"Tô no caminho / Eu tenho medo / Vou mesmo assim" são os primeiros versos de Salão das Ilusões, última música do EP Ponto, do produtor, cantor e compositor Arquelano, cantada em parceria com Luiza Nobel e Getúlio Abelha. A ideia de arriscar-se presente na letra diz muito sobre o processo artístico do cearense. Benjamin Arquelano, natural de Maracanaú, começou a mexer com produção musical em 2014 de forma autodidata e caseira, lançando alguns singles ao longo dos anos nas redes sociais. Em 2018, se inscreveu e passou no Laboratório de Música do Porto Iracema das Artes onde pôde, enfim, dar vazão à potência artística que culminou no primeiro trabalho oficial, a ser lançado na próxima sexta, 12.

Em parceria no Laboratório e no EP com a cantora e compositora Emília Schramm e o guitarrista Théo Fonseca, Arquelano teve o projeto tutorado pela cantora e produtora carioca Mahmundi. "Quando chegamos na escola, tínhamos todas as demos do EP prontas, porém precisando daquela finalização. A experiência foi sobre polir e potencializar o trabalho", explica. "E foram tantos aprendizados, tanto no âmbito profissional quanto pessoal. A Mahmundi é uma profissional muito séria e dedicada, nos ensinou a ter uma visão ampla sobre produção musical, dinâmica de um estúdio de gravação, interpretação. Além das trocas artísticas e de vida. O encontro de dois artistas negros", ressalta Arquelano.

As seis faixas do EP se constroem a partir de "metáforas que adentram o espaço da minha vivência, vivências que atravessam um corpo negro, LGBT neste País. As composições são ambíguas, simples e políticas", considera.

Se há 5 anos Arquelano não colocava a própria voz nas canções, hoje toda a obra conta com seus vocais - um sinal do amadurecimento que o trabalho dá conta. "No começo, convidava amigos para interpretar as canções para fugir da responsabilidade de ser cantor, cantar em palcos, mas sempre tive noção da potência da minha voz e de que o momento de colocar realmente a cara na frente chegaria", reconhece. "Já fui uma pessoa muito tímida e a possibilidade de estar em um palco cantando era algo que me assustava bastante. Com o passar dos anos, fui aceitando melhor. É uma vitória poder ouvir um EP onde canto em todas as músicas e uma vitória maior ainda estar em cima de um palco, ser o porta-voz da minha verdade. É um processo de expansão das potências artísticas. Um ponto que começa a se expandir", metaforiza. A trajetória de Ponto se expande para os palcos já na semana que vem, no dia 18, em show de lançamento do EP no Café Couture, às 20 horas.

O processo de colocar-se ainda mais às vistas passou, também, pela parte audiovisual do EP, que já conta com dois clipes dirigidos por Darwin Marinho. "Não é fácil produzir esse tipo de trabalho quando se é um artista independente e com recursos muito limitados, mas graças a colaboração entre amigos as coisas se tornam viáveis", comemora. Arquelano adianta que outros dois vídeos serão lançados, um deles justamente de Salão das Ilusões - "Tô no caminho / Eu tenho medo / Vou mesmo assim", vale lembrar. "O processo artístico é longo e complexo. Todo dia é um aprendizado. Sinto-me extremamente grato e lisonjeado de, logo no começo da carreira, ter tido o apoio de um programa tão importante quanto o Laboratório de Criação e recebido conhecimentos tão essenciais para o desenvolvimento de uma carreira artística da Mahmundi e outras pessoas incríveis que chegaram nesse processo. A grande diferença entre 2014 e 2019 são as trocas. No começo era apenas eu e um computador trancados em um quarto. Hoje, não consigo ter um número exato de quantas pessoas já se agregaram ao Arquelano. Sabe, aos poucos vou assimilando tudo que aconteceu recentemente e adentrando as novas possibilidades do fazer artístico e político", finaliza.

EP Ponto, de Arquelano

Disponível no Spotify, Deezer, iTunes, Apple Music, Tidal, YouTube Music e outras plataformas digitais a partir de sexta, 12

Para ouvir (a partir do dia 12): www.tratore.com.br/smartlink/arquelano

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