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Cinema. Crítica.Trama Fanstasma: musas, gênios e teias de aranha
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Cinema. Crítica.Trama Fanstasma: musas, gênios e teias de aranha

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Paul Thomas Anderson (PTA) tem uma atração pelo que há de pior na humanidade. Em filmes como o sofrido drama Magnólia (1999) e o colérico Sangue Negro (2007), o cineasta americano rasga relações pessoais entre personagens perversos. Depois de Vício Inerente (2014), em que PTA mostra um protagonista tão dedicado à bondade como às drogas, o diretor volta ao universo da crueldade humana em Trama Fantasma, uma obra sobre um jogo de poder de um estilista genial (Daniel Day-Lewis) com sua musa e amante (Vicky Krieps).


O irascível Daniel Plainview, de Sangue Negro e o contido Reynolds, de Trama Fantasma, são dois personagens que parecem antagônicos a partir da composição de Day-Lewis. Aos poucos, porém, os protagonistas mostram mais semelhanças do que a patente perversidade. Voltando ao filme de 1999, o personagem forte e determinado só mostra uma fragilidade: a família. A relação com o filho, que surge de forma quase mercantilista, expõe uma veia do personagem; da mesma forma, o suposto irmão perdido mostra o protagonista mais inseguro.


Essas noções de fragilidade e do peso do passado também se refletem em Reynolds. Estilista genial, ele cresceu com o fantasma da mãe e com a força da irmã (a magnífica Lesley Manville). Alma (Krieps) é a agente nova, presa na teia de uma família descompensada. Só que Trama Fantasma ganha força quando a jovem garçonete entra, de fato, no jogo. A relação deixa de ser doentia só do lado masculino e ganha novos níveis de toxicidade. Há todo um machismo incrustado na relação, mas há também o distanciamento de “gênios”, tratados como seres superiores, inatingíveis. E há a subversão disso tudo, num terceiro ato surpreendente.


Trama Fantasma é um filme de poucos contextos e de muitos impactos. Muito ali não é dito e nem mesmo é visto. É um filme que trata de sexo a partir da perspectiva do poder – ou seja, sem abordar conteúdos sexuais. É um filme sobre equidade de poderes, sobre a dicotomia do cuidar, sobre o quanto as toneladas de uma vida mal resolvida pesam em um relacionamento.

André Bloc

 

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