Arte cênica com olhar deslocado: sai o protagonismo da visão e ganha destaque a audição. Assim é Acorda, amor!, peça que chega agora ao palco da Caixa Cultural, na Praia de Iracema. Com elenco que reúne artistas de diferentes estados do País (incluindo atores cegos), o espetáculo apresenta experiência de fruição diferenciada. As apresentações são amanhã e sábado, às 20 horas e domingo, às 19 horas.
“O objetivo é colocar todos na situação de deficiente visual, a partir de como eles enxergam o mundo”, destalha o diretor musical Luiz Mel, que integra a Social Samba Fino, banda que executa ao vivo as músicas do espetáculo. “Foi muito diferente descobrir os caminhos para interpretar as músicas no escuro. Tivemos de aprender técnicas de músicos cegos. Precisamos conhecer bem os instrumentos para tocar na escuridão total”, explica.
Em cena, a banda executa faixas do compositor e cantor Chico Buarque em repertório que vai da música título da obra a clássicos como Roda viva e Samba do grande amor. As canções vão costurando a trama, que é também conduzida por cheiros e sensações táteis, que figuram como elementos importantes para a compreensão do enredo.
A trama conta a história de quatro jovens que lutam contra a ditadura militar nos anos de 1970. “Eles dividem um aparelho, que é como eram chamadas casas clandestinas dos envolvidos com a guerrilha. Ninguém sabe o nome verdadeiro do outro e eles criam estratégias para lutar pela volta da democracia”, destaca Luiz. Enquanto tentam driblar os militares, Paulo, Lucas e Cesar lutam pelo amor de Natasha. O amadurecimento das relações entre esses quatro jovens, ao mesmo tempo em que aprendem a lidar com a situação do País, é o que aproxima o público da trama.
“A relação entre os artistas e a plateia é diferente do teatro convencional. A ideia é que todo mundo esteja no mesmo espaço, as interpretações acontecem em meio ao público, que não está só assistindo a uma cena, mas que está dentro dela”, detalha o diretor.
Para ele, a possibilidade de criar teatro cego abre espaço no mercado das artes cênicas para atores que não enxergam. “Eles não ficam restritos a fazer papel de cego, apenas e o público pode viver uma experiência sensorial muito mais complexa”.
SERVIÇO
Teatro Cego - ‘Acorda, Amor!’
Quando: amanhã e sábado, às 20 horas, e domingo, às 19 horasOnde: Caixa Cultural (Av. Pessoa Anta, 287, Praia de Iracema)
Quanto: R$ 10 (inteira)