Talvez você já tenha se deparado com esse tipo de imagem e, talvez, tenha dado algumas frações a mais de segundos a ela. O que não é convencional, tende a impactar, mesmo que quase indolor, na correria de um feed agitado, por exemplo. A forma como consumir imagens na Internet, mudou. É só pensar na existência do Instagram. Sua vitrine online? Sua, à sua maneira, e dos outros, pessoas físicas, jurídicas, artistas. A geração e a forma como os designers, principalmente de moda criam hoje, influenciado pela rede, também mudou. Captam a beleza de um instante, com a máxima e todo o potencial que a força de uma imagem tem. Transformado-a em extraordinária.
O trabalho cearense de Camila Scarlazzari, 22, é sensível a este olhar. Ela é designer de moda por formação, que se descobriu, no meio do caminho, artista. Ela brinca com o imagético. Ela nos faz ver pelo olhar do outro, em uma construção própria que diz dela, da moda e suas novas conexões (mosaicas, permitindo ao indivíduo, na sociedade do consumo - hiper midiática -, assumir várias identidades), como também de quem a favorita na prateleira da rede social. "Cresci entre sessões de fotografia de moda, montagens de exposições e sets de filmagem", conta Camila, filha de mãe fotografa e pai formado em belas artes. "Eles sempre tiverem um olhar muito sensível para tudo e sempre instigaram isso em mim. Relutei um pouco até entender que algumas ideias poderiam ser comunicadas por meio da linguagem não verbal", compreende hoje.
Seus passos pelas artes visuais começaram bem tímidos, durante a faculdade de moda. "Foram nas aulas de Projeto que entendi que era possível apropriar sentidos à matéria, capaz de afetar quem observa. E afetar a mim, como artista criadora. Entendi que muita coisa vem de dentro, vem do inconsciente. E foi no meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) que entendi como eu poderia transformar uma matéria em outras mil coisas, em outras mil histórias. Foram diversas tentativas de expressão, experimentação e controle", conta ao Vida&Arte.
Suas colagens se iniciaram como uma extensão de seu próprio inconsciente. Ser e estar no mundo. "O corpo feminino sempre esteve muito presente no meu processo. O corpo não apenas como um agregado de órgãos, mas como um corpo ser de símbolos - uma estrutura simbólica que faz parte de uma construção cultural de uma sociedade". A moda? Faz parte. Para Camila, ela intensifica o poder do homem em se recriar e em se expressar. "O corpo é uma mídia comunicativa cada vez mais sensível. Explorar e experimentar as diferentes possibilidades de composição, matéria, arranjos faz parte do meu trabalho como artista visual. Trazer um novo significado para o óbvio e para aquilo que talvez tenha perdido o seu real significado no caminho", se desafia.
A leitura de seus trabalhos, que continua no Behance, onde reúne todo seu acervo criativo, e de outros artistas nesta linha contribui para um despertar. É porta de entrada ao novo, revisitado e reordenado, em uma sequência intuitiva, parte de uma criação particular, que se doa ao mundo, como as coleções assinadas por estilistas, uma vez apresentadas na passarela, do mundo. "Enquanto somos bombardeados o dia todo por milhares de novas imagens e informações, perdemos um pouco nossa capacidade de contemplação. A possibilidade de criar uma nova narrativa sobre algo que já existe e instigar essa contemplação, uma pausa, uma reflexão ou uma nova interpretação, são os objetivos do meu trabalho como artista visual", diz Camila que, para alcançá-los, procura "ocupar terrenos baldios, na tentativa de transformar algo que já existe em algo novo. Contar uma nova história". Consegue.
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Para Lucas Jansen, moda e design caminham lado a lado. "É o que tento refletir", relaciona. No Instagram, ele lança o @byjansenart, onde reúne seu custom digital arts, com colagens que trazem tendências. "Antes do brilho voltar à moda, muitos artistas de colagem digital vinham trazendo esse recuso para seus trabalhos", observa o artista. O trabalho dele, como de outros com a mesma pegada, vai além da interação online, provando que moda e design não só se interligam em uma expressão visual, como também são parte de um lifestyle. "No início, as artes eram apenas digitais, mas surgiu um grande interesse dos seguidores por verões físicas delas, e logo as artes digitais também viraram quadros", diz.
Diálogos possíveis
As estampas de Lucas Santiago (@_lucartes_), designer de superfície, te levam a um paraíso. Ele se utiliza das colagens para dar vida a cenários ricos em cor e em elementos da natureza. Além de estampas mais gráficas, ele também mantém o trabalho autoral acima. "As colagens sempre foram algo presente na minha vida", conta Lucas, que começou profissionalmente há cerca de seis anos.