Logo O POVO+
George A. Romero, o "pai dos zumbis", morre aos 77 anos
Vida & Arte

George A. Romero, o "pai dos zumbis", morre aos 77 anos

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
NULL (Foto: )
Foto: NULL
[FOTO1]

Foi George A. Romero que arrancou os mortos de suas tumbas. Na primeira cena do seu clássico A noite dos mortos vivos, de 1968, dois irmãos bem vestidos dirigem até um cemitério em uma colina para colocar flores na lápide do pai. São surpreendidos por um homem esfarrapado que se arrasta cambaleante e violento. O zumbi de Romero, apodrecido, letárgico, veio popularizar a figura do morto vivo no cinema.


A carreira de Romero no universo do horror se estendeu por cinco décadas -desde o curta Expostulations, de 1962, ao mal recebido A ilha dos mortos, de 2009 - e é um exemplo óbvio da fixação de um artista por um tema. No seu caso, a morte. Ou a quase-morte (pós-morte, dirão alguns), como nos levam a crer as centenas de cadáveres catatônicos que filmou. Responsável por pelo menos 20 projetos, entre filmes, documentários e especiais para a TV, Romero morreu na noite do último domingo, 16, aos 77 anos, em decorrência de um câncer de pulmão.


É simbólico que nada do que tenha filmado depois de A noite dos mortos vivos tenha seguido o rastro de sucesso e importância de seu projeto inicial. Naquele “ano que não terminou”, quando a luta pela igualdade racial perdia um de seus ícones e as imagens da Guerra do Vietnã chocavam o mundo, o jovem Romero, com menos de 30 anos, apropriou-se da morte e do horror para metaforizar seu tempo. Há quem diga que não há nada em A noite dos mortos vivos que não seja subversivamente político.


Antes de dar vida ao estilo que mais tarde receberia o rótulo de apocalipse zumbi, Romero passeou pelo Bronx em uma infância e adolescência sem grandes emoções. Filho de mãe lituana e pai cubano, graduou-se na Carnegie Mellon University no início dos anos 1960 e logo começou a produzir curtas e vídeos de propaganda. A noite dos mortos vivos, realizado entre amigos e com um orçamento tímido para os padrões da época, registrou inesperado êxito de público e colocou o diretor em um Olimpo já ocupado por nomes como Roman Polanski (Repulsa ao sexo, 1965), Alfred Hitchcock (Psicose, 1960) e Tod Browning (Drácula, 1931).


Dos 15 longas dirigidos por Romero, pelo menos seis levam a palavra “morte” ou seus derivados no título - além de A noite dos mortos vivos, realizou Despertar dos mortos (1978), Dia dos mortos (1985), Terra dos mortos (2005), Diário dos mortos (2007) e A ilha dos mortos (2009). A fertilidade de sua imaginação nesse campo sombrio - que não raro flertava com o humor - está na origem da temática que seria progressivamente assimilada pela cultura pop. Do sucesso televisivo The Walking Dead ao universo dos games de Resident Evil, são muitos os herdeiros de Romero.


Em seus últimos anos, o cineasta se queixava da falta de interesse dos grandes financiadores por seus projetos. Seus últimos filmes não conseguiram comover público e crítica, e amargam avaliações ínfimas em sites de cinema como IMDB e Rotten Tomatoes. Romero entrou para o rol do terror cult, como o fizeram Bela Lugosi, Boris Karloff e Ed Wood. Honesto enquanto criador, soube alimentar seus fantasmas até o último suspiro.

 

 

 

O que você achou desse conteúdo?