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Projeto refaz expedição imperial
Vida & Arte

Projeto refaz expedição imperial

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Do contato com o livro Comissão Científica do Império – 1859-1861, da historiadora Lorelai Kury, o grupo formado pela produtora Clara Bastos, o artista e professor Yuri Firmeza, o cineasta Leonardo Mouramateus, o músico Danilo Carvalho e o pesquisador Érico Araújo Lima se uniu em torno de um projeto: viajar pelo mesmo percurso da expedição científica imperial feita no século XIX. A partir da viagem — que passou por municípios como Aracati, Quixadá, Icó e Juazeiro do Norte e na qual registraram sons, imagens e sensações da experiência —, o grupo prevê um filme e “experiências instalativas”. O projeto inclui ainda o seminário O trabalho das ruínas: genealogias, ficções, (re)montagens, com palestras sobre diversos temas que se relacionam e ultrapassam a pesquisa do grupo, e que será realizado de hoje a sexta-feira, 18, no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB). A iniciativa recebeu apoio do Rumos Itaú Cultural, edital público que já auxiliou a produção e difusão de mais de 1,3 mil trabalhos de artistas, produtores e pesquisadores.


Percepções

Mesmo que a rota traçada séculos atrás tenha sido base para o trajeto feito em janeiro deste ano, a proposta não foi puramente refazer a comissão, mas sim criar reflexões e distanciamentos a partir dela. “A gente parte dessa experiência histórica, mas põe questões: qual a relação que estabelecemos com essa comissão? Ela tinha questões de poder, de esquadrinhar um território. Não queríamos ter esse gesto no que ele implica de poder, nosso interesse era na experiência de viagem, em observar os detalhes, nos encontros com as pessoas”, elabora Érico. “Nosso desejo era desmontar o mapa, criar uma espécie de torção desse projeto de produção de um saber sobre o Brasil, que era uma das pautas da expedição”, avança Yuri.

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Os registros estão sendo montados por Lívia de Paiva e o filme, Érico conta, “está tomando um rumo cada vez mais mágico, de fábula”. A ideia, explica ele, é partir do passado para pensar o presente. “Queremos discutir a possibilidade de se relacionar com o tempo, tomar o século XIX para pensar o presente, saber o que sobrevive nos nossos tempos”, elabora. “A expedição tinha expropriações, a força dos saques. No presente, encontramos na rota grandes empreendimentos que também estão fazendo saques, operando o desaparecimento de formas de vida”, relaciona.


O seminário surge como estimulador para pensar a realização do filme, mas não apenas. “Ele é um convite para alargar as coisas, para trazer questões à Cidade”, afirma Érico. Para tanto, os três dias de O trabalho das ruínas contarão com palestras de pesquisadores de diversas áreas, como história, geografia, filosofia, artes plásticas, teatro e cinema. Das falas do evento, uma publicação futura deve ser editada. “O projeto surge com pluralidade de interesses e campos”, afirma Yuri. “A partir de suas pesquisas, cada convidado entra por uma janela, uma porta. São várias as maneiras de acessar as questões. Nossa aposta é que o seminário tenha transversalidade entre nós, os convidados e a Cidade”, torce Érico. Na programação, estão previstas, por exemplo, de uma palestra do doutor em geografia Jeovah Meireles sobre resistência de comunidades tradicionais, à discussão sobre tempo e biopolítica com o filósofo húngaro Peter Pál Pelbart, encerrando com uma festa no Salão das Ilusões com performance do Coletivo Chá das Cinco, de Icó.


“Várias formas ancestrais têm sobrevivido, é uma energia para resistir aos projetos de poder”, inspira-se Érico. “Não estamos interessados em ir ao passado histórico para permanecer nele. É uma espécie de catapulta. Não é um resgate do que foi, mas é pensar o que continua sendo”, resume Yuri.

 

SERVIÇO

 

O trabalho das ruínas: genealogias, ficções, (re)montagens

Quando: 16 a 18, de 16 às 20h

Onde: CCBNB-Fortaleza (rua Conde d’Eu, 560 - Centro)

Entrada gratuita.

Programação: www.otrabalhodaruinas.tumblr.com

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