O horror tem entre suas capacidades a de desconstruir a sensação de que estamos seguros no mundo. Para ficar só em um exemplo, essa técnica pode ser notada em filmes de terror como Sexta-Feira 13, com direção de Sean S. Cunningham. No clássico do gênero, o diretor nos mostra como nada está seguro, em lugar ou época nenhuma, já que um assassino ameaça a vida de um grupo de adolescentes que está em uma casa situada próxima a um lago. O local é conhecido pela segurança e anonimato.

Por isso, o Natal também se tornou um tema recorrente nos filmes de terror. Nessa época, os diretores abordam a ideia do acolhimento familiar como uma segurança instável. O cinéfilo e crítico Caio Maciel destaca que o Natal, sendo “a época mais feliz do ano”, é marcado pela harmonia e confraternização entre as famílias. Isso garante que os cineastas aproveitem a oportunidade para compor narrativas perturbadoras em um tempo e lugar destinado a ser pacífico. Ele conta que, mesmo nas narrativas voltadas para as crianças, os diretores usam figuras monstruosas para discutir lições de moral e ensinamentos implícitos. “Essas obras ensinam e educam, através do terror. O que deve e o que não deve ser feito, como desobedecer aos pais ou ser contra a prática de Natal” completa.

Já o crítico de cinema e criador da página do Facebook Garçom, me vê um filme, Tiago Araújo, enfatiza que assiste aos filmes de terror natalino como algo de redenção. “O Grinch, por exemplo, é uma criatura bizarra que odeia o Natal, mas que no final passa por uma transformação. É uma ótima época para você criar histórias em cima disso e gerar uma associação com temas morais que enfrentamos na sociedade. É possível que existam ironias, até porque a própria figura de um velhinho barbudo entrando em chaminés é um tanto quanto esquisita”. Para o crítico, a própria ideia de se ter um monstro que passa por uma redenção pode ser “uma metáfora do quanto os seres humanos são ruins durante o ano e no Natal aprendem lições valiosas de moralidade e ética”.

O estudante Klausney Muniz conta que um dos motivos que incitam tal associação é o gatilho criativo, uma vez que o terror tem o poder de subverter gêneros, costumes e “brincar” com eles. “Existem pessoas que carregam uma má lembrança da data, outras que não dão tanta importância. Enfim, depende muito das vivências e contextos de cada indivíduo”.

Segundo Klausney, em outros casos, os diretores trabalham “somente para divertir o público”, sem pretender levantar uma discussão sobre o Natal ou a redenção. Ele usa como exemplo O Santo (2010). No filme, São Nicolau, espírito de um bispo do século XV, rouba e mata crianças em cima de seu cavalo, no início de dezembro. Ou como em Uma Noite de Fúria (2005), que mostra dois jovens que precisam fugir do ataque de um Papai Noel que está livre de uma aposta milenar, feita com um anjo, e finalmente pode agir como um serial killer. 

NATALINOS E HORRIPILANTES...

Uma Noite de Fúria (2005)

No filme de David Steiman, o Papai Noel sempre foi um assassino, porém perdeu uma aposta com um anjo e teve que ser bom por mil anos. Depois desse prazo, ele procura recuperar a maldade perdida e corrigir sua reputação.

Jack Frost (1997)

O filme, dirigido por Michael Cooney, conta a história de Jack Frost, um assassino que morre após um acidente de estrada. Seu corpo se mistura com a neve e ele se transforma em um terrível monstro com dentes afiados e desejo de matar.

O estranho mundo de Jack (1993)

O rei da cidade do Halloween decide espalhar a alegria do Natal por todo o mundo. Mas sua bem-intencionada missão acaba deixando as pessoas sem natal. O filme teve produção e roteiro assinados por
Tim Burton.

Gremlins (1984)

No filme de Joe Dante, Rand dá de presente para o filho um ser gracioso, mas que exige muito cuidados. Quando esses cuidados não são tomados, o bichinho se multiplica em pequenos monstros.