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Filme Alien: covenant repete conceitos
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Filme Alien: covenant repete conceitos

Sexto filme da série, Alien: Covenant, de Ridley Scott, repete conceitos e pouco faz a franquia avançar
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Mesmo hoje, Alien: o Oitavo Passageiro (1979), de Ridley Scott, se mantém como uma das obras mais impactantes da história do cinema. Para além da protagonista Ellen Ripley (Sigourney Weaver), a ficção científica de horror cria uma atmosfera única, uma criatura grotesca e tem uma das direções mais seguras dentro do gênero. Nela, Scott sabe dosar perfeitamente o que mostrar e o que esconder, com uma câmera subjetiva usada com perfeição em um esforço de horror único. É a grande obra de um diretor genial.


Alien: Covenant, sexto filme da série solo dos ‘xenomorfos’, é uma declaração de amor de Ridley Scott para o ato de criar. Depois das quatro obras originais, de 1979 a 1997 e dois spin-offs, o diretor retomou as rédeas da franquia no decepcionante Prometheus (2012), do qual Covenant é sequência direta. Já em 2012, os novos elementos giravam em torno da origem das criaturas sanguinárias conhecidas como xenomorfos. Lá, se introduz um mito da criação, em que seres quase divinos criam um vírus capaz de dizimar civilizações. Ao final do longa, a dra. Shaw (Noomi Rapace), avatar de Ripley, e o maquiavélico androide David (Michael Fassbender) são os únicos tripulantes da nave Prometheus que sobrevivem ao encontro com as criaturas.

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Dez anos depois e é a vez da nave colonizadora Covenant ter um encontro cruel com o destino. Resumindo a longa introdução, a tripulação encontra um sinal misterioso em um planeta desconhecido e descobre se tratar de um local perfeito para a vida humana. Capitão recém empossado, Oram (Billy Crudup) decide explorar o planeta, à revelia dos desejos da sub-comandante Daniels (Katherine Waterston), a Ripley da vez. Descendo lá, começa a infecção, matança e caixas torácicas explodindo no melhor estilo Alien. Assim vai até um rosto familiar os salvar dos neoxenomorfos.


David, o androide com complexo de Messias, ressurge e encontra Walter, seu irmão gêmeo robótico com diretrizes menos niilistas. Prometheus era grandiloquente, excessivo, ambicioso. Só David, com seus ideais de perfeição, tornava o filme interessante. Covenant aproveita essa qualidade do antecessor e resolve explorar mais a fundo a proposta, fincado em especial nos duelos intelectuais dos dois androides. Antagonista clássico, David se configura praticamente como o protagonista do filme. É ele quem puxa os conflitos. Figura conhecida, ele vira muleta.


O cerne de Alien: Covenant segue sendo a noção de ápice da história natural. Na introdução de Prometheus, temos um ser praticamente divino que abdica da existência em um ritual cruel de autodestruição. David, dessa vez, é apresentado como o auge da humanidade. Um ser que beira a perfeição, tal qual o Davi de Michelangelo. Com sentimentos e volatilidade típicas de um homem — e uma tendência pouco sadia à eugenia —, ele acaba julgando que, agora, é a vez de criar um ser ainda mais perfeito: o xenomorfo, cada vez mais próximo da visão clássica do filme de 1979, com design de H.R. Giger.


O humano sempre busca algo maior, um feito mais grandioso, mas segue com os mesmos erros, perseguindo os êxitos passados. É assim com Ridley Scott, que busca recriar a mágica de Alien, o Oitavo Passageiro, seu apogeu. Por mais que Covenant seja interessante, ele não supera a barreira do reciclado. David é fascinado ao máximo pelo xenomorfo, que ajudou a criar. Do mesmo modo é Ridley Scott, que se dedica a criar e recriar a mesma obra. Ele muda os elementos mas segue aguardando pelos mesmos resultados. Se muito, Covenant funciona no tranco. Pode agradar ao fã da série e ampliar o escopo proposto. Mas Scott precisa urgentemente de distanciamento para ganhar mais perspectiva sobre o seu Frankenstein. Talvez involuntariamente, Ridley Scott acabou fazendo uma grande metáfora para o próprio processo criativo estanque em que se encontra.

 

FILMES


Alien, o Oitavo Passageiro (1979)

Melhor exemplo de híbrido entre ficção científica e horror no cinema, o segundo longa de Ridley Scott mostra a arte de revelar sem mostrar.

Aliens, o Resgate (1986)

James Cameron aposta na ação e no conceito de maternidade para renovar a franquia. E deu certo.

Alien³ (1992)

Com David Fincher era a chance de um grande suspense? Errado. O filme é péssimo e nem o desfecho redime a trama na “prisão”

Alien - A Ressurreição (1997)

Saudosista e com poucos acertos, o quarto filme da franquia não tem nada da inventividade de Jeunet.

Prometheus (2012)

Grandiloquente e excessivo, o retorno de Ridley Scott à franquia é enfadonho. Mas, se você não dormir, tem seus momentos.

 

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