A Caixa Cultural Fortaleza (Praia de Iracema) recebe, neste fim de semana, a curta temporada de Nossos Mortos. Sob a direção de Fran Teixeira, o espetáculo do grupo cearense Teatro Máquina será apresentado em dois horários - às 20 horas (sexta e sábado) e 19 horas (domingo) - e traz as atrizes Ana Luíza Rios e Loreta Dialla numa narrativa entrecruzada do mito grego de Antígona de Sófocles com o massacre real de movimentos populares nordestinos.
O embrião da peça, no entanto, remete a 2015 quando a diretora adentrou algumas localidades da região, como o Raso da Catarina e Canudos (BA), o Parque Nacional Serra da Capivara (PI) e o Caldeirão de Santa Cruz do Deserto (Cariri cearense). "Realizamos uma viagem de pesquisa e criação, que foi contemplada no Rumos Itaú Cultural, chamada Sete Estrelas do Grande Carro com Leonardo Mouramateus e Ayrton Pessoa Bob. Durante a viagem, fizemos algumas paradas planejadas e outras não", relembra.
"Cada artista tinha projetos que gostaria de realizar, como pequenos programas performáticos, ensaios fotográficos, roteiros, etc. Eu estava com a tragédia Antígona e queria encontrar pessoas que não puderam enterrar seus parentes que migraram para o Sul/Sudeste. Mas a passagem pelo Caldeirão e por Canudos, além das inúmeras cidades inundadas, movidas e abandonadas que visitamos, me fizeram retomar Antígona sob a perspectiva da relação com o luto interminável, o direito inalienável da despedida e de poder conferir as homenagens devidas aos entes queridos", embasa a diretora.
Nossos Mortos, de certa forma, foi ganhando corpo a partir dessas imersões. "A luta da heroína de Sófocles foi se materializando na voz daqueles que pedem por justiça e começamos a encarar o material no Piauí. Fizemos uma primeira leitura pública no povoado Sítio do Mocó e depois em Arneiroz, no Sertão dos Inhamuns". A peça, que teve sua estreia em abril do ano passado, já foi vista em São Paulo (Sesc Pompeia) e, no Ceará, já se apresentou em eventos como Maloca Dragão, Festival Nordestino de Teatro (FNT), Festival Porto Alegre em Cena e Mostra Sesc Cariri de Culturas.
"O trabalho é bem essencialista. Há três dispositivos que conversam entre si no seu minimalismo: a cenografia de Frederico Teixeira, com o círculo fixo em backlight; a iluminação lateral, quente e sombria de Walter Façanha e as vestes meio parangolés de Diogo Costa. O corpo-voz e o engajamento das atrizes fala, canta e dança com tudo isso", garante Fran, que conta ainda com a direção musical assinada por Consíglia Latorre e trilha sonora executada ao vivo por Ayrton Pessoa Bob, Levy Mota e Di Freitas, este último responsável pela confecção de todos os instrumentos de corda usados em cena.
"Há também todo um trabalho de espacialização do som, a partir das pesquisas de sonoridades múltiplas e paisagem sonora do Bob e da Consiglia", complementa Fran. "Di Freitas nos apresentou algumas cantoras de incelenças. Dane de Jade (gestora cultural) também nos apresentou outras cantoras e articulou com agentes culturais de Barbalha um encontro com um grupo de penitentes. Depois dessa viagem, a música entrou no espetáculo de forma muito marcante", revela.
Após a Caixa Cultural, Nossos Mortos pretende seguir para outros palcos. "Temos de estar em junho em Sousa (PB) e em Juazeiro do Norte, pelo programa do BNB, que nos ajuda a circular pelos centros culturais. Além disso, vamos continuar cavando oportunidades para estar em cartaz em Fortaleza, o que nos deixa sempre muito felizes. Acreditamos que precisamos continuar fazendo teatro, sem grana e sem espaço, mas juntos, porque com o teatro podemos movimentar um tipo de encontro único e incendiário".
Espetáculo "Nossos Mortos", do grupo Teatro Máquina
Quando: sexta (26) e sábado (27), às 20 horas; domingo (28), às 19 horas
Onde: Caixa Cultural Fortaleza (av. Pessoa Anta, 287 - Praia de Iracema)
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). À venda na bilheteria, a partir das 10 horas.
Classificação: 12 anos
Informações: (85) 3453 2770