Apenas 20 anos nos separam da época em que os benefícios de smartphones e da internet não existiam. Naqueles tempos, para se manter informado sobre as novidades de música e cinema, era preciso paciência. A opção era esperar pelas revistas especializadas ou pelos programas de entretenimento na televisão. No primeiro semestre de 1997, esses canais começavam a falar sobre um filme que prometia ser o maior da temporada.
A história do Titanic, um dos maiores navios do mundo, cujo naufrágio vitimizou mais de 1500 pessoas em 1912, ganharia outra versão nas telonas. Dessa vez, o roteiro falava da busca de uma joia que estaria perdida nos escombros do navio. Uma embarcação vendida como “insubmergível” e considerada o maior objeto móvel já construído pelo homem que, ironicamente, afunda em sua primeira viagem após colidir com um iceberg parece enredo de Hollywood, mas era vida real. Para contar a história, o diretor fez dezenas de mergulhos onde estão os escombros, usando uma tecnologia experimental de submarinos.
[SAIBAMAIS]Nesse cenário, ocorre a história de amor entre passageiros de classes sociais diferentes. Rose DeWitt Bukater (Kate Winslet) é uma jovem aristocrata americana, de casamento arranjado, que se sente sufocada com as obrigações femininas e de sua classe. Ela enxerga em Jack Dawson (Leonardo DiCaprio), um artista plástico pobre, a possibilidade de uma vida diferente da planejada. No entanto, a paixão precisa sobreviver ao naufrágio do navio.
A mídia começou cedo a especular sobre Titanic, a nova obra do diretor James Cameron. O cineasta tinha passado três anos escrevendo, produzindo e filmando o projeto. Mas a verdade é que o filme começou bem antes disso, em 1989, durante as filmagens de O Segredo do Abismo. Para fazer as cenas submarinas do longa, ele se baseou no documentário The Discovery Of Titanic (1985). A partir daí, escreveu o primeiro rascunho do longa com 167 páginas.
Início das filmagens
Mesmo com dimensões colossais de estrutura e orçamento, as filmagens de Titanic aconteceram quase em segredo. Mas se o que estava na frente das câmeras era guardado sob sete chaves, os rumores de crises se espalhavam pela mídia. As críticas mais negativas davam conta que a obra afundaria nas bilheterias assim como o navio ou até que o longa seria responsável pela falência dos estúdios Fox. Atraso de seis meses na estreia, insatisfação de técnicos com as jornadas de trabalho, boatos de chiliques e um colapso nervoso do diretor, sabotagens nas filmagens e rejeição de grandes cantoras para interpretar a música-tema só reforçavam as previsões. Muitos dos críticos até questionavam se Cameron, conhecido por filmes de ação e ficção científica, teria sensibilidade suficiente para retratar o drama humano dos passageiros.
Quando o filme foi exibido pela primeira vez ao público, imprensa e membros da família real britânica, numa estreia beneficente em Londres, há 20 anos, nem mesmo as previsões mais simpáticas poderiam imaginar tamanho sucesso: Titanic virou um fenômeno mundial. As pessoas disputavam ingressos das sessões lotadas por meses, o rosto de DiCaprio estava nas capas das revistas, a música-tema My Heart Will Go On, na voz de Céline Dion, tocava nas rádios a exaustão. O “Romeu e Julieta” moderno encantara o planeta.
Elenco
Cameron tinha o cenário e as tecnologias, mas precisava de um bom elenco para conduzir a plateia. Para dar vida aos protagonistas, o diretor decidiu apostar em rostos relativamente novos. Para Jack, Leonardo DiCaprio não foi a primeira opção. Tom Cruise tinha sido cotado, mas foi substituído já que o diretor queria alguém mais jovem. DiCaprio iniciou a carreira ainda criança e começava a despontar em Hollywood, chamando a atenção em Gilbert Grape – Aprendiz de um sonhador (1993), que rendeu a primeira indicação ao Oscar, e em Eclipse de uma paixão (1995), como o poeta homossexual Arthur Rimbaud.
Para viver a melancólica e sonhadora Rose, entra em cena Kate Winslet, que mesmo com pouca idade já mostrava talento em obras como Razão e Sensibilidade (1995), recebendo pelo filme sua primeira indicação ao Oscar, e também coragem, como no polêmico Almas Gêmeas (1994), que conta a história real de amor entre duas adolescentes que acabou em tragédia na Nova Zelândia. Para os coadjuvantes, o cineasta convocou atores consagrados como Kathy Bates, Frances Fisher, Billy Zane e a veterana Gloria Stuart, uma das beldades das primeiras décadas do cinema.
Comandando todos esses elementos, Cameron declarou várias vezes que “sentia” o peso do próprio navio nas costas. O cineasta reforçava a fama de ser exigente, perfeccionista obsessivo, que não hesitava em filmar a mesma cena dezenas de vezes. O inchaço recorde no orçamento, inclusive, fez que ele partisse para a briga com os executivos da Fox. A discussão terminou com Cameron abrindo mão de parte do cachê e da participação nos lucros. Com as filmagens finalizadas, o diretor se trancou por semanas na ilha de edição para finalizar o filme, já que a versão original tinha cinco horas, considerada longa demais para o público comercial. Chegou-se então à versão que conhecemos, com 3h15min.
Todo o esforço acabou valendo a pena. Em poucas semanas, os estúdios viram de volta (e multiplicado) o investimento de US$ 300 milhões. Titanic arrecadou mais de US$ 1,8 bilhão, sendo a maior bilheteria da história até 2009, quando foi desbancado por Avatar, também de James Cameron. Com todos os relançamentos, o filme acumula mais de US$ 2 bilhões em bilheteria. O reconhecimento também veio na forma de prêmios. A obra é recordista em indicações ao Oscar (14), tendo vencido 11, incluindo Melhor Filme e Direção.