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A grandeza de uma Paixão
Vida & Arte

A grandeza de uma Paixão

| Semana Santa | Criada há 52 anos, a encenação da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém segue como impulsionador do turismo no interior pernambucano. Além da atração teatral, estrutura da imensa cidade cenográfica garante experiência diferenciada para os visitantes
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Cenas da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém 2019 (Foto: Guga Matos/ Divulgação)
Foto: Guga Matos/ Divulgação Cenas da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém 2019

Uma história contada e recontada há mais de dois mil anos. Um enredo já conhecido com um final sem variações. Relembrar todo o sofrimento vivido por Jesus nos últimos dias de sua vida é tradição entre cristãos em vários lugares do mundo durante a Semana Santa. Mas no meio do agreste pernambucano, a Paixão de Cristo ganha proporções monumentais há 52 anos e atraiu, ao longo dessas décadas, um público de cerca de quatro milhões de pessoas. Não à toa. A cidade cenográfica, construída em 1968 especialmente para esta representação - fruto de um sonho também de dimensões monumentais do gaúcho Plínio Pacheco (1926 - 2002) - , investe em ricos detalhes para que seus visitantes se sintam, realmente, na antiga Judeia. A grande muralha, que cerca uma área de 100 mil metros quadrados, o equivalente a um terço da área murada da Jerusalém original, fez o pequeno distrito de Fazenda Nova, no município de Brejo da Madre de Deus, a 180 quilômetros de Recife, aparecer no mapa do Brasil. E o público que comparece ali realmente tem tudo para se sentir na Terra Santa. 

O Vida&Arte foi convidado para assistir à estreia da temporada deste ano, na última sexta-feira, 12 - as apresentações seguem até próximo sábado, 20. Da experiência, uma constatação: ao vivo, a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém supera, e muito, a apresentação levada pela Rede Globo às telas da Televisão desde o final da década de 1990. Ali, in loco, conseguimos dimensionar a suntuosidade dos cenários, do capricho dos figurinos, do apuro técnico na execução dos efeitos especiais. No meio disso, um elenco global destacado para os papéis principais, o que não é, necessariamente, determinante para a grandeza do que é apresentado.

Os ingressos variam de R$100 a R$120 (inteira). O espetáculo tem duração de três horas, mas o tempo parece correr num ritmo diferente do relógio comum, não fossem nossos pés a nos lembrar que já estamos há tanto tempo de pé (apenas cadeiras de rodas são disponibilizadas para idosos e pessoas com mobilidade reduzida).

Para ver essa história sendo recontada, vem gente de todo o País, e de fora dele também. Mas é do Nordeste o maior público. Segundo um levantamento feito pela assessoria do evento, 15% do público são atraídos para a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém por motivos religiosos. 70% são mulheres e 50% já viram o espetáculo mais de uma vez.

A pedagoga Ilza Buriti integra essas estatísticas. Evangélica, já esteve ali outras três vezes. "É sempre como se fosse a primeira", garante. "Esse ano, em especial, me emocionei ainda mais", completa.

O representante comercial recifense Alberto Junior se divide entre emoção e orgulho. "Nós, pernambucanos, temos o maior teatro a céu aberto do mundo. Temos que prestigiar", celebra ao lado da esposa, que o acompanha pela terceira vez à apresentação.

Ao fim do espetáculo, com o show de fogos de artifício anunciando o desfecho de mais uma sessão, o sentimento é de que a experiência vale demais à pena. Se não pela crença, certamente pelo valor artístico empregado em cada detalhe pensado portões adentro daquela muralha.

*A jornalista viajou a convite da Secretaria do Turismo de Pernambuco

Estátua de concreto homenageia o criador da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, Plínio Pacheco
Estátua de concreto homenageia o criador da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, Plínio Pacheco

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No meio da cidade-teatro, uma estátua feita em concreto representa o criador da Paixão de Cristo, Plínio Pacheco, que aparece montado em um cavalo com um megafone na mão. Esta seria a forma como ele acompanhava o espetáculo no início dos tempos. A estátua muda de direção ao longo da encenação, de acordo com o cenário onde o ato está acontecendo.

Desde o fim da década de 1990, atores globais integram o elenco principal. Este ano, além de Juliano Cazarré no papel de Jesus, participam do espetáculo Gabriel Braga Nunes (Pilatos), Ricarto Tozzi (Herodes) e Priscilla Fantin (Maria).

A maior parte da equipe que trabalha na produção, cerca de 600 pessoas, é do próprio município. Eles participam de várias etapas do processo e também atuam como figurantes.

Você dentro da história

E se no lugar de simplesmente assistir à Paixão de Cristo de Nova Jerusalém você pudesse participar do espetáculo? Há pacotes, disponibilizados pela pousada instalada dentro da cidade-teatro, que incluem a participação dos hóspedes como figurantes dos atos. A programação se divide em dois dias. No primeiro, os hóspedes ocupam a plateia. No segundo, já inteirados das cenas, sobem ao palco como figurantes, com direito a certificado de participação especial e crachá para circular entre o elenco principal pelas dependências do hotel também como uma "estrela".

O casal João Paulo e Rejane Borgonovi compartilhava sorrisos depois da "estreia" no maior palco a céu aberto do mundo. Os paulistas vieram convidados por amigos pernambucanos. Para os "novos atores", o dia entrou para a lista dos inesquecíveis. "Superou em 150% as nossas expectativas. Vou começar a distribuir autógrafos", brinca o administrador de empresas, que pagou R$2.600 pela experiência.

A Pousada da Paixão fica aberta o ano todo, com pacotes de fim de semana por R$700 (sexta a domingo), com pensão completa, incluindo jantar temático em um dos cenários do espetáculo.

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