Dante tem oito anos e ainda não tinha nascido quando o seu parente famoso resolveu se exilar, em 2007. O menino de jeito tímido soube da morte de Belchior, no último domingo, 30, e bateu o pé: queria acompanhar as homenagens para o homem que inventou a música Medo de avião, canção tão presente na playlist de Dante. “Eu nunca tive a chance de falar com ele, sabe? Aí eu disse pra minha mãe: ‘Por favor, deixa eu ir para o enterro dele’. Sempre quis tentar ver meu tio-avó de perto”, conta o garoto. Ele e sua família numerosa, junto a muitos amigos e fãs, se despediram do músico cearense Antônio Carlos Belchior na manhã de ontem em enterro no Parque da Paz, na Capital.
[SAIBAMAIS]Emocionada, a mãe de Dante, Michelle Belchior, fala com muito carinho do tio. “O nome do meu filho vem também desse amor que o tio Antônio Carlos tinha pelo Dante da Divina Comédia”, conta, em referência ao escritor italiano. Nos anos em que ficou recluso, o cearense estava se dedicando à tradução da obra prima de Dante Alighieri (1265 - 1321). Para a sobrinha, o músico é importante também com uma referência profissional. “Ele inspira muito minha vida. Na sala de aula, eu trago muitas músicas do meu tio, porque favorece para que os alunos entendam o que é viver hoje. Amar e mudar as coisas também me interessa muito mais”, conta ela, que é professora do curso de psicologia na Universidade Federal do Ceará.
“É um momento de muita comoção pela mensagem política e social que ele deixou através das letras dele, das concepções que ele trazia, dos pensamentos filosóficos”, completa Michelle, destacando ser em 2017 ainda mais importante ouvir o que Belchior compôs. “Ele não morreu este ano e não vai morrer nunca mais. Morre o corpo, mas a alma voa, fica e sempre vai estar através dos versos e da poesia”, se inspira.
[QUOTE1]Irmão do homem de “coração selvagem”, Francisco Gilberto, auditor fiscal aposentado, conta que o Belchior da convivência íntima era brincalhão. “Ele era completamente extrovertido. Até o dia que nos encontramos pela última vez, há dez anos. Por isso, eu estranhei quando ele se retraiu”, conta. Desde menino, lembra Gilberto, Antônio Carlos foi um amante dos livros. “Ele sempre foi um incentivador da leitura, sempre foi incentivador das artes”.
Anésio Fernandes, primo do artista, reforça o lado estudioso do menino Belchior. “Ele era muito estudioso. O negócio dele era ler e escrever”, lembra. Os dois conviveram durante toda a infância, principalmente no período das férias escolares. “Todo mês de julho e dezembro, ele ia de Sobral para Coreaú, onde eu morava”, puxa da memória. “Quando ele tinha cinco anos, já dizia que ia ser cantor. E foi”, se orgulha.