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Memórias de uma pioneira
Vida & Arte

Memórias de uma pioneira

| casa do barão de camocim | Após seis anos recolhido em um depósito, acervo de Sinhá D'Amora será exposto em memorial dedicado à artista cearense. Abertura do espaço será na próxima sexta-feira, 8
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EXPOSIÇÃO SINHÁ D'AMORA - QUADROS RESTAURADOS
 (Foto: REPRODUÇÃO)
Foto: REPRODUÇÃO EXPOSIÇÃO SINHÁ D'AMORA - QUADROS RESTAURADOS

"Deveria continuar a brincar com os pincéis, mas levando aquilo a sério...". A declaração foi dada pelo pintor espanhol Pablo Picasso quando viu a artista cearense Sinhá D'Amora trabalhando nas praças de Florença. Natural de Lavras da Mangabeira, na região do Cariri cearense, ela cruzou o oceano para estudar na Itália e na França. Fez exposições, assistiu aulas, conversou com artistas, pintou diariamente e, ao fim, trouxe seu conjunto de quadros e objetos ao Ceará. O acervo poderá ser visitado em exposição a partir de sexta-feira, 8, no memorial dedicado à artista montado no Centro Cultural Casa do Barão de Camocim. São telas feitas por ela e por outros pintores, móveis, fotografias e comendas que contam a história de Fideralina Corrêa de Amora Maciel.

Foi da própria artista a ideia de ter um espaço dedicado à produção que construiu ao longo da vida. Pouco antes de morrer, em 2002, ela cedeu seu precioso acervo ao poder público. Até 2013, as peças ficaram em exposição permanente no Memorial Sinhá D'Amora - que funcionou no Centro de Referência do Professor. Mas o prédio que abrigava as lembranças da artista foi transferido da Prefeitura de Fortaleza para o Banco do Nordeste e o material ficou sob guarda da da Coordenação de Patrimônio História e Cultural (CPHC), da Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor). A reabertura do espaço é "uma alegria e uma vitória", explica Olavo Correia Lima - sobrinho da artista que tentava disponibilizar o acervo ao público novamente havia seis anos. "Estava tudo trancado e o prejuízo era da população de Fortaleza, que não tinha acesso a essa artista maravilhosa, que é Sinhá D'Amora. Eu estarei lá na abertura para aplaudir", pontua Olavo, referindo-se à cerimônia de inauguração do novo espaço de artes. 

"A importância maior de Sinhá D'Amora nas artes está no seu pioneirismo. Penso que foi a primeira artista mulher cearense que de certa maneira se destacou fora do nosso Estado. Isto em uma época onde não existia a divulgação midiática de hoje", explica o artista visual Bruno Pedrosa. Ele lembra que a artista passou boa parte da vida fora do Ceará, mas jamais abandonou suas raízes e as obras produzidas por ela estavam sempre ligadas a temáticas local. "Era uma artista que embora não tivesse um talento inovador e criativo dos grandes mestres, lutou toda uma vida com total dedicação e grande amor pela arte e deixou um sinal na história das artes do nosso Estado. Ao leigo que visita o memorial tem esta mensagem de preservar a memória da nossa cultura artística", aponta Bruno, que reside atualmente na Itália.

O POVO teve acesso antecipadamente ao espaço dedicado ao memorial. Dividida em cinco salas, a exposição conta a história dessa cearense pouco conhecida do público - mas apreciada nos circuitos artísticos. Antonio Vieira, curador do memorial, explica que cada espaço foi pensado para contar uma fração da história da pintora. A primeira sala tem um ateliê de prática; a segunda, obras de temática cearense; a terceira sala reúne obras feitas em viagens; a quarta abriga móveis e honrarias recebidas pela artista ao longo da carreira; e a quinta tem uma remontagem do ateliê onde Sinhá D'Amora trabalhava.

"A importância dela é inegável", afirma Antonio - que é licenciado em Artes Visuais e conservador de obras. Ele, que conhecia a obra da artista apenas através de aulas, teve a oportunidade de mergulhar no pomposo acervo. A missão difícil, explica, foi priorizar quais artefatos deveriam entrar na exposição e quais continuariam sob guarda da Secultfor na reserva técnica. Para o memorial foram levados 13 quadros e 59 honrarias - incluindo a Medalha José de Alencar (1973), os diplomas da Sociedade Brasileira de Belas Artes e o primeiro quadro feito por Sinhá D'Amora. 

Memorial Sinhá D'Amora

Abertura: Sexta-feira, 8, à 19 horas

Onde: Centro Cultural Casa do Barão de Camocim (Rua General Sampaio, 1632 - Centro)

Visitação de terça a sexta-feira, das 9h às 19 horas, e aos sábados e domingos, das 10h às 17 horas

Entrada gratuita

Memorial

A primeira sala do memorial terá materiais de arte para que jovens pintores e curiosos possam praticar. O espaço foi criado considerando o interesse de Sinhá D'Amora de incentivar artistas

Rodas de Chá

Sinhá D'Amora promovia encontros entre artistas em suas famosas "Rodas de Chá" - e viabilizava a ida de jovens pintores para o exterior. O incentivo à prática alheia se tornou uma de suas marcas ao longo da vida

Casamento

Ela foi casada com o escritor e advogado Amora Maciel, um de seus principais incentivadores. Ele custeou os estudos dela na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. O casal optou por não ter filhos, assim, Sinhá D'Amora poderia viajar sozinha para o exterior e fazer seus estudos nas escolas de arte.

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