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To the Bone, nova produção da Netflix, aborda disturbios alimentares
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To the Bone, nova produção da Netflix, aborda disturbios alimentares

Nova aposta da Netflix, To the bone tem os distúrbios alimentares como foco a partir da história de Ellen, adolescente de 20 anos e cheia de conflitos
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Duas adolescentes contam calorias: 280 da carne de porco, 350 do macarrão, 150 do pão e 75 da manteiga. A primeira cena do filme To the bone (O mínimo para viver, versão em português) transmite leveza em um tema sério, perigoso e cheio de meandros: os distúrbios alimentares. Ellen tem 20 anos e vive entre clínicas de recuperação para tratar a anorexia. Ela abandonou a faculdade, tem aspecto de doente, está muitíssimo abaixo do peso ideal - mas parece se divertir ao lado da irmã ao “adivinhar” o número de calorias de cada alimento do prato. A produção, que estreou na Netflix no dia 14 de julho, já começa de forma perturbadora.


To the bone tem uma série de cenas incômodas. Conduzido pela roteirista e diretora Marti Noxon, que contou já ter sofrido distúrbio alimentar, o filme mostra a entrada da protagonista em uma clínica de recuperação pouco convencional, onde os pacientes são desafiados a atingir metas e recebem premiações. A casa comporta sete pessoas com diferentes doenças - da compulsão alimentar a bulimia -e é chefiada por um médico de práticas peculiares, vivido pelo ator Keanu Reeves.

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O filme foi exibido em um festival, em janeiro, e não chegou nem a entrar em circuito comercial, pois imediatamente teve os direitos comprados pela Netflix. Mas, desde a publicação do trailer, a plataforma de streamming recebeu uma série de críticas ao tom da produção - que estaria mais desinformando e glamourizando a anorexia do que servindo como alerta para um assunto tabu. A polêmica é semelhante a desaprovação da série 13 Reasons Why, que, para falar sobre o suicídio entre adolescentes, mostrou cenas explícitas de violência sexual, agressão física e inquietações mentais.


O filme tem uma questão relevante e merece, sim, ser discutido. Ignorar doenças e temas polêmicos não é estratégia de prevenção. Para alertar sobre distúrbios alimentares - ou sobre suicídio, ou sobre depressão, ou sobre bullying - é necessário falar sobre o assunto. Mas o fato é que To the bone tem cenas extremamente fortes e é necessário estar preparado para passar pelas sequências. Quando Ellen sobe na balança diante da madrasta, o espectador sofre uma mistura de angústia e choque. Vemos os ossos, a magreza e os males que a busca por um “corpo ideal” podem causar.

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Prova disso é que, para viver a protagonista, a atriz Lily Collins precisou perder peso. Foi elogiada, perguntaram o que estava fazendo para “conseguir aquele corpo”. Uma comprovação clara de que nossa sociedade tem valores invertidos por uma imagem padronizada e extremamente magra. Lily, aliás, sofreu com distúrbios alimentares na adolescência.


To the bone é um filme necessário, porém perturbador e não indicado para pessoas que não estão preparadas para os vários choques. A produção acerta pelos diálogos tão divertidos quanto tocantes, como a conversa entre Ellen e sua irmã após uma desastrosa sessão de terapia familiar. Há cenas de reinvenção e de superação, há risos e diversão na clínica. O pai, que não aparece visualmente em nenhum momento, é outro elemento inquietante. Nos últimos momentos, vemos o quanto Ellen está doente. Ela se desencontra dentro do tratamento e busca outro caminho. Novo erro. A sequência final tem uma inacreditável cena entre mãe e filha. O momento é tão cheio de camadas e tão simbólico que só pode ser compreendido por quem assistiu. E, ao fim, a protagonista alcança a merecida redenção.

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