João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
Maria Bethânia é de Iansã e Oxum. Canta também, entre outros, Iemanjá - celebrada neste 2 de fevereiro - e relaciona-se ainda com outros orixás, santos, pajés, erês, rosários e cordões de Gandhi. "Tudo que tem força positiva", afirma a cantora a dada altura do documentário Fevereiros, dirigido por Marcio Debellian. A obra parte do vitorioso enredo que a escola de samba Mangueira fez em 2016 sobre a cantora baiana para criar um retrato de cultura e crença do Brasil. A estreia em Fortaleza está marcada para a próxima quinta, 7, no Cinema do Dragão.
Sob o título A Menina dos Olhos de Oyá, o samba cantado pela escola trouxe a religiosidade da artista, que teve criação católica na infância e posteriormente enveredou pelas crenças afro brasileiras. O filme traz audiovisualmente as mesmas questões, mostrando, sim, os preparativos do desfile e a vitória de fato, mas também os festejos religiosos dos quais Bethânia participa anualmente em Santo Amaro da Purificação, sua cidade natal.
Formalmente, o filme não inventa, sendo baseado em registros e entrevistas de arquivo ou mais recentes - o trabalho merece destaque por mostrar registros de Bethânia com Chico, os Doces Bárbaros e outros momentos. É em termos de conteúdo, porém, que o documentário se sobressai justamente por, ao mostrar cenas da protagonista em meio aos festejos - religiosos e do Carnaval -, dar espaço para ouvir a ela e a figuras como os irmãos Caetano Veloso e Mabel Velloso e o cantor e compositor Chico Buarque.
As ideias colocadas nos discursos destes e de outros entrevistados são, ao mesmo tempo, simples e de tamanha riqueza. O carnavalesco da Mangueira, Leandro Vieira, justifica em dada cena a escolha do enredo: Bethânia traz em si "um Brasil que vale a pena, esse Brasil regional, um Brasil nordestino, baiano, de interior, um Brasil com cara de Brasil". Questões como essas relacionadas à reflexão da identidade do País permeiam Fevereiros - da mesma forma que constróem, como Leandro coloca, a própria cantora.
É Bethânia, inclusive, quem melhor resume a linha narrativa do filme em si, mesmo que referindo-se à vitória da Mangueira naquele Carnaval de 2016. Para ela, foi "muito grande" que a escola tenha sagrado-se campeã a partir "da minha história, da história do meu orixá, da minha cidade". É precisamente por tais histórias, enfim, que Fevereiros consegue esboçar esse registro que fala de episódios marcantes da música, da cultura popular e da religiosidade brasileira.
Outros documentários
Maria Bethânia: Música é Perfume
de Georges Gachot
Documentário sobre a cantora produzido a partir dos 40 anos de carreira da artista. Há depoimentos de Nana Caymmi, Miúcha e outros
Maria Bethânia - Pedrinha de Aruanda
de Andrucha Waddington
Documentário celebratório pelos 60 anos de vida da artista, festejados em Santo Amaro da Purificação
Saravah
de Pierre Barouh
Registros da música brasileira feitos pelo cineasta que mostram Bethânia e nomes como Paulinho da Viola, Pixinguinha, Baden Powell e Clementina de Jesus
Bethânia Bem de Perto - A Propósito de um Show
de Júlio Bressane e Eduardo Escorel
Filme de 1966 que mostra o início da carreira de Bethânia em sua chegada ao Rio de Janeiro para substituir Nara Leão no espetáculo Opinião
Os Doces Bárbaros
de Jom Tob Azulay
Documentário que mostra o grupo Doces Bárbaros, formado por Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa
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