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Lucas Barbosa: O que une e o que separa as ações no Rio e em Canindé
Reportagem

Lucas Barbosa: O que une e o que separa as ações no Rio e em Canindé

Somente o alinhamento de esforços — sob coordenação federal, mas com espaço para adaptação regional — pode nos trazer o mínimo de esperanças
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Operação das forças policiais do Ceará matam sete integrantes do CV em Canindé (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Operação das forças policiais do Ceará matam sete integrantes do CV em Canindé

Um intervalo de menos de 72 horas separa as ações policiais no Complexo da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, e em Canindé, no Interior do Ceará. As diferenças, evidentemente, são muitas: a operação Contenção foi uma ação cuja iniciativa foi do Estado, que teve tempo de sobra para planejá-la. A de Canindé, demandava uma intervenção imediata, que não permitia tempo para maiores elaborações. Os espaços também são bastante distintos: no Rio, um dos maiores adensamentos urbanos do País; em Canindé, um bairro acostado na Caatinga, de baixa densidade populacional. No Ceará, um grupo de 15 homens, enquanto na Penha, todo um Exército praticamente.

Mas o Comando Vermelho (CV) perpassa ambas as situações. A facção era alvo tanto no Rio, quanto em Canindé. Não é algo meramente anedótico; é um exemplo de como o crime organizado atualmente não reconhece limites territoriais. José Mário Pires Magalhães, o "ZM", apontado como a maior liderança do CV no Estado, nasceu em Canindé, município onde começou sua "carreira criminosa". Hoje, está escondido no Rio, muito possivelmente, na Rocinha. São aspectos que demonstram não haver espaço para picuinhas quando o assunto é segurança pública. Somente o alinhamento de esforços — sob coordenação federal, mas com espaço para adaptação regional — pode nos trazer o mínimo de esperanças.

Canindé foi mais um dos municípios interioranos a ser capturado pela dinâmica das facções criminosas do Ceará. Outrora tratado como refúgio para a violência da Capital, o Interior cearense, hoje, apresenta práticas criminosas que se equiparam, quando não superam, as atividades delituosas da Metrópole. Um ponto da violência interiorana a superar a de Fortaleza é o déficit de policiamento, sobretudo, investigativo. Aliada a outras deficiências de ordem socioeconômica, a fragilidade da responsabilização estatal de infratores é um forte incentivo para a consolidação das facções no Interior.

Em 14 de outubro passado, a coluna Lucas Barbosa, no O POVO , abordou a situação do bairro Palestina, localizado em Canindé, onde, por causa da atuação do Terceiro Comando Puro (TCP), bandeiras de Israel foram grafitadas em muros — a Estrela de Davi tornou-se um símbolo da facção devido à religiosidade de uma de suas mais destacadas lideranças, Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, chefe do "Complexo de Israel" no Rio. A "sátira macabra" do conflito no Oriente Médio chama a atenção, mas é preciso ater-se detalhadamente às particularidades de cada conflito, ainda que sem esquecer do contexto mais amplo. Serve para os paralelos entre Palestina e Ceará, mas também para os paralelos entre o Ceará e o Rio.

 

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