Os galhos e a vegetação rala da caatinga viram arte aos olhos de Roberto Galvão. A série Mato Branco, produzida desde 2009, ganha exposição a partir desta quarta-feira, 22. São desenhos, aquarelas, pinturas e esculturas que retratam o semiárido nordestino em linhas, formas e contornos não convencionais, fugindo dos estereótipos ligados à região sem, no entanto, perder os aspectos principais da paisagem do agreste. As aproximadamente 100 peças ficam expostas até dia 20 de janeiro de 2018 no Palácio da Abolição.
A primeira parte de Mato Branco já havia sido exposta em Fortaleza, em 2013. A Bahia também recebeu a mostra no ano passado. Desta vez, o artista apresenta uma síntese das obras produzida ao longo dos oito anos de trabalho com a temática. A ideia surgiu durante as viagens dele para Sobral, onde trabalhava na época. A série mostra imagens com uma estética construtivista. A intenção, segundo Roberto, é propor “imagens únicas”, provocando no espectador uma experiência diferente.
[QUOTE1]Os 53 anos de arte de Roberto Galvão abordam bastante a paisagem do agreste e o espaço cearense como um todo. Desde as dunas fortalezenses na década de 1970 até as arraias de pipa das brincadeiras das crianças nordestinas, traz em suas obras a preocupação de abordar o que é próprio da região. “O artista trabalha para o seu público, para sua comunidade e para a cidade”, ele considera. “Eu tenho que olhar e falar para o público do Ceará”.
Roberto fala da tendência que ele observa nos artistas locais de pautar temas internacionais, o que seria, de certa forma, “alienante”. Outra crítica é sobre o ensino de história da arte nas escolas que, quando existe, não dá espaço para a arte local. “A gente sabe mais da arte francesa que do pintor que vive vizinho a nossa casa”, lamenta.
Para o artista plástico cearense Weaveer Lima, Mato Branco é um dos trabalhos mais ricos de Roberto Galvão. Ele elogia a arte do amigo por ele “assumir papel não só de artista, mas de fomentador”, ao “promover e pesquisar o trabalho dos artistas cearenses”. José Guedes, artista plástico e curador da exposição, considera a mostra um “épico” sobre a questão do semiárido. “Faz um registro da situação de seca com a esperança do florecer”, diz.
Artista desde os sete anos de idade, desenhando e colorindo aquarelas, Roberto Galvão hoje se dedica à técnica da xilogravura. Não sabe se Mato Branco gerará mais frutos, se continuará ou não com a série. A expectativa, por enquanto, é que o público possa perceber a beleza da caatinga, “todo o vigor e a imponência expressiva dessa paisagem”.
SERVIÇO
Exposição Mato Branco
Quando: de hoje a 20 de janeiro de 2018. De segunda a sexta, das 8h às 17h30min, e sábados das 8h às 12 horasOnde: Palácio da Abolição (Av. Barão de Studart, 500 - Meireles)
Gratuito