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Brasil avança quatro posições em ranking de competitividade digital
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Brasil avança quatro posições em ranking de competitividade digital

| EVOLUÇÃO | País passou para a 53ª posição à frente de países da América do Sul, como Argentina, Peru e Venezuela. Formação é principal gargalo
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Brasil tem avanços expressivos em inovação e digitalização (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Brasil tem avanços expressivos em inovação e digitalização

O Brasil subiu quatro posições no Ranking de Competitividade Digital do IMD World Competitiveness Center (WCC), passando da 57ª para a 53ª posição. O avanço fez o País superar um período de estagnação observado nos anos de 2023 e 2024.

Para tanto, houve melhoria em três dos principais fatores avaliados: tecnologia, onde o Brasil subiu para a 58ª posição; conhecimento, onde passou para o 56º lugar e em prontidão para o futuro, onde o País chegou a 50ª posição, avançando três posições em relação ao ano passado.

Os resultados apontam para uma recuperação gradativa da competitividade digital do Brasil, tendo como principais impulsos os avanços em inovação, digitalização e capacidade de adaptação às transformações tecnológicas mundiais.

O ranking avalia 61 indicadores e incluiu na edição deste ano, três novas nações, chegando a 69: Quênia, Omã e Namíbia. A liderança passou a ser ocupada pela Suíça, que superou os Estados Unidos, principalmente por conta de seu desempenho em conhecimento, indicador no qual ocupa a 1ª posição. A terceira posição ficou com Singapura e quarta com Hong Kong. Na Europa, vale destacar ainda a Dinamarca, que aparece na 5ª posição geral.

Na América Latina, o Brasil aparece à frente de países como a Argentina, que aparece na 60ª posição, do Peru, na 64ª posição, e da Venezuela, na 69ª e última posição. Segundo a Fundação Dom Cabral (FDC), que é parceira do Anuário do IMD, responsável pelo ranking, “o Brasil tem avanços expressivos em inovação e digitalização, alcançando posições de destaque”.

O País teve sua melhor posição no indicador produtividade de publicações por pesquisas, onde ficou na 9ª colocação, e isso seria resultado do aumento no número de programas de fomento à ciência. Outro fator seria a aproximação entre universidades, centros de pesquisa, além de empresas.

“Esse movimento tem impulsionado o desenvolvimento tecnológico, ampliado a visibilidade internacional da produção acadêmica brasileira e estimulado a criação de soluções de alto valor agregado”, explica Hugo Tadeu, diretor do Núcleo de Inovação, IA e Tecnologias Digitais da FDC.

Outro indicador onde o Brasil aparece bem ranqueado é o do aumento nos investimentos privados em inteligência artificial, onde o País aparece na 16ª posição. Também vale destacar, conforme mostra o ranking, o número de robôs utilizados em educação e pesquisa e desenvolvimento, na qual o Brasil aparece na 17ª posição. Por fim, o ranking mostra que o País vai bem no uso de serviços públicos online e no uso de smartphones pelas famílias, ocupando em ambos os indicadores, a 19ª posição.

Mas existem gargalos importantes para que o Brasil deixe o terço final do Ranking de Competitividade Digital. Para Hugo Tadeu, “a universidade não consegue transferir a contento o seu conhecimento para as empresas. Se isso não for feito, não há inovação tecnológica que se sustente”.

“Do outro lado, tem uma questão importante de formação. Tem gente que acha que inteligência artificial é milagre. Que é só usar o ChatGPT. Mas inteligência artificial demanda infraestrutura, cibersegurança, análise de dados e, necessariamente, mão de obra qualificada”, observa.

Ele cita a correlação entre as dificuldades de mão de obra e a formação escolar. “A gente tem um apagão de mão de obra no Brasil para tecnologia, e esse apagão vem de algumas causas importantes, como o ensino básico”, pondera o pesquisador.

“Para se destacar no mundo da tecnologia, é preciso ser bom em matemática, em idiomas e em português. Se eu não for razoavelmente bom nisso, e não estou dizendo que é uma regra para tudo, é difícil cursar engenharia ou ciência da computação”, exemplifica.

Se eu não tenho gente boa em matemática e português, não consigo formar bons engenheiros nem profissionais da área técnica. Ou seja, se eu pegar bons cursos hoje da área de exatas, há pouca gente que entra, pouca gente que se forma e, lá na frente, nos programas de mestrado e doutorado, isso também se reflete”, conclui.

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FORTALEZA-CE, BRASIL, 10-04-2025: Reportagem sobre startups que participam do Programa de Aceleração Ceará Mais Digital. Na foto, Maxmuller Fernandes, da Acqualog, que está alocada no Condomínio de Empreendedorismo e Inovação da UFC. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo)
FORTALEZA-CE, BRASIL, 10-04-2025: Reportagem sobre startups que participam do Programa de Aceleração Ceará Mais Digital. Na foto, Maxmuller Fernandes, da Acqualog, que está alocada no Condomínio de Empreendedorismo e Inovação da UFC. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo)

Oportunidades e desafios do Ceará por competitividade

O amadurecimento da competitividade digital no Brasil também encontra no Ceará pontos de convergência.

O crescimento das startups, o avanço da infraestrutura de telecomunicações e a qualificação dos agentes de inovação são exemplos de boas práticas que, a cada ano, têm ganhado tração no Estado.

Ao mesmo tempo, descentralizar as fontes de financiamento do eixo Sul-Sudeste do país e aproximá-los de quem inova no Nordeste, assim, como ter uma política mais clara de ciência e tecnologia, são desafios maiores a serem superados no Nordeste, apontam especialistas ouvidos pelo O POVO.

