A garota de lábios vermelhos como o sangue, cabelo preto como o ébano e pele branca como a neve é uma das personagens mais emblemáticas do imaginário de crianças e adultos. Escrita pela primeira vez nos contos dos Irmãos Grimm no século XIX, a história de Branca de Neve é ainda mais antiga, tendo suas origens na tradição oral da Idade Média. Desde então, a saga da princesa foi recontada inúmeras vezes, sendo uma das mais famosas versões o filme de Walt Disney Branca de Neve e os Sete Anões, que completa 80 anos neste 21 de dezembro. Por ser a primeira princesa que constitui os clássicos filmes da Disney, Branca de Neve é lembrada por fãs e estudiosos da animação e do cinema.
[SAIBAMAIS]A simplicidade dos contos de fadas não impede essas histórias de terem um significado complexo para a literatura, o cinema e para as pessoas que cresceram com elas. O encantamento, as músicas e as danças desses filmes dão uma contribuição necessária para a imaginação das crianças. Adaptar assuntos como amizade, amor, vingança e realização de sonhos nos longas de animação e ainda conseguir alcançar grandes públicos é uma forma artística que não se perde com o tempo. O desenrolar da trama de uma menina que passa por adversidades, como o ódio da madrasta, e mesmo assim acaba “feliz para sempre” com seu príncipe virou base para outras histórias, tanto da Disney quanto de outros produtores.
Por décadas, o final feliz de Branca de Neve serviu de inspiração para meninas para valores e papéis de gênero. “A construção de uma personagem de ficção traz consigo muitas informações sobre o contexto social e a visão de mundo de seus criadores. Nós somos fruto da cultura com a qual tomamos contato, e esses produtos por muito tempo reforçaram uma socialização submissa da mulher”, afirma Georgia Cruz, doutora em comunicação e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). A trama da personagem ainda tem lugar no cinema atual, mas a sua atitude tem mudado nos filmes produzidos recentemente. Em Branca de Neve e o Caçador, de 2012, a princesa vivida por Kristen Stewart une forças com o caçador que pretendia matá-la, com o príncipe e com os sete anões para derrubar o governo da madrasta má.
Nas novas representações femininas nas telas as princesas da Disney estão virando verdadeiras heroínas. A rainha Elza (Frozen, 2013) e Moana (Moana - Um mar de aventuras, 2016) são exemplos de como as narrativas vêm mudando conforme a sociedade também se modifica. “A indústria cultural percebeu que não poderia mais ignorar as mulheres como protagonistas. Hoje temos uma grande parcela das mulheres vivendo rotinas que não se encaixam mais no modelo de esperar o príncipe encantado num caixão de cristal”, explica a professora. Para Georgia, o mercado se atualiza constantemente para suprir as demandas de pais cada vez mais críticos com a educação de seus filhos e de mulheres consumidoras e produtoras de cultura que querem se sentir representadas.
Curiosidades:
1 – Os artistas que trabalharam na ilustração e coloração de Branca de Neve utilizaram mais de 200 mil células de desenho individuais para montar o longa. Para cada segundo de filme, 24 imagens eram filmadas.
2 – A dançarina Marge Champpion foi contratada para encenar os movimentos de Branca de Neve. A partir das imagens dela, os desenhistas faziam a personagem ganhar vida no papel, tornando seus gestos mais reais. Marge se divertiu também criando os trejeitos de um dos anões.
3 – Na primeira dublagem, a voz brasileira da Branca de Neve foi a da renomada cantora do rádio Dalva de Oliveira. A animação foi a primeira a ser dublada no País.