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Na capa do disco Flor da Paisagem há uma imagem icônica entre os clássicos cearenses: a cantora Amelinha debruçada sobre uma janela, com os cabelos despretensiosamente soltos e vestindo uma blusa vermelha. A imagem reveste a embalagem do primeiro long play gravado por ela, lançado em 1977 e que celebra quatro décadas neste ano. Segundo define a cantora, foi o "cartão de visitas" de sua carreira. "Demorou um pouco para tocar nas rádios", lembra, em entrevista ao O POVO.
Mesmo que tenha demorado a entrar na programação das rádios (e não tenha feito o mesmo sucesso que Frevo Mulher, o sucessor, lançado em 1978), o disco quarentão carrega a força de um trabalho antológico. São 11 faixas assinadas por potências da música, como Ednardo, Fagner, Brandão, Petrúcio Maia, Robertinho de Recife, Fausto Nilo e Abel Silva. A estreia de Amelinha no mercado fonográfico, contudo, foi resultado de histórias e momentos diversos, que antecederam a gravação e foram decisivos para a construção de sua identidade artística.
Uma destas experiências havia ocorrido dois anos antes, em 1975, quando contava apenas 25 anos de vida. Viajou com Vinicius de Moraes e Toquinho a Punta del Este e Montevidéu, no Uruguai, em uma turnê de 40 dias. "Quando eu já tinha minha banda formada em São Paulo e ensaiava mesmo sem saber se teria show, todos os sábados, por puro exercício", contextualiza. Amelinha considera que o lançamento de Flor da Paisagem e a viagem com Vinicius foram os dois momentos decisivos que a empurraram para o caminho que iria tomar. "Foi o detonador, o revelador", elucida.
Vinicius de Moraes foi parte de um momento importante no início de carreira da jovem cantora. Mas eles se conheceram por intermédio de um personagem fundamental nesta trama: Fagner (que, por sua vez, conheceu Amelinha por meio de Ricardo Bezerra). Fagner foi o diretor musical do Flor da Paisagem, além de ter dado três composições para a amiga gravar no disco (Agonia, Depende e Pobre Bichinho).
"Em algumas reuniões no Bar do Anísio ou num bar chamado Gerbô, perto da TV Ceará, nos encontrávamos todos. Foi lá onde Fagner me mostrou Mucuripe e outras composições, assim como tive a felicidade de ouvir muita música bonita de outros compositores", lembra. "Eu já vivia experimentando repertório para quando fosse gravar", diz a cantora.
Na casa onde Amelinha morava em São Paulo, na rua Capote Valente, também havia vários destes encontros. Ela recebia visitas de muitos amigos, como Ife, Fausto Nilo e Robertinho de Recife. "Rolava muito som. A música Flor da Paisagem, por exemplo, foi feita na minha sala. Vi Robertinho várias noites dedilhando uma música. E fiquei só de tocaia. Um dia, Fausto chegou, me pediu um papel, uma caneta e canetou. E por aí foi e veio. Até hoje, é. E será sempre, porque é linda e atemporal", narra com carinho.
O primeiro disco de Amelinha, gravado no estúdio Eldorado, portanto, surgiu dos encontros de amigos. O resultado é a junção contundente de faixas pouco conhecidas pelo público, mas que carregam a beleza e a crueza compartilhadas entre parceiros, impressas na voz madura e singular de uma mulher de 27 anos. SAIBA MAIS
As faixas de Flor da Paisagem
Lado 1
01- Santo e demônio ( Fagner - Ricardo Torres )
02- Ponta de espinho ( Ednardo )
03- A cal mar-se ( Ednardo - Brandão )
04- Aprender a voar ( Beto Mello )
05- Depende ( Fagner - Abel Silva )
06- Cintura fina ( Luiz Gonzaga - Zé Dantas )
Lado 2
01- Senhora Dona ( Petrucio Maia - Brandão )
02- Flor da paisagem ( Robertinho de Recife - Fausto Nil o)
03- Pobre bichinho ( Fagner)
04- Mal doloroso ( Petrucio Maia - Pepe )
05- Agonia ( Fagner )
Amelinha conta a história da icônica capa:
"Aquela janela é especial. Foi ideia do grande e saudosíssimo fotógrafo Maurício Albano. A foto foi feita em uma casa na estrada de Aquiraz. A plantinha na lata de óleo foi ele quem fez. Tivemos a colaboração da dona da casa, que ficou muito animada e se envolveu bastante. Ainda comemos tapioca pela estrada, feita naqueles antigos fornos à lenha, acompanhada de cafezinho delicioso. A contra-capa é uma mangueira de Sabiaguaba, ideia de Sérgio Pinheiro, que disse: "Amelinha, você é uma mangueira bem frondosa".
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