Hoje Falcão completa 60 anos e, há quase 30, começou a cantar sua irreverência por aí. Vindo de Pereiro, cidadezinha distante 342km da Capital, Marcondes Falcão Maia formou-se arquiteto pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E foi por obra do destino, acredita ele, que enveredou para o lado da “molecagem”. “Claro que a gente tem o nosso livre arbítrio, mas acredito muito nisso de que estava escrito”. Além do mais, o que o cantor e humorista apresenta nos palcos nada mais são do que “as fuleiragem do dia a dia, são coisas da natureza cearense” que carrega consigo.
Conhecido pelas letras irreverentes e pelo visual ousado - marcado principalmente pelo girassol na lapela -, Falcão começou a fazer sucesso no final da década de 1980 com músicas como I’m not dog no e Hollyday foi muito, tocando em temas como universo LGBT, sociedade, romance e traição, sempre se valendo da ironia e do humor. Mas, para ele, os tempos eram outros e talvez hoje as composições não fossem tão bem aceitas assim. “Hoje em dia muita gente debate só pelo fuxico e pelo prazer de ser do contra”, comenta.
Quando o humorista começou a fazer sucesso, não havia internet como hoje, e essa modernidade o traz um certo receio. “Todo mundo tá escondido atrás da tela e acha que tem o direito de sair falando tudo, acha que tem um antagonismo do bem e do mal, o sagrado com o profano. Isso me dá medo de que possa eclodir uma coisa mais séria, as pessoas são muito afetadas com pouca besteira”, pondera.
Outro ponto no qual o cantor toca em suas composições, ainda que nas entrelinhas, é a política. “E tem que ser nas entrelinhas. Se eu faço uma música hoje falando diretamente do Joesley Batista, semana que vem já aparece outro e ninguém se lembra. A política brasileira quase não dá pra acompanhar”. A solução? “É brincar e esculhambar em cima disso tudo”.
Antenado, Falcão acompanhou as notícias sobre o cancelamento da exposição Queermuseu – Cartografias da diferença na arte brasileira, exposta no Santander Cultural, em Porto Alegre. “Eu queria que o pessoal que reclamou ouvisse as minhas músicas”, ri. E é ai que entra o papel do humor na sociedade. “Ditadura nenhuma resiste a um cara rindo na frente dela. O humor tem essa função de derrubar preconceitos, mas tem aqueles que fazem humor para aumentar também”, pondera.
Atualmente, o artista viaja com a turnê Altamente mais ou menos, um stand up diferente, como ele mesmo define, em que apresenta suas composições, acompanhando de um violão, e explicando a história de cada uma delas. “Tem a nova geração que vai ao meu show e causa um certo espanto neles. Eles não imaginam que tem um sujeito fazendo esse tipo de música há tanto tempo. É igual a morte do Belchior, muita gente não conhecia e passou a conhecer, tô sentindo uma coisa parecida”.
Além de cantar, Falcão já teve bloco de Carnaval, lançou livro, apresenta programa de televisão, entre outras atividades. Agora a empreitada é atuar. “Gostaria de fazer uma novela na Globo, mas tem que se desafiadora”, e conta que arriscaria um papel de vilão ou algo mais sério, diferente do seu perfil.
SAIBA MAIS
Na música
Como cantor, Falcão já gravou nove discos, o último deles foi Sucessão de sucessos que se sucedem sucessivamente sem cessar, lançado em 2015, com músicas como Coração de Frango e Mulheres Modernas.Na televisão
O humorista apresenta semanalmente o talk show Leruaite, que tem quadros como “S’eu cozinho com Falcão” e “Siobrando”. Nele, Falcão já entrevistou personalidades como Cid Gomes e Raimundo Fagner. O programa ainda conta a banda Num Tô Nem Vendo, formada por músicos cegos.
No cinema
Como ator, Falcão já participou dos filmes Cine Holliúdy e O Shaolin do Sertão, do diretor cearense Halder Gomes, onde interpretou um cego que é cinéfilo, especializado em sci -fi e um mestre de artes marciais. Ele também está Cine Holliúdy 2 – A chibata Sideral, que está em fase de pós-produção.