Na intenção de levar para o Centro de Fortaleza os movimentos das periferias, o coletivo É o Gera! assume a partir de outubro a ocupação do Teatro Carlos Câmara (TCC), gerido pela Secretaria da Cultura do Ceará (Secult). Formado pelos coletivos Servilost (Serviluz), Natora (Carlito Pamplona e Pirambu) e Ocupa Cajueiro (comunidade do Dendê e Edson Queiroz), além de diversos parceiros, o projeto vai promover as programações do equipamento cultural durante sete meses. Projetado através da união, o coletivo espera oferecer novas possibilidades e visões para e sobre as periferias da Capital. Em uma visita ao TCC, o Vida&Arte conversou com alguns dos envolvidos na ocupação.
Entre as propostas, estão promover trocas entre as periferias e o Centro e mostrar que equipamentos culturais podem, sim, ser ocupados por saraus, batalhas de hip hop e encontros de reggae. “É muito bacana essa ideia de unir coletivos, trazer a periferia pro Centro, trazer envolvimento e momentos de cultura. A periferia não é só uma coisa, também tem dança, poesia, entendeu?”, ressalta Luana Campigotto, do coletivo e moradora do Serviluz. Entre as programações já pensadas pelo É o Gera! estão o Se intera, pivete, voltado para estudantes de escolas públicas; o Hip Hop Gera, que destaca o gênero musical e conta com formação no Hip Hop Lab; o Encontro de raízes, de cultura popular; o Encontro da diversidade, para congregar diferentes linguagens; e, aos finais de semana, a Feira do Agilizo, aberta aos produtores das comunidades.
[QUOTE1]Além do Hip Hop Lab, a ocupação contará com mais momentos de formação teórico-prática, em parceria com o Instituto de Artes e Técnicas em Comunicação (Iatec), nas áreas de iluminação, sonoplastia e roadie. “Essas oficinas a gente pode levar pra vida, vai poder trabalhar nisso. Muitas coisas a gente já está até levando para eventos dos nossos próprios coletivos”, conta Luana. “A formação será de qualidade, com uma boa carga horária, e isso pode gerar uma porção de coisas, é uma centelha para futuros profissionais dessas áreas”, projeta Fernando Piancó, diretor do TCC.
A integração das periferias com o Centro é um dos principais objetivos do coletivo. “A proposta é a de fazer um projeto que dialogue com os três coletivos, as regiões e, para além, também dialogue com outras periferias da Cidade”, resume Vanessa Cabral, assessora de imprensa convidada pelo É o Gera!. Nesse sentido, por exemplo, a ideia é estabelecer uma relação de maior impacto com a comunidade do Oitão Preto, que fica próxima à Estação João Felipe, a poucos minutos do TCC. “O Oitão Preto, as periferias, elas precisam muito disso. A gente quer trazer um movimento entre o Centro, as nossas periferias, a galera da Leste, do Pirambu. Envolver”, define Luana. “O Teatro Carlos Câmara sempre teve a característica da diversidade. A chegada desse novo projeto traz outras expressões que não vigoravam 100% aqui nas ocupações anteriores, e isso contribui para essa diversidade”, ressalta Piancó. “Esses sete meses vão ser uma oportunidade da gente ver a pulsação que acontece na periferia com seus projetos, seus artistas, suas pessoas, seus diálogos, seus sonhos”, completa o diretor.
Morador do Oitão Preto, Michel Vibration trabalha com a mãe vendendo salgados, mas também se envolve em ações comunitárias e é um dos agentes que, mesmo fora de coletivos, chega para somar à ocupação. Na avaliação do jovem, o projeto pode estimular o acesso dos moradores do Oitão à arte e cultura. “O teatro é do lado da comunidade, mas ela não se sente empoderada de estar aqui. O É o Gera! quer fazer essa inclusão. Se a galera da comunidade não vem pro teatro, a gente leva o teatro pra comunidade, queremos fazer ações lá”, adianta. “Olhar para o Oitão é uma causa, e também um fardo pesado. Mas ele não é só meu quando eu encontro essa galera que é do bem, que quer agregar. Temos uma rede que vem atuando nas comunidades mesmo sem a estrutura do governo. Não estamos dizendo que o É o Gera! vai mudar a situação do Oitão ou das comunidades, mas a gente tá dizendo que se a gente se unir, seguir segurando o fardo juntos, a gente pode ao menos mudar as perspectivas da realidade dessa galera”, confia.