Intrinsecamente ligado à história da monumental catedral parisiense - e talvez seu principal e mais direto representante no mundo das artes, o romance do poeta e romancista francês Victor Hugo Notre-Dame de Paris tornou-se o número um de vendas pela internet e, em muitas livrarias pelo mundo, a obra está esgotada desde que um incêdio na última segunda-feira, 15, destruiu parcialmente a construção que soma oito séculos.
Diante da demanda, os editores do romance em formato de bolso decidiram lançar novas tiragens e doar os lucros ao fundo lançado para financiar a reconstrução do edifício.
Escrito em 1831, Notre-Dame de Paris (Nossa Senhora de Paris), se passa em 1482, época do reinado de Luís XI. O romance foi adaptado muitas
vezes ao cinema.
Uma passagem no romance é particularmente digna de nota hoje. "Todos os olhares se dirigiam para a parte superior da catedral e era algo extraordinário o que viam: na parte mais elevada da última galeria, acima da rosácea central, uma grande chama subia entre os campanários com turbilhões de faíscas, uma grande chama revolta e furiosa".
Em torno dos personagens Quasímodo e da cigana Esmeralda, Victor Hugo fez da catedral a verdadeira heroína de "Nossa Senhora de Paris", com o objetivo de chamar a atenção sobre o estado de decrepitude do monumento.
Na época, o sucesso da obra provocou um movimento cidadão que foi capaz de fazer com que as autoridades reabilitassem a catedral.
A catedral de Notre-Dame inspirou Victor Hugo, mas não apenas ele. O local está muito presente nas artes para além da literatura, mas também no cinema, na comédia musical, no balé ou pintura. A seguir, listamos como a obra é referenciada em muitas outras produções artísticas nos séculos seguintes e até no mundo dos games. (AFP)
Literatura
Além do romance de Victor Hugo Notre-Dame de Paris (1831, popularizado como O Corcunda de Notre-Dame), Gérard de Nerval cantou Notre-Dame em uma de suas "Odelettes". "Notre-Dame é muito antiga: nós a veremos, talvez, enterrar a Paris que ela viu nascer", escreveu o poeta.
Em Ma conversion (1913), Paul Claudel diz que foi nessa catedral que ele foi atingido por uma "revelação inefável". "Em um instante meu coração foi tocado e eu acreditei".
O poeta comunista Louis Aragon também elogiou o monumento em seu romance Aurélien e em Paris 42. "Quem não viu o sol nascer sobre o Sena ignora o que é esse dilaceramento/ Quando pego no ato a noite falha em si defende-se, desfeito os olhos vermelhos obscenos/ E Notre-Dame sai das águas como um imã"...
Cinema
O romance de Victor Hugo deu origem a nada menos que dez adaptações no cinema e cinco na televisão. O filme mais antigo, La Esmeralda, de Alice Guy e Victorin Jasset, data de 1905.
Um dos mais conhecidos é Notre-Dame de Paris de Jean Delannoy (1956), com Gina Lollobrigida e Anthony Quinn, com roteiro de Jean Aurenche e Jacques Prévert. Sem esquecer, claro, de O Corcunda de Notre Dame, dos estúdios Disney (1996), uma animação livremente inspirada por Victor Hugo.
O ator inglês Idriss Elba anunciou no ano passado que realizaria para Netflix uma adaptação contemporânea do romance, no qual ele interpretaria Quasimodo.
Notre-Dame de Paris também aparece como pano de fundo em muitos filmes, incluindo Meia-noite em Paris (foto), de Woody Allen, O Fabuloso Destino de Amelie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet, e Charada de Stanley Donen.
Teatro, ópera, comédia musical
Notre-Dame de Paris inspirou ainda balés, inclusive La Esmeralda do mestre francês Jules Perrot, com música do italiano Cesare Pugni, criada no Her Majesty's Theatre de Londres em 1844. Este balé passou por várias versões, especialmente na Rússia. O balé Notre-Dame de Paris do coreógrafo francês Roland Petit foi criado em 1965 na Ópera Nacional de Paris com música de Maurice Jarre e figurino de Yves Saint Laurent, "coloridos como os vitrais de uma catedral", lembra Sylvie Jacq-Mioche, historiadora da dança. A primeira ópera, La Esmeralda, da compositora Louise Bertin, estreou em 1836 em Paris. Victor Hugo havia escrito o libreto, mas a ópera provou ser um fracasso. Duas outras óperas com o mesmo nome foram criadas, mas não são muito conhecidas.
Em 1978, Robert Hossein montou o espetáculo Notre-Dame de Paris. Finalmente, verdadeiro sucesso, o musical Notre-Dame de Paris (foto), criado em 1998 por Luc Plamondon (letras) e Richard Cocciante (música), interpretado por Hélène Segara, Garou, Daniel Lavoie e Patrick Fiori, percorreu mais de 20 países e adaptado em nove idiomas. Em janeiro comemorou cinco mil apresentações.
Pintura
Entre as obras mais famosas, Le Sacre de Napoléono (acima), tela de quase dez metros por seis, realizado entre 1805 e 1807 por Jacques-Louis David, o pintor oficial de Napoleão, representa a sua coroação em Notre-Dame.
Habitado por temas religiosos e oníricos, Marc Chagall foi muito inspirado por Notre-Dame para ilustrar sua visão poética de Paris, enquanto Maurice Utrillo, que muito ilustrou em suas matizes de cinza a melancolia de Paris, muitas vezes mostrou Notre-Dame com o Sena fluindo ao lado.
A pintura emblemática de Eugène Delacroix, La liberté guidant le peuple (A liberdade guiando o povo), celebrando a insurreição de 1848, mostra à distância as duas torres de Notre-Dame.
Games
O jogo de videogame Assassin's Creed Unity (2014) coloca no centro de sua trama a catedral, saqueada pela Revolução de 1789, mas lindamente modelada pelos estúdios da Ubisoft.
Os youtubers Norman e Squeezie compuseram um videoclipe em homenagem, Assassin des templiers, produzido pela Ubisoft com mais de 60 milhões de visualizações.