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Aos 60 anos, Barbie se reinventa e não sai de moda
Vida & Arte

Aos 60 anos, Barbie se reinventa e não sai de moda

Com 60 anos completos em 2019, Barbie renova-se construindo imaginário feminino e influenciando comportamentos de diversas gerações
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DIVERSIDADE - A nova linha Barbie Fashionistas, lançada recentemente pela Mattel, vem com versões da boneca que a inclui na cadeira de rodas e com prótese na perna. A novidade também traz uma variedade de tons de pele, estilos de cabelo e de moda, claro (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação DIVERSIDADE - A nova linha Barbie Fashionistas, lançada recentemente pela Mattel, vem com versões da boneca que a inclui na cadeira de rodas e com prótese na perna. A novidade também traz uma variedade de tons de pele, estilos de cabelo e de moda, claro

A empresária norte-americana Ruth Handler observava sua filha Barbara brincar com bonecas de papel quando teve uma ideia que revolucionou o mercado de brinquedos e também da moda: criar um modelo inspirado em uma mulher adulta como estrelas hollywoodianas. Em 9 de março de 1959 nascia, assim, a Barbie. Com 58 milhões de exemplares vendidos anualmente em mais de 150 países, a boneca mais famosa do mundo completa 60 anos suscitando debates sobre a construção do imaginário feminino e influenciando comportamentos de gerações em diferentes sociedades.

Trajando maiô tomara-que-caia listrado em preto e branco, a primeira Barbie já exibia as medidas inatingíveis ainda hoje associadas à boneca: seios fartos, cintura fina e pés pequenos, irreais para uma mulher adulta. Além das importantes problematizações sobre o histórico reforço da companhia Mattel aos excludentes padrões de beleza, no entanto, a Barbie sempre foi vanguardista - em 1980, ela ingressou de vez no mercado de trabalho e já teve mais de 200 profissões, de chef de cozinha a desenvolvedora de video games. O primeiro avanço ocorreu ainda na década de 1960, quando a Barbie astronauta explorou o espaço quatro anos antes do homem pisar na Lua. Já em 1992, quando nenhuma mulher havia concorrido ao cargo nos EUA a Barbie presidenciável foi lançada.

"A Barbie é uma via de mão dupla: ela influencia e também é influenciada. Ela se tornou esse ícone de mulher magra, loira e rica que tem um namorado maravilhoso (o Ken), então se cria toda uma aura em torno dela que estimula que as crianças sejam aquilo com esse slogan de 'Você pode ser tudo o que quiser'. Nos últimos 15 anos, entretanto, a gente tem uma mudança no padrão da Barbie. Primeiro, começaram a surgir Barbies asiáticas e negras, que já denotam um reconhecimento da diversidade. Agora, mais recente, o empoderamento feminino também afetou a boneca. A Mattel compreende que precisa acompanhar a mudança cultural, então não dá pra ficar reforçando aquela mulher dos anos 1960 se as demandas sociais hoje são outras", argumenta a professora do Curso de Design de Moda da UFC, Francisca Mendes. Ela acredita que a Barbie é a junção de todos os elementos da sociedade de consumo e alerta sobre os perigos do fetiche da mercadoria tão ressaltados pela publicidade infantil, mas vê nessa constante atualização uma das causas das seis décadas de sucesso do brinquedo.

As variações de tons de pele, formatos de corpos e nacionalidades da Barbie são reflexo de um longo processo de transformação na sociedade - e, consequentemente, no público consumidor. A primeira boneca negra do universo Barbie, sua prima conhecida como Colored Francie, foi lançada em 1967. À época, um fracasso de vendas. Hoje, cerca de 55% das Barbies vendidas não têm cabelos loiros e olhos claros. Além disso, a marca apoia oficialmente os direitos da população LGBT e a boneca entrou na luta contra os estereótipos sexistas.

Para celebrar suas bodas de diamante, a Mattel anunciou no último mês o lançamento de novos sete modelos da Barbie, entre eles uma boneca cadeirante e outra com perna protética removível. Em 2016, o presidente da Mattel descreveu o fenômeno como uma "revolução da diversidade" na trajetória do brinquedo. A diversidade, de fato, é constituinte social e sempre existiu. Agora, as marcas iniciam um tardio, mas impreterível processo de reconhecimento e representatividade.

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Laços de memória

Desde a sua primeira série nas prateleiras, a Barbie ajudou a construir um ideal de feminino. Mas que feminino, se atualizarmos para o hoje? Os tempos mudaram. A Barbie também. O modelo norte-americano passou a ser global. Do imaginário infantil à mente adulta que se formou com a boneca ao longo dos anos, em uma mistura de novos hábitos, valores e conquistas às mulheres, ela era e ainda é a tradução de um sonho.

Para Yasmin Djalo, estudante de Design de Moda, microempreendedora, feminista negra e modelo, a Barbie, quando pequena, era tudo o que ela queria ter. "Eu não nasci amando a Barbie. Eu aprendi, foi construído em mim que essa boneca com o corpo padronizado magro, cabelos loiros, pele e olhos claros era a figura que eu admirava e amava. Era quem eu via, não só nos brinquedos, mas nos desenhos, filmes e até mesmo na escola, já que estudei a vida toda em uma escola particular onde a maioria das crianças eram brancas", enxerga.

Apesar dos esforços de sua fabricante por mais representatividade, na percepção da estudante de moda, que vê a boneca, hoje, como um objeto de análise, a grande questão é a forma com a qual esse padrão de beleza que ela sustenta é disseminado e introduzido na sociedade. "Meu coração sorri quando vejo crianças brincando com Barbies negras, mas mesmo assim ainda não é o suficiente. Essas bonecas precisam ocupar as vitrines das lojas proporcionalmente, elas precisam ser desejadas proporcionalmente", sugere. (Jully Lourenço)

Oi, Maya!

Em comemoração ao 60º aniversário e ao Dia Internacional da Mulher, celebrado no último dia 8 de março, a Mattel resolveu ampliar sua comunidade Barbie de mulheres inspiradoras ao redor do mundo. O #MoreRoleModels é a hashtag oficial que une a história de 18 mulheres de diferentes nacionalidades, cada uma com uma Barbie à sua imagem e semelhança - não é o máximo? Entre as eleitas ao projeto de design e empoderamento feminino, está a brasileira da foto, Maya Gabeira, de 31 anos, surfista premiada, nascida no Rio de Janeiro. A garota de ondas grandes é uma das melhores em sua categoria profissional. "Parece até um sonho ter uma Barbie para chamar de minha! Estou muito honrada em ser a primeira brasileira a participar dessa iniciativa maravilhosa da Barbie que tem homenageado mulheres inspiradoras de todas as áreas profissionais e cheias de diversidade por meio do Shero Program. As meninas devem crescer sem limites ou barreiras para seus sonhos e a Barbie está ai para sempre se moldar a elas", legendou em sua conta no Instagram
(@maya), onde ultrapassa os 450 mil fãs.

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