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A fábrica de versos de Manoel de Barros
Vida & Arte

A fábrica de versos de Manoel de Barros

| itaú cultural | São Paulo reserva espaço para lembrar a obra do poeta da memória. Exposição mergulha no processo criativo dos versos e reúne acervo pessoal do escritor
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Ocupação Manoel de Barros fica em cartaz até 13 de abril no Itaú Cultural, em São Paulo (Foto: fotos Divulgação/Itaú cultural)
Foto: fotos Divulgação/Itaú cultural Ocupação Manoel de Barros fica em cartaz até 13 de abril no Itaú Cultural, em São Paulo

Encravaram um pedaço do Mato Grosso do Sul no meio do coração taquicárdico paulistano. O talento literário de Manoel de Barros (Campo Grande, 1916-2014) respinga pelos manuscritos em papel rústico, cadernos minúsculos feitos por ele mesmo, áudio, vídeo e letras garrafais na parede do Itaú Cultural, na Avenida Paulista. A ocupação que leva o nome do poeta fica em cartaz até 7 de abril.

A mostra se dedica a contar os bastidores do verso. Quer apresentar o processo criativo do homem que gostava de fazer os próprios caderninhos. A visita é um verdadeiro passeio pela cozinha do mestre. Para quem só via seus bolos de palavras prontos e confeitados, não deixa de ser inspirador espiar o preparo da massa, fermentada pelo narcisismo, como ele costumava dizer, salpicados de lembranças da infância e com pitadas de inúmeras tentativas de busca pela rima ideal.

"Repetir, repetir, repetir até ficar diferente", dizem as letrinhas miúdas apertadas numa das páginas das cadernetas caseiras, feitas de sobra de papel. O perfeccionista Manoel de Barros lembra que a arte da escrita é sofrida até para os maiores nomes, como ele. A relação com a filha Martha de Barros, que hoje vive no Rio de Janeiro, também está por todo lado na exposição.

Manoel costumava trocar cartas e enviar mensagens com frases que achava inspiradoras ou divertidas. Eram sugestões para colocar em quadro na sala, por exemplo. "A Elegância e o Branco devem muito às garças", escreveu num papel para Marthinha, como costumava chamar a filha.

"Tenho em casa uma biblioteca com as cartas, fotos e todo o material literário de meu pai, mas foi necessário fazer uma longa busca e organização para a exposição", conta a filha e artista Martha, cujos quadros ilustraram livros assinados por Manoel. As telas originais também podem ser vistas na mostra. "Desejo que esse esforço de todos faça as pessoas lerem mais, pois a melhor maneira de conhecer um poeta e a sua obra é lendo", afirma.

A expografia, pensada pela artista Adriana Yazbek, levou em consideração um das marcas de Manoel de Barros: o reaproveitamento. As paredes e os cartazes eram feitos de papel reciclado. Reuso: como ele tanto fazia com frases e cadernetas. Num espaço colorido, cercado de recortes geométricos e um quê lúdico, um telão exibe frases do escritor. As primeiras edições de obras também estão ali. Os rascunhos datam de 1937, antes mesmo da publicação de sua primeira obra.

"O coração da exposição são os caderninhos. Encontramos mais de 100 deles, acabamos trazendo seis para cá. Ele fazia diversa vezes a mesma frase. Repetia até ficar de uma forma perfeita. Fazia desenhos, rasuras. Usava o cantinho das páginas", aponta a produtora da ocupação, Elaine Lino. Ela explica ainda que a escolha do poeta que não gostava de ser chamado de "pantaneiro" (porque, segundo ele, não falava do Pantanal em suas obras) foi a busca por joias fora do eixo Rio de Janeiro - São Paulo.

No dia da inauguração da exposição, 13 de fevereiro, o público passou de mil pessoas. Segundo a organização, a quantidade de visitantes passou da média de exposições similares. Esta é 43ª ocupação promovida no Espaço Itaú Cultural. Antonio Candido, Conceição Evaristo, Hilda Hilst, Mário de Andrade, Nelson Rodrigues, Haroldo de Campos e Paulo Leminski já foram contemplados na série.

Para quem não pode ir até São Paulo, a fundação preparou um hotsite (espaço virtual) especial só para a mostra. Nele, há entrevistas e depoimentos de amigos e admiradores, entre eles, da escritora e apresentadora Bianca Ramoneda, da atriz Cássia Kiss, do jornalista Carlos Savaget, do neto Felipe Barros de Escobar, além dos biólogos Hugo Aguilaniu, Nurit Bensusan, Bruss Lima, do Instituto Serrapilheira, no Rio. Fã de Manoel de Barros, o escritor angolano Mia Couto também aparece no site.

Ocupação Manoel de Barros

Em cartaz até 7 de abril

Horários de visitas: De terças a sextas-feiras, das 9h às 20 horas; sábados, domingos e feriados, das 11h às 20 horas

Onde: Itaú Cultural - Piso térreo (Av.Paulista, 149 - São Paulo)

Gratuito

multimidia

Entrevista com a filha de Manoel, Martha de Barros:
https://www.youtube.com/watch?v=moM6BGTnzlY&feature=youtu.be

Trechos de vídeos de escritor:
http://canal.itaucultural.org.br/embed/q1A7xJK67P
http://canal.itaucultural.org.br/embed/abAVlQkeGx

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