A comunidade da Zareia, localizada no bairro Papicu, assim como tantas outras da capital cearense ou mesmo espalhadas Brasil afora, é lugar de carências. Em meio a memórias afetivas, brincadeiras populares e o sonho de ser jogador de futebol, o menino/adolescente Felipe viu-se diante de uma realidade dura que, segundo ele, configurava-se em tons de sépia.

Batizado como Ribamar Felipe Souza Miranda, o filho de Dona Luziane e Seu Ribamar cresceu convivendo com a polícia em sua porta e outros, digamos, entraves. “(...) passei a observar tudo e todos mais atentamente, logo percebi, aos 9 anos de idade, que toda minha família era envolvida com o crime: pai, irmão, tios e até minha mãe, consequentemente, se envolvia”, detalha ele em Sonhos e as Pedras no Caminho.

O livro, saído pela Cene Editora, conta não só a trajetória de Felipe - que adotou o sobrenome Rima quando passou a integrar o mundo do rap - mas também, e sobretudo, sua história de superação através da palavra. Mais precisamente da literatura de Carlos Drummond de Andrade. Sonhos e as Pedras no Caminho terá seu primeiro lançamento amanhã, 16, às 18 horas, no Espaço O POVO de Cultura & Arte. “O lançamento oficial pela editora vai acontecer somente no dia 28 de agosto. O evento de amanhã acontece dentro da II Feira de livros da Livraria Dummar, e já vai ser uma forma de colocar esse livro no mundo em primeira mão”, adianta ele.

“Na verdade, um dos meus primeiros contatos com a arte foi através da literatura. Foi uma experiência muito expressiva quando, aos 14 anos, eu conheci um projeto social – Enxame – lá no Mucuripe. A (socióloga) Glória Diógenes estava lá e me apresentou a poesia de Drummond. O meu sonho, na época, era dominar o crime, o tráfico, meu pai estava viciado no crack...”, relembra o rapper, que atualmente também desdobra-se nas funções de palestrante motivacional, empreendedor e produtor cultural.

“Então isso me conectou com a poesia, principalmente quando ele (Drummond) diz ‘No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho...’. Aquela pedra era o crack... Percebi que a poesia poderia me tocar de alguma forma e comecei a fazer várias poesias”, complementa. Ao longo de 112 páginas, Felipe narra em primeira pessoa, traz à tona personagens e vivências que culminaram no que o rapper chama de um novo ciclo em sua história.

Dividido em seis capítulos, Felipe destaca o primeiro, que faz alusão a sua comunidade, e o último, que faz um balanço de suas vitórias, apesar das perdas e das várias cicatrizes pelo caminho. “Ainda existem muitos desafios, eles sempre existirão. Mas essa história irá ecoar pelo mundo e tenho certeza de que muitas pessoas irão receber com a mesma gratidão que recebo essa poesia hoje”, escreve o rapper, que prepara-se para lançar seu primeiro CD oficial ainda neste semestre.

“O primeiro CD gravei num estúdio independente em 2010 (Entre o Batuque do Coração e a Poesia da Vitória). Lançamos em 2011 e teve mais de 10 mil cópias vendidas”, explicou. Atualmente, Felipe Rima reside no bairro Cidade 2000 e mantém a produtora de arte urbana Batuque do Coração (Papicu). Além disso, é um dos nomes que compõem o seleto grupo de artistas vinculados à Red Bull. “Sou um artista empreendedor da (plataforma) Red Bull Amaphiko no mundo. Meu primeiro disco de carreira foi gravado em São Paulo, no maior estúdio da América Latina e está sendo finalizado agora nos Estados Unidos”, comemora.

Para um segundo livro, Felipe já tem até material. “Claro, vão vir outras ideias, outros temas, mas já fica aí um gostinho de que está ainda por vir”. Em relação a atual publicação, ele reflete. “Fazendo 30 anos agora (celebrou no último dia 8 de agosto), esse livro traz mais do que poesias. Então é um ciclo que se abre e outro que se fecha. Eu chego aos 30 com esse sentimento de que valeu a pena”, conclui.

Lançamento do livro Sonhos e as Pedras no Caminho, de Felipe Rima

Onde: Espaço O POVO de Cultura & Arte (av. Aguanambi, 282 / sede do jornal O POVO – José Bonifácio)

Outras informações: (85) 3255 6276 / 3255 6037