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Tragédia grega revisitada
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Tragédia grega revisitada

| Clássico do teatro | Texto de Arthur Miller marca o encontro de duas gerações de atores em turnê nacional que chega a Fortaleza neste fim de semana
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Clássico do teatro marca o encontro de Rodrigo Lombardi e Sérgio Mamberti em turnê nacional  (Foto: Ale Catan)
Foto: Ale Catan Clássico do teatro marca o encontro de Rodrigo Lombardi e Sérgio Mamberti em turnê nacional

Com uma história cujo cenário são as docas de Nova Iorque na metade do século XX, Um Panorama Visto da Ponte é um caminho até o âmago da tragédia. Explora as paixões do homem, a ideia de delação, as questões de imigração, e, acima de tudo, a pulsão do amor e da morte, em diálogos fortes e, ao mesmo tempo, tão comuns. No espetáculo, os atores Rodrigo Lombardi e Sérgio Mamberti se encontram para viver o drama familiar de imigrantes italianos em Nova York. A montagem chega a Fortaleza neste fim de semana, em duas apresentações, no Teatro RioMar Fortaleza.

Um Panorama Visto da Ponte, texto escrito pelo dramaturgo Arthur Miller, tem como narrador-personagem o advogado Alfieri (Sérgio Mamberti). É ele quem nos apresenta a história de um casal de imigrantes italianos, Eddie Carbone (Rodrigo Lombardi) e Beatrice (Patricia Pichamone). Os dois criam a sobrinha órfã Catherine (Gabriella Potye) no Brooklin. O conflito surge quando a família recebe dois primos italianos de Beatrice - Marco e Rodolfo - ambos imigrantes ilegais nos EUA. A partir deste encontro, não apenas o "sonho americano" da família se vê ameaçado, mas também diferentes emoções, antes escondidas, levam Eddie a tomar uma atitude extrema.

Com direção de Zé Henrique de Paula, o enredo ganhou montagem no Brasil pela segunda vez. A primeira foi em São Paulo, no Teatro Brasileiro de Comédia, em 1958. Com direção de Alberto d'Aversa, o resultado da estreia no País foi uma "montagem histórica", como avalia o ator Sérgio Mamberti. Ele era garoto, ainda estudante da Escola de Arte Dramática, quando acompanhou os ensaios e a estreia da peça. Há seis décadas, o texto de Arthur Miller já expunha conflitos morais envolvendo a delação e a questão imigratória. Hoje, ele ressurge ainda mais atual.

"É um texto que já tem quase 70 anos, e, embora ele trate de assuntos muito pertinentes à sua época, tem grande maestria em se comunicar com as gerações atuais", considera Zé Henrique. Ele também aponta que uma dos aspectos da tragédia grega (a criação de uma relação de empatia entre o protagonista e o espectador) é um dos traços marcantes do espetáculo. "A gente se coloca no lugar desse herói trágico, sofre junto, se identifica com suas dúvidas, incertezas. É o drama do Eddie, mas também poderia ser de qualquer um de nós", completa.

O espetáculo, que estreou no segundo semestre de 2018, investe na força do texto, das palavras e dos personagens. O cenário, feito de paredes e contêineres, é um trabalho do cenógrafo Bruno Anselmo, que imerge na atmosfera de Nova Iorque dos anos 1950 e no contexto do Brooklyn, bairro onde Eddie vive com a família. A composição, mais sugestiva do que propriamente visual, concentra cores e formas frias que, para o diretor "são um contraponto com as paixões e sentimentos intensos que giram em torno dos personagens da narrativa".

De tom inconfundível, é a voz de Sérgio Mamberti, intérprete de Alfieri, que nos apresenta a complexa situação proposta no drama de Arthur Miller. "Tive um grande prazer em fazer esse personagem, porque ele apresenta uma interação muito direta com o público, antecipa alguns fatos e impulsiona toda a história", pontua Sérgio. O ator, que acaba de completar 63 anos de trajetória profissional, deverá lançar, em breve, um livro a partir de suas memórias, além de já estar planejando novas montagens para o segundo semestre deste ano.

Sérgio avalia que o sucesso da peça sintetiza um momento de maturidade para o ator Rodrigo Lombardi, que, em parceria com o trabalho de direção de Zé Henrique, "conferiu novos tons à tragédia clássica do século XX e conseguiu imprimir nessa versão uma marca de intensidade imediatamente reconhecida pelo público". Um Panorama Visto da Ponte é uma peça em dois atos escrita inicialmente em 1955 e reescrita em 1956. O espetáculo, depois da passagem por Fortaleza, também terá apresentações em Recife, Novo Hamburgo e Porto Alegre.

Um panorama visto da ponte

Quando: sábado, 26, às 21h, e domingo, 27 às 20h 

Onde: Teatro RioMar Fortaleza. Rua Desembargador Lauro Nogueira, 1.500 - Shopping

RioMar

Quanto: De R$ 100 a
R$ 140 (inteira)

Informações: (85) 3066 2000 

No cinema

As três mais importantes peças de Arthur Miller ganharam adaptações para o cinema. Além de A morte de um caixeiro viajante (1951) e As Bruxas de Salém (1996), o texto clássico de O Panorama Visto da Ponte se tornou filme em 1961, sob direção de Sidney Lumet (12 Homens e uma Sentença). Jean Sorel, Maureen Stapleton, Raymond Pellegrin fizeram parte do elenco.

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