Para Rafael Silveira, diretor de operações da Casa Azul Ventures, o Ceará mais ainda vive um momento de inflexão que o coloca em posição estratégica no mapa da inovação nacional.

"O que estamos vendo não é apenas a criação de novas startups, mas o amadurecimento de uma demanda reprimida", analisa Silveira.

Segundo ele, o empreendedorismo, historicamente forte na região, tem migrado para o modelo de startups e incorporado a lógica do Venture Capital como rota de crescimento. "Estamos testemunhando a transformação de bons produtos em negócios escaláveis e investíveis", acrescenta.

Nesse cenário, o Ceará desponta como um hub fundamental, capaz de conectar empresas tradicionais e novas soluções tecnológicas. "O Estado tem a chance de ser o principal catalisador da ligação entre inovação e mercado corporativo", afirma.

Para as empresas, isso significa acesso à inovação aberta e agilidade; para o ecossistema, representa a qualificação dos negócios e a atração de capital que antes se concentrava em outros eixos econômicos.

Contudo, para a diretora de operações do Ninna Hub, Gabriela Purcaru, o ambiente digital cearense ainda tem alguns pontos importantes a serem amadurecidos. Ela cita a necessidade de ampliação do volume e da diversidade de capital para startups em diferentes estágios.

"Também sentimos, na prática, a dificuldade de transformar pilotos em contratos recorrentes, por questões burocráticas ou por falta de processos maduros de inovação nas empresas. E o desafio de continuar amadurecendo o ecossistema corporativo para trabalhar inovação com visão de longo prazo, e não só em ações pontuais ou de marketing", complementa.

Já o coordenador do Iracema Digital, Mauro Oliveira, destaca que o Estado carece de uma política clara de ciência e tecnologia que se reflete, inclusive na ausência de dados. "Se você me perguntar qual é o PIB do TIC, de Tecnologia da Informação e Comunicação, lá de Pernambuco, eu entro aqui no site do Porto Digital e te respondo: R$ 8 bilhões no ano passado. Eu sou capaz de te responder qualquer coisa, porque está lá no site. Se você fizer a mesma pergunta para o Ceará, ninguém sabe", lamenta o pesquisador.

Para ele, essa falta de uma política clara pode gerar impacto na geração de empregos no setor.

"Os novos empregos que vão ser criados vão ser assumidos, sabe por quem? Pelos países que já estão envolvidos com as big techs: os chineses, os americanos e uma parte da Europa. E nós vamos ficar aqui nessa ilusão, que eu até chamo de 'entusiasmo do colonizado'".

"O cara recebe um data center desses sem nem analisar as consequências. Isso não é discutido com ninguém. É tomada uma decisão dessas sem chamar os acadêmicos, os pesquisadores... É um absurdo, sabe? Essa falta de uma política clara de ciência e tecnologia", conclui.

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Serviço

Feira do Conhecimento 2025 (FdC)

Quando: De 6 a 8 de novembro

Local: Centro de Eventos do Ceará

Entrada gratuita

Programação e inscrições: feiradoconhecimento.com.br

Conexão & Capital fomenta inovação aberta no Ceará

O Ceará reúne startups, empresas e investidores a partir de hoje com o início do Conexão & Capital 2025, evento que promove rodadas de negócios e conexões estratégicas voltadas à inovação e ao investimento em novos empreendimentos.

A programação segue até sábado, dia 8, no Centro de Eventos do Ceará, como parte da Feira do Conhecimento 2025, e deve reunir representantes de diferentes setores da economia criativa e tecnológica. A iniciativa é uma realização do Governo do Estado, por meio da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior (Secitece), em parceria com a Casa Azul Ventures, Ninna Hub e Instituto Atlântico.

A proposta é criar oportunidades para que empreendedores apresentem soluções tecnológicas a potenciais parceiros e investidores, fortalecendo o ecossistema de inovação e competitividade digital no Estado.

O formato das rodadas segue o modelo de "speed dating", em que os encontros de curta duração são definidos a partir do cruzamento entre o perfil das startups e as demandas de empresas-âncoras.

Entre os nomes confirmados estão M. Dias Branco, ArcelorMittal e Pague Menos, além de fundos de investimento e aceleradoras interessadas em identificar negócios escaláveis.

Rafael Silveira, diretor de operações da Casa Azul Ventures, explica que o Conexão & Capital funciona como um catalisador de liquidez para o ecossistema. "Em mercados de inovação emergentes, como o nosso, existe uma inércia natural que dificulta a conexão espontânea entre o capital e as boas teses de negócio. O evento cria um momento deliberado de alta densidade, forçando um alinhamento de foco: de um lado, investidores e corporações olhando para um portfólio curado de startups; do outro, empreendedores tendo acesso direto a tomadores de decisão. Essa 'parada forçada' é crucial para quebrar a inércia."

Ao longo dos três dias de programação, o evento deve fortalecer a rede de inovação do Estado e ampliar as oportunidades para o surgimento de novos negócios baseados em tecnologia.

A programação da Feira do Conhecimento 2025 (FdC) busca posicionar o Estado entre os principais polos de inovação do Nordeste. Dentre outras atividades, haverá a Mostra de Startups, com curadoria do hub Corredores Digitais, reunindo iniciativas que nasceram no Estado e hoje ganham visibilidade no mercado nacional.

Já o Ceará Awards, em sua quarta edição, reconhece os protagonistas da inovação, premiando pessoas e instituições que impulsionam o desenvolvimento tecnológico e criativo cearense.(Mariah Salvatore/Especial para O POVO)

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O ranking mostra que o País vai bem no uso de serviços públicos online e no uso de smartphones pelas famílias, ocupando em ambos os indicadores, a 19ª posição

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