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A Primeira Noite de Um Homem completa 50 anos de lançamento no Brasil
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A Primeira Noite de Um Homem completa 50 anos de lançamento no Brasil

Focado no amadurecimento, o filme A Primeira Noite de um Homem, dirigido por Mike Nichols e protagonizado por Dustin Hoffman, completa meio século de seu lançamento nos cinemas brasileiros
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Historicamente lugar de discussão e provocação, a arte é a principal ferramenta para bagunçar o que está prevalecido. Por exemplo, o ano era 1967, quando a acomodada indústria cinematográfica lançou A Primeira Noite de um Homem, de Mike Nichols. O filme, com essa proposta de provocar, lançou discussões sobre sexualidade e amadurecimento, algo que não era comum nos longas metragens dessa época nos Estados Unidos. Com o fortalecimento desses debates, que ficaram mais latentes com o passar dos anos, o filme faz 50 anos de seu lançamento no Brasil hoje, 15.


Com trilha sonora composta por Paul Simon e Art Garfunkel, o filme conta a história do recém-formado Benjamin Braddock, vivido por Dustin Hoffman, então com 30 anos, que se encontra induzido a ter um caso com a sra. Robinson, sócia do seu pai, interpretada por Anne Bancroft, sete anos mais velha que Hoffman. O elenco conta ainda com Katharine Ross e William Daniels. A obra recebeu sete indicações ao Oscar e venceu a estatueta de direção.


“Acredito que este filme seja um dos mais representativos da primeira fase da geração sexo, drogas e rock’n’roll, da chamada Nova Hollywood, movimento cinematográfico semelhante à Nouvelle Vague na França e ao Cinema Novo no Brasil. Esse movimento falava de crises, inimizades, e ainda dialogava com a realidade de muitas pessoas da sociedade, como acontece com o protagonista Benjamin, que se encontra em um romance proibido. Até no campo da música, por exemplo, o filme foi revolucionário e é constantemente associado à lisergia (LSD)”, diz o crítico de cinema e mestre em literatura Ailton Monteiro.

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Ele também destaca que o filme de Nichols usa diversos meios inventivos e diferentes para contar uma história que poderia ser apresentada de maneira mais simples. “Em vez disso, vemos tomadas dos mais variados ângulos, mudanças de cenas inesperadas, diálogos naturais. Hollywood, há 50 anos, não apostava nisso”, conta. O crítico lembra a música de Simon e Garfunkel, que também traz esse ar de contracultura dos hippies através dos ecos do Flower Power (slogan que representava mensagens contra a violência). “Começar o filme com The Sound of Silence já é um trunfo e tanto. O mesmo pode ser dito sobre o final, que marcou a história do cinema com aquele plano do casal principal no ônibus. Enfim, não tem como não amar uma comédia romântica tão inventiva em sua técnica e que também sabe explorar dois tipos de relação: uma baseada em sexo e outra nascida do amor”, conta.


Para a pesquisadora, curadora e integrante do Coletivo Elviras, Beatriz Saldanha, o filme é praticamente o início da carreira de Mike Nichols, que a essa altura havia realizado apenas um longa-metragem. “E é também o seu apogeu, o filme pelo qual ele é mais lembrado. Sua importância está tanto em uma proposta mais experimental de linguagem cinematográfica, como na percepção da sociedade da época, através de uma crítica aos costumes da burguesia”, explica.


Ela lembra que esse pessimismo carregado de incerteza e amadurecimento, vivido no filme por burgueses, define muito bem a sensação de desencontro da juventude da época. “A obra mostra, de forma muito inteligente e bem-humorada, a farsa do ensino universitário, da família, do casamento e do próprio amor. E isso trouxe reflexão. O cinema, em 1968, precisava disso”, comenta. (Gabriel Amora)

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