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Conheça as histórias do maracatu cearense
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Conheça as histórias do maracatu cearense

Atravessando décadas, os desfiles de maracatu seguem como símbolo de resistência cultural que fala das lutas do povo negro durante os dias de folia
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"Me leva, meu

bem, me leva pro

MARACATU"

Trecho de Noite Azul (2007), composição de Pingo de Fortaleza, Parahyba e Augusto Moita, que integra o CD Prata 950 (2009), de Pingo de Fortaleza

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Maracatucar... Verbo intransitivo? Apesar de inexistente no dicionário “formal”, se transposto para a avenida, ganha contornos de brincadeira e realeza no Carnaval. Falar de maracatu cearense é ligá-lo diretamente à questão da resistência de uma cultura que ainda teima, aos trancos e barrancos, em sobreviver diante da falta de apoio e recursos.


Segundo os primeiros registros históricos via Gustavo Barroso e Otacílio de Azevedo, o maracatu acontece em terras cearenses desde o século XIX. Somente no final da década de 1930, a manifestação estreou dentro de uma programação oficial com o pioneiro Az de Ouro, liderado pelo tirador de loas Raimundo Alves Feitosa, o Raimundo Boca Aberta. E sua inspiração veio de onde?

[SAIBAMAIS]

“Existe um consenso entre os historiadores, em sua maioria, apontando para uma relação de continuidade, da existência do maracatu como prosseguimento das coroações de reis negros que aconteciam nas igrejas de Nossa Senhora do Rosário, no dia da eleição da diretoria da irmandade composta exclusivamente de negros. No caso de Fortaleza, temos inclusive uma célula musical do Auto dos Congos que se assemelha bastante ao toque solene do nosso maracatu”, explica Calé Alencar.


Cantor, compositor e produtor musical, ele - que também toca à frente, desde 2004, o Maracatu Nação Fortaleza - ressalta aspectos que diferenciam nosso maracatu de outros, por exemplo, surgidos em Pernambuco. “No caso do toque solene, existe uma proximidade com o maracatu canção, surgido na década de 1930 em Recife. Interessante é que nesse período, Raimundo Boca Aberta morou na capital pernambucana. Porém, ao voltar para Fortaleza e fundar o Az de Ouro, não adotou o toque desse maracatu canção, e sim o mais próximo do coco, da embolada, um toque dançante, alegre, certamente inspirado em sua vivência como brincante do Auto dos Congos”, pontuou.


Da mistura de fuligem, óleo infantil, talco e vaselina, surge o negrume, cantado inclusive em versos pelo cearense Ednardo em Cauim (1978): “Rainha preta do maracatu/ Nesse teu rosto de falso negrume...”. O maracatu surgido aqui, dessa forma, negaria a existência de uma negritude legítima? Para Pingo de Fortaleza, a questão do negrume teria uma conotação estética.


“Talvez o Boca Aberta tenha se influenciado pelas cambindas (grupos de mulheres que desfilam no Carnaval pernambucano) e tenha decidido aqui pela pintura, que posteriormente ganhou outros valores. Alguns grupos afirmam que essa estética seria em contraponto a um estado que não teria negros. Seria uma negação da negação: pintar-se para ser negro num estado onde não tinham negros”, afirmou. “Outros dizem que seria para esconder, já que na época só homens podiam participar do maracatu. Mas eu defendo que seja uma máscara estética de representação”, concluiu.


Atualmente, 14 agremiações de maracatu desfilam durante o período carnavalesco na Domingos Olímpio. Além do Az de Ouro, outros ganham destaque na avenida, como é o caso do Vozes da África e Nação Iracema, ambos vencedores da disputa em 2017. O Solar é o único que desfila sem concorrer.


OP ONLINE


Confira as agremiações que desfilarão em 2018

http://bit.ly/2Fk2Jxs

 

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