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Pai do Tintin, Hergé completa 110 anos
Vida & Arte

Pai do Tintin, Hergé completa 110 anos

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O nome Georges Prosper Remi pode soar desconhecido ou causar indiferença, mas é ele que consta na certidão de nascimento de um dos principais profissionais das histórias em quadrinhos da Europa. Nascido há exatos 110 anos, em 22 de maio de 1907, Georges optou por “renascer” em 1924, passando a trabalhar com o pseudônimo pelo qual ficou conhecido: Hergé.


As artes e, em especial, o desenho fizeram parte desde cedo da vida do belga. O colecionador de quadrinhos europeus e jornalista PH Tirre, que também é youtuber especializado em HQs franco-belgas, conta que, além do contato artístico, um momento-chave para a produção de Hergé foi a entrada no movimento de escoteiros. “Ele conheceu outras culturas e desenvolveu um gosto exploratório que culminou em seu primeiro personagem, Totor, C. P. des Hannetons (‘‘Totor, Líder Escoteiro dos Besouros”, em português), de 1926. Ele já possuía uma pegada aventureira que seria reprisada e eternizada por Tintin”, compara em entrevista ao O POVO.

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O jornalista aventureiro criado por Hergé apareceu pela primeira vez em uma HQ em 1929, já trazendo as características pelas quais ficou conhecido, como a astúcia e a coragem. Um ponto de controvérsia, no entanto, paira sobre criador e criatura: as primeiras aventuras de Tintin foram publicadas em um jornal belga conservador, antissemita e fascista. Além disso, algumas tramas do herói foram criticadas pela visão estereotipada e racista. “Quando Hergé lançou Tintin no País dos Sovietes, história declaradamente anticomunista, não tinha a ideia do sucesso que seu personagem alcançaria e muito menos da polêmica da qual seu intrépido jornalista seria o centro”, afirma PH. Na viagem de Tintin ao Congo há ainda o caráter colonialista, já que o país africano estava sob domínio da Bélgica no ano da publicação de Tintin na África, em 1931.


O preconceito embutido na produção feita por Hergé só foi “entendido” anos depois, já que na época era uma postura “natural” para a maioria da sociedade europeia. “É preciso levar em consideração que tudo isso foi fruto de um contexto cultural equivocado do passado vivido por Hergé. O mundo era diferente na época que Tintin surgiu”, aponta PH. “À medida em que o autor foi aperfeiçoando seu herói, e lhe dando novas missões, teve tempo para se redimir de seu início pouco politicamente correto”, explica. De fato, o lado positivo e carismático de Tintin se sobrepôs à controvérsia, e o personagem foi levado para a televisão e para o cinema, em 2011, por Steven Spielberg.


“Hergé criou um herói nada musculoso, cujos poderes especiais são a inteligência e um raciocínio detetivesco. Se juntarmos isso ao traço simplório, o que hoje chamamos de linha clara, temos elementos básicos que constituem a chave do sucesso, como aconteceu com o Mickey, de Disney”, compara. No entanto, o colecionador aponta também que, na produção atual, é importante lutar contra abordagens preconceituosas. “Num presente no qual existem pessoas mais esclarecidas e também pensando nos adultos do futuro, temos que ficar de olho para que um personagem de quadrinhos não se misture com essas coisas”, defende. (João Gabriel Tréz)

 

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