Logo O POVO+
Elenco de O Mecanismo homenageia Marielle
Vida & Arte

Elenco de O Mecanismo homenageia Marielle

Durante coletiva, atores questionaram o que a tragédia representa para o País
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Marielle Franco foi assassinada em 14 de março de 2018 (Foto: O POVO)
Foto: O POVO Marielle Franco foi assassinada em 14 de março de 2018

O Rio de Janeiro acordou de ressaca na quinta-feira, 15. A intervenção militar já tomara os discursos nas últimas semanas, mas a tragédia que vitimou a vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) e o motorista Anderson Gomes, executados no bairro Estácio, no Centro da Capital, quebrou mesmo o rígido decoro da coletiva de imprensa de lançamento da série O Mecanismo, nova produção nacional da Netflix. Primeiro, foi o ator Enrique Díaz quem pediu a palavra para confessar a dificuldade de se concentrar após os fatos ocorridos na noite anterior.

“Eu não consigo deixar de pensar nisso e eu não posso deixar de citar a tragédia que ocorreu com a vereadora Marielle ontem. Não consegui me afastar disso, desse momento terrível para o Brasil, em que a gente perde uma pessoa super importante, executada desse jeito...”, lamentou o ator. A entrevista era concedida no Copacabana Palace, hotel símbolo da riqueza da zona sul do Rio de Janeiro. Marielle fez carreira junto ao Complexo da Maré, favelas da zona norte carioca e um dos pontos mais pobres do Rio de Janeiro.

O ator Jonathan Haagensen, único negro a representar elenco e produção de O Mecanismo, pediu a palavra para se posicionar. “Ela (Marielle) representa o que acontece todos os dias nas comunidades. A gente só sabe dela porque ela tem voz – imagino quantos a gente não vê. É uma violência que ocorre em especial com as mulheres negras”, protestou.

À tarde, mesmo o reservado Selton Mello criticou a situação do Rio de Janeiro. “O Rio tá bem abandonado. O (prefeito) Crivella (PRB) andando na favela, olhando buracos de tiros e dizendo ‘Eu vou mandar cobrir os buracos’. É a teoria da maquiagem. Não resolvem as questões de fato. O Rio tá... difícil”, suspira. Enrique Díaz completou. “É muito simbólico. É uma vereadora, de partido pequeno, mulher, negra, de votação significativa, de certa maneira enfrentando um poder terrível... O que isso significa?”, questiona, ao parear os “mecanismos” ocultos que vitimaram Marielle com a “velha corrupção”, tema da série em si.

Caroline Abras, que interpreta Verena, uma rara personagem feminina central em uma trama política, ressalta ainda o vão que a perda de Marielle impõe. “Eu tô muito atordoada. Eu nem consigo fazer paralelo (entre O Mecanismo’e a tragédia). É uma liderança feminina negra, que defendia a própria comunidade de onde ela veio...”, repete, admitindo a raiva que não só ela sentia no Rio de Janeiro pós-tragédia.

André Bloc, enviado ao Rio de Janeiro



O que você achou desse conteúdo?