O nome da cearense Cacique Pequena é grande, mas hoje à noite pode se agigantar ainda mais - o nome, vale repetir, pois ela própria já se mostrou gigante. Líder dos Jenipapo-Kanindé - aldeia no município de Aquiraz-, primeira cacique mulher do País, cantora, ativista pela manutenção da cultura de seu povo e pelas causas indígenas, Pequena é uma das indicadas na 22ª edição do Prêmio CLAUDIA na categoria Cultura. A premiação ocorre hoje à noite na Sala São Paulo, na capital paulista.
Considerado uma das principais premiações femininas da América Latina, o Prêmio Cláudia procura reconhecer em suas indicações pessoas cujas ações sejam inovadoras e tenham impacto social. Neste ano, são oito categorias, sete voltadas apenas para mulheres (como Ciências, Negócios e Trabalho Social, por exemplo), e uma voltada para projetos comandados por homens que tenham como foco o bem-estar feminino. Em Cultura, além de Pequena, as outras finalistas são a historiadora carioca Karen Worcman, criadora do Museu da Pessoa, e a escritora mineira Conceição Evaristo.
[QUOTE1]Como explica Giuliana Bergamo, jornalista responsável do Prêmio CLAUDIA, a escolha das finalistas se dá através de indicações feitas por antigas concorrentes, leitoras e colegas, a partir de um banco de fontes que soma cerca de 300 pessoas. “A gente entra em contato com elas pedindo as indicações e a escolha se dá a partir dos critérios de impacto social e inovação nas áreas de atuação”, contextualiza. O nome da Cacique surgiu a partir de uma dessas indicações e a equipe da revista foi até Aquiraz entrevistá-la. “Fiquei impressionada com a história dela e optamos por conhecê-la”, conta Giuliana. Na edição do ano passado do prêmio, a também cearense Maria da Penha recebeu um troféu hors concours (fora de competição). “O Ceará está sempre no nosso roteiro, tem muitas coisas interessantes acontecendo aí. As pessoas conhecem o nome da Maria da Penha pela lei, mas nem sempre conhecem a história e a atuação dela”, aponta Giuliana.
Para Cacique Pequena, a indicação ao prêmio é importante também no sentido de visibilidade para os Jenipapo-Kanindé. “É uma repercussão da minha história, da história do meu povo. A maioria do pessoal não-índio não sabe sobre ela, mas através dessa indicação muita gente vai ficar sabendo”, comemora. Elisangela Almeida de Freitas, coordenadora de mobilização cultural da Secretaria da Cultura de Aquiraz, aponta o destaque dado à Pequena como uma honra ao município. “Ainda existem preconceitos e tabus, mas ela, como pessoa e guerreira, está dando nome e valor ao nosso município. É uma grande honra ela ser filha de Aquiraz”, afirma.
“A Cacique tem um perfil híbrido, poderia estar facilmente indicada na categoria de Políticas Públicas pelo histórico de batalha pelos direitos da aldeia dela”, pondera Giuliana. “Optamos por deixá-la em Cultura porque o nome foi indicado para a categoria e, por trás de toda essa batalha, há a luta pela manutenção da cultura indígena, que culmina na gravação do CD dela, Beleza da Vida, gravado com músicas que retratam o cotidiano dela e da aldeia”, avança. Mesmo perto do momento da premiação, a Cacique se mostra tranquila. “Eu tô bem, tô normal. Se eu ganhar, agradeço a Deus, se eu não ganhar, também agradeço a Deus. Entrego na mão do pai Tupã e é ele quem vai dizer a cada uma das nossas finalistas quem terá a sorte de ganhar. Não tenho nada a dizer mais, só que tô muito feliz”.