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20 anos após sua morte, músicas de Alípio Martins ainda são sucesso
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20 anos após sua morte, músicas de Alípio Martins ainda são sucesso

Duas décadas depois de sua morte, sucessos do cantor paraense continuam presentes nos repertórios de muitas bandas e DJs que animam as mais descoladas festas da Capital
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Aceita um convite aí? Retornemos só por hoje à Fortaleza dos anos 1980. Época de um ‘rei’ Roberto Carlos pra lá de romântico, de Menudos, Polegar e de Sílvio Santos, no SBT, com sua gama infindável de artistas (Ovelha, Sidney Magal, Ronnie Von, etc)... Nas tardes de sábado da capital alencarina, a pedida era certeira: Programa Irapuan Lima! Em meio ao arrasta-pé da época – Alta Tensão, Luzirene do Cavaquinho, José Orlando -, um paraense não se deixava por vencido.


Apostando numa mistura inusitada, porém não menos dançante de carimbó, brega e lambada, com pitadas de irreverência e malícia, Alípio Martins sacudia o auditório e atiçava a histeria do mulherio com canções como Garota, Onde andará você, Vem me amar, entre outras mais que renderam a marca de 12 discos de Ouro, oito de Platina, um de Platina Duplo, além de cinco de Ouro por produções (com vendas de LPs, CDs e fitas cassete), totalizando quase cinco milhões de unidades.


Nesta sexta-feira, 24, em que se relembram os vinte anos de sua morte, o Vida&Arte assuntou com bandas e artistas do cenário atual o porquê de, após tanto tempo, o estilo de Alípio Martins ainda perdurar nas melhores e mais descoladas festinhas da Capital. Para Guga de Castro, DJ mineiro que tocou o extinto projeto Farra na Casa Alheia ao lado de Marquinhos Ribeiro por quase 15 anos, a música do cantor, assim como a feita no estado do Pará, tem uma identificação muito forte com a nossa.


“Segundo me confidenciou um amigo, nos anos 1980 ir a um ‘forró’ dançar significava, na verdade, bailar ao som de carimbó, guitarrada, brega, lambada e por aí vai. Ou seja, tudo, menos forró! A influência da priprioca e do patcholi foi tamanha que vários artistas do forró e/ou congêneres como Messias Holanda chegaram a gravar carimbós”, explica. Nessa leva, surgiu Alípio. “Ele, em particular, era o mais sacaninha da turma. Começou no carimbó, mas depois descambou para o chamado ‘brega’ que, em Belém tem um sentimento/sentido musical diferente do resto do País”.


Para Jolson Ximenes, baixista d’Os Transacionais, falar de Alípio Martins remonta à época de meninice. “Eu ouvia muito a música do Norte. E não por ter família de lá, mas porque essa música fazia muito sucesso no Ceará. Como eu vim do Interior, nasci no Ipu, a gente costumava chamar de ‘música de parque’, que era aquele bregão, aquele forrozão que tocava nos parques... O Alípio tinha uma representatividade muito forte dentro da música que era divulgada aqui no Ceará, no final da década de 1970 e nos anos 1980”, relembra.


Do ouvir em casa à transportar para os palcos foi um pulo. “A gente quando se propôs a fazer uma banda que tocasse música retrô, a gente queria tocar aquilo que a gente cresceu ouvindo dentro de casa, da nossa criação musical. E desde o início, a gente toca essas músicas, Pinduca, Solano e Seu Conjunto e, claro, o Alípio. Desde o começo a gente flertou e fala que a banda toca música brasileira, independente de estilo ou região, porque essa parte do Norte é muito presente nos nossos shows até hoje”.


Tendo como ponto forte o estilo brega, os Alfazemas também abrem espaço para outros estilos musicais, tanto que até criaram um bloco nos períodos de Pré e Carnaval. “A entrada das músicas do Alípio Martins no nosso repertório ocorreu de modo bem natural. A gente procurava criar momentos com canções que fossem envolventes, cheias de ritmo e que fossem clássicos da lambada, do brega ou do carimbó, por conta da nossa proposta ‘bregalhética’. Até hoje é difícil ter um show em quem não tocamos ao menos uma música dele”, afirmou o vocalista Adriano Uchôa.


Para ele, o legado de Alípio Martins perpetua-se devido à identificação com o popular. “Percebo que ele conseguiu fazer um trabalho que atravessa gerações e quebra esse paradigma bobo que às vezes taxa certas canções como ‘músicas de velhos’. Pra nós, cearenses, ainda tem um temperinho especial a mais! Creio que ele dialogue de forma mais intensa com a nossa cultura popular por conta do caráter jocoso de alguns clássicos como Piranha e Quero Gozar, que são músicas de trocadilhos e carregadas de uma gaiatice que poderia muito bem ser de um cearense tipicamente fuleragem. Eu, por exemplo, me identifico demais!”.


Sérgio Costa, vocalista da banda Descendentes da Índia Piaba, reconhece-se como um autêntico fã do paraense. “Eu tenho uma admiração por ele já de muito tempo! Principalmente da primeira fase da carreira dele, muito ligada com o carimbó, quando que ele gravou dois discos chamados O Rei do Carimbó vol. 1 e 2. O 2, por exemplo, é um clássico que tem (a música) Piranha... Ele morou em Fortaleza, inclusive, tinha até um estúdio ali na Monsenhor Tabosa... Do brega, ele é como fosse um David Bowie do carimbó, sabe, meio camaleão!”, resume.


“Ele tinha trocadilhos inteligentes, uma musicalidade agradável, dançante, um duplo sentido que não feria ninguém. Eu acho que essa relação com a música cearense, dele ter tanta importância aqui no Ceará, tem a ver com essa molecagem do cearense”, pontua Jolson, que adianta já ter um show especial em tributo ao paraense intitulado Alípio – 20 Anos de Saudade. “Já temos o repertório definido e, nos próximos dois meses, a gente certamente estreia esse show”, adianta.


“Ele não tinha lá uma grande voz (o que ele mesmo reconhecia), por isso também foi um grande produtor e quem gravou com o cabra dizia que ele tinha suas próprias técnicas de gravação. Por incrível que possa parecer, não fumava nem bebia (mas, diziam, gostava de distribuir uns sopapos), mas andava com um charuto na boca na tentativa de imitar um dos seus ídolos, Roberto Carlos. Se vivo estivesse, estaria gravando com Felipe Cordeiro, Do Amor, Dirimbo, Gaby Amarantos, Academia da Berlinda e muitos outros”, prevê Guga. (Teresa Monteiro)


Multimídia


Para ouvir Alípio Martins:

https://goo.gl/LPJXza

 

Confira o clipe da música Piranha, de Alípio Martins & Os Trapalhões:

https://goo.gl/sDSuGV
 
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