Heitor Castro, 16. "Acaba que a escola se torna um ambiente violento não só nessa questão de armas, mas no sentido de muito preconceito", conta.
A mediação de conflitos é outro elemento essencial para manter a paz no clima escolar. "É muito importante que os conflitos internos da escola sejam resolvidos da forma mais pacífica possível e que envolvam menos o ambiente externo, porque o ambiente externo pode ser muito perigoso e cruel com os jovens", lamenta Heitor.
As estratégias para melhorar a cultura de paz devem ainda evitar visões deterministas sobre as circunstâncias de vida de jovens que moram em territórios violentos. "As juventudes acabam sofrendo estigmas porque vem de contexto de violência e logo são desacreditadas ou taxadas como como sujeitos potencialmente violentos, incapazes de estabelecer relações de convivialidade", diz o professor de psicologia João Paulo Pereira Barros.
Apesar da exposição à violência influenciar no sofrimento psíquico, comprometer processos de aprendizagem, de socialização e de desenvolvimento, o professor defende que, com as ferramentas corretas, os jovens podem superar as situações adversas.
"Precisamos ampliar a rede de suporte, acolhimento e escuta para que, mesmo em contexto de violência, essas pessoas possam refazer suas trajetórias, perspectivar futuros e estabelecer caminhos de potência de vida", afirma.