Logo O POVO+
As damas da subversão
Vida & Arte

As damas da subversão

A escritora Juliana Diniz comenta a biografia de três mulheres que, muito antes da instituição do 8 de Março, já lutavam pela consciência de gênero e por uma concepção igualitária de liberdade
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Emmeline Pankhurst (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Emmeline Pankhurst

Na comemoração mundial do dia 8 de março, é costume oferecer botões de rosa às mulheres em homenagem à sua delicadeza e suavidade. Muitos ignoram que a história da data remete a um enredo de agitações inspiradas por damas de forte gênio, politizadas e indóceis. É o caso de Olympe de Gouges, Elizabeth Stanton e Emmeline Pankhurst.

Essas três pensadoras guardam um traço comum em sua biografia. Notáveis damas da subversão, elas organizaram a insurgência de milhares de mulheres insatisfeitas com a negação de sua cidadania, despertando gerações para a consciência de gênero e para a luta política. Foram as idealizadoras de táticas originais de desobediência civil: os atos públicos que articularam serviram de inspiração futura tanto para a militância do sindicalismo como do movimento em defesa dos direitos civis na segunda metade do século XX.

Nascida em 1748, Olympe de Gouges é uma das protagonistas da revolução na França. Escreveu inúmeros panfletos, além de uma extensa obra teatral. Revoltou-se quando a primeira constituição da república diferenciou os cidadãos franceses pelo sexo, condenando a mulher à passividade da obediência. Em ato de insubordinação, redigiu em 1791 a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, instando as mulheres a exigir sua liberdade. Como resposta, foi guilhotinada pelos jacobinos em 1793, acusada de incitação à desordem.

Elizabeth Stanton também despertou para uma militância de gênero quando, engajada na luta abolicionista, foi impedida de participar, por ser mulher, de uma convenção contra a escravidão. Sentindo-se humilhada, dedicou-se a articular associações de mulheres norte-americanas que se mobilizaram na luta sufragista. Em 1848, a Convenção de Seneca Falls, idealizada por Stanton, definiu o pioneirismo de um discurso a favor dos direitos da mulher. Seu impacto garantiu uma série de conquistas legais que culminaram na edição da décima nona emenda à constituição americana.

Emmeline Pankhurst ganhou notoriedade na Inglaterra de fins do século XIX quando reuniu inúmeras ativistas, a maioria de origem operária, numa luta sufragista ruidosa, marcada por atos de agitação. Os atos das sufragettes envolviam a organização de passeatas, ataques a bomba e a interrupção de oradores em suas manifestações públicas. Sua mobilização levou ao inevitável reconhecimento do direito ao voto feminino no país em 1918 depois de anos de violenta repressão policial.

Um ano antes, em 8 de março de 1917, milhares de mulheres se reuniram em Petrogrado para protestar contra a opressão no trabalho e a fome. Sua marcha foi o estopim da revolução russa, que mudou o equilíbrio de forças do mundo. As anônimas de Petrogrado se guiaram por uma ideia comum ao discurso de De Gouges, Stanton e Pankhurst: mulheres têm direito de se integrar à política e participar da decisão de seu destino. As precursoras do 8 de março transformaram a democracia representativa do século XX através da ampliação do conceito de cidadania e da defesa de uma concepção igualitária de liberdade. Seu caminho, ainda inspirador para mulheres de todo mundo, foi de poucas flores e muita revolta.

O que você achou desse conteúdo?