Se existiu uma qualidade na terrível tensão da Guerra Fria (1947 – 1991) foi a possibilidade de se criar grandes obras para o cinema. James Bond cresceu neste contexto, desde 007 Contra Moscou (1966); Alfred Hithcock aproveita a paranoia de perseguição em seu Intriga Internacional (1959); e até Stanley Kubrick resolveu satirizar essa tensão na comédia Dr. Fantástico. Ou seja, suspense, comédia, horror, drama, tudo cabe no período de guerra não declarada entre Estados Unidos e União Soviética.
Só que esse período supostamente acabou pouco após a queda do Muro de Berlim (1990) e a reunificação da Alemanha. Daí, em geral filmes recentes apostam em fazer o retrato de uma época, como em Ponte dos Espiões (2015) e Atômica (2017). A aposta de Operação Red Sparrow, de Francis Lawrence, é exatamente o contrário. Na atual Rússia de Vladimir Putin, o filme conta a história de Dominika Egorova (Jennifer Lawrence), primeira-bailarina do balé Bolshoi e que precisa encontrar uma nova carreira na espionagem após uma terrível contusão. A “convite” do tio Vanya (Matthias Schoenaerts), ela entra na escola “Sparrow” e precisa aprender todas as artes da sedução para sobreviver na nova vida.
Baseado no romance Roleta Russa, do ex-oficial da CIA Jason Matthews, o filme une o fôlego atual com o panorama já conhecido das tramas entre espiões russos e norte-americanos. De um lado, acompanhamos a jornada de Dominika para ganhar a confiança do serviço secreto de cada um dos países. Do outro, vemos o agente americano Nate Nash (o insosso Joel Edgerton) na luta por “converter” Dominika, enquanto tenta proteger Marble, sua fonte de informações russa.
[FOTO2]A opção por um cenário contemporâneo, por mais estranha que seja, acaba se tornando uma resposta à Rússia de Vladimir Putin, que retoma os hábitos obscuros da KGB (da qual, não coincidentemente, o presidente russo foi chefe do serviço secreto). É interessante ver o jogo de poder e, ao contrário de Atômica, Operação Red Sparrow é suficientemente didático para não perder o espectador. No entanto, o filme não consegue se desprender dos clichês da sexy e dúbia espiã russa – quase uma bondgirl –, do heroico agente americano, do plano de conquista mundial soviético etc.
Meio que no automático, Jennifer Lawrence consegue segurar as pontas – apesar de uma russa conversando com russos em inglês com sotaque russo seja um paradoxo próprio de filmes hollywoodianos. Red Sparrow consegue ser sexy e até divertido, mesmo com uma violência meio desmedida e uma trama arrastada em seus longos 139 minutos. Acaba parecendo uma história de origem da super-heroína da Marvel Viúva Negra, ou uma versão mais água com açúcar do eficiente Salt (2010). Mas funciona – e isso é mais do que se pode dizer de muito filme genérico de espionagem desta década.
SALAS E HORÁRIOS
(1º a 7 de março)
Cinépolis RioMar Fortaleza
Sala 3 VIP (leg) – às 13h30, 16h45 e 20h; Cinépolis RioMar Kennedy Sala 5 (dub) – às 15h15, 18h15 e 21h15; UCI Kinoplex Iguatemi Sala 12 (leg) – às 16h10, 19h e 21h50, Sala 12 (dub) – às 13h20; UCI Shopping Parangaba Sala 6 (dub) - às 13h20 (exceto sábado e domingo), 16h20 e 19h10%2bSala 6 (leg) – às 22h; Arcoplex Del Passeo Sala 2 (leg) – às 16h, 18h40 e 21h20; Centerplex Grand Shopping Messejana Sala 2 (dub) – às 14h30, 17h30 e 20h30
Outras estreias da semana
MOTORRAD
(Brasil, 2018), de Vicente Amorim. Thriller. 92 minutos. Baseado em obras do quadrinista Danilo Beyruth, o filme conta a história de um jovem, Hugo (Guilherme Prates), que sonha em fazer parte da gangue de motocross do irmão mais velho. Após roubar peças para montar a própria moto, ele acaba entrando em um jogo sádico de perseguição com traços sobrenaturais.
A MALDIÇÃO DA CASA WINCHESTER
(Winchester, EUA/AUS, 2018), de Michael e Peter Spierig. Horror. 100 minutos. 14 anos. Sarah Winchester (Helen Mