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E o Pré-Carnaval, quem é que faz?
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E o Pré-Carnaval, quem é que faz?

| MEMÓRIA | Vida&Arte revisita acervo dos 30 anos de história para seguir a ascensão e fortalecimento da folia pré-carnavalesca de Fortaleza
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A saída do Luxo da Aldeia do Benfica, que foi palco do grupo por oito períodos pré-carnavalescos, foi notícia em 14 de janeiro 
de 2015 (Foto: O POVO.doc)
Foto: O POVO.doc A saída do Luxo da Aldeia do Benfica, que foi palco do grupo por oito períodos pré-carnavalescos, foi notícia em 14 de janeiro de 2015

A pergunta-título desta matéria faz referência à uma música de 2009 da banda BaianaSystem e composta por Lucas Santtana. Em O Carnaval Quem É Que Faz?, ao descrever as cenas de rua, sons e multidão típicas da popular festa, o compositor ensina: "O Carnaval, quem é que faz? / O C arnaval ainda quem faz é o folião". A certeira resposta diz muito, também, do histórico do período pré-carnavalesco de Fortaleza.

Em matéria publicada no Vida&Arte em 27 de janeiro de 1989, apenas o quarto dia da história do caderno, já se trazia essa noção ao falar que a folia da época na Capital revelava "a garra dos que amam este período momino, sem patrocínio e contando somente com a alegria e descontração dos foliões". Os blocos que ganharam tal descrição foram o Periquito da Madame e o Que Merda É Essa?, dois dos precursores da festa em Fortaleza.

Criado por Jânio Soares, o Periquito é referenciado por muitas das principais figuras da folia fortalezense como o primeiro Pré-Carnaval, antes mesmo do termo indicar um conceito hoje aderido pelos fortalezenses. O bloco surgiu na década de 1980 como forma do fundador de relembrar a memória do pai e estimular a permanência das pessoas em Fortaleza durante o período carnavalesco. "Bem antes, meu pai fez um bloco entre famílias com um português na rua Senador Pompeu (onde Jânio nasceu), e deu o nome de Periquito da Madame por causa de uma música que foi censurada. O bloco andava no quarteirão. Ele morreu e passou", rememora o fundador, hoje com 78 anos.

Entre o final dos anos 1970 e o começo dos 1980, Jânio reparava que as pessoas deixavam a Cidade na época carnavalesca. "Em 1980, eu disse que ia refazer o bloco (do pai) e fiz uma pesquisa com amigos, mas era sempre 'vou viajar pra Recife, Aracati, Paracuru', ninguém ficava aqui. Aí eu decidi fazer (a festa) três sábados antes, convidei os amigos e fizemos o bloco. O primeiro ano foi um sucesso", conta. "A gente se juntava na Praia de Iracema e saía sem incentivo nenhum, foi só depois que a Prefeitura deu", complementa.

Com o Periquito já se sedimentado na cultura foliã da Capital, novas festas se somaram. O Que Merda É Essa?, inclusive, é citado por Jânio como fruto do incentivo que ele dava aos amigos para também criarem blocos. Nos anos 1990, surgiram agrupamentos icônicos do carnaval de Fortaleza, como o Unidos da Cachorra, que começou em 1997 no Benfica e hoje ocupa a Praia de Iracema, e o Quem é de Bem Fica, que surgiu em 1994.

Este último foi criado por Dilson Pinheiro, que atualmente puxa o Não Ispaia Se Não Ienche - que sai hoje, às 18 horas, no Pólo da Mocinha. Para ele, porém, o contato com o ciclo carnavalesco havia se dado ainda antes, ainda na década de 1980, quando participou do Bandão de Iracema e do Que Merda É Essa? "Como folião mesmo - eu gostava muito!". "O Bem Fica foi uma iniciativa minha e dos meus amigos e durou até 2000", calcula, entre períodos de apoio da Prefeitura e da iniciativa privada. Foi pouco antes do fim deste que Dilson criou o Num Ispaia SiNão Ienche, em 1998.

"O Num Ispaia saía no Carnaval mesmo, ali de uma área vizinha à Mocinha e indo até o Cais Bar. Depois que o Bem Fica acabou, ele foi para o pré", contextualiza. Para Dilson, que fez e viu muita história da folia na Cidade, o lugar que as festas alcançaram hoje é reconhecido pelo poder público e pela população. "É sempre desafiador, é uma festa grande, e a gente prima por qualidade. Felizmente a Prefeitura vem reconhecendo, criando editais, novos blocos vêm surgindo. Isso faz a diferença, o poder público resolveu fomentar o que já existe. A Mocinha, por exemplo, já existia, mas virou um pólo oficial", ilustra. Dilson ainda ressalta a importância da diversidade que virou marca do Pré-Carnaval na Cidade. "Nem todo mundo gosta da música de Carnaval, aí tem as tribos para as pessoas que preferem outro tipo de som. Esse leque mais aberto favoreceu. Se quiser funk, tem. Samba, tem, rock, tem", afirma.

Lembrando dos tempos de início do pré, Jânio aponta que a "propaganda oficial" do poder público era a de que Fortaleza era a cidade do descanso no Carnaval. Com o tempo, no entanto, isso mudou. "A Prefeitura viu que era uma atração, turística inclusive. Tenho amigas da Bahia, do Rio, que vinham para cá brincar o pré e depois voltavam, levavam a camisa do Periquito", exemplifica. "Hoje, o Pré-carnaval é mais animado que o Carnaval", opina, para depois avisar: "O Periquito tá voltando com toda a força!". Nos próximos dois sábados, 16 e 23, a banda do Periquito da Madame sairá no Bar do Mincharia, às 17 horas. O Pré-Carnaval ainda quem faz é o folião.

Programação

Blocos Unidos da Cachorra, Baqueta, Bonde Batuque, Cheiro, Camaleões do Vila, Afoxé Omôrisá Odé e Roberta Fiúza

Quando: hoje, às 17 horas

Onde: Aterro da Praia de Iracema (av. Historiador Raimundo Girão, 800)

Num Ispaia Sinão Ienche

Quando: hoje, às 18 horas

Onde: Mocinha (rua Padre Climério, 140)

Periquito da Madame

Quando: dias 16 e 23,
às 17 horas

Onde: Bar do Mincharia (rua dos Pacajus, 5)

Confira mais opções do Pré-Carnaval de Fortaleza na coluna Vumbó (pág. 2) e também em opovo.com.br/vidaearte e nas nossas redes sociais

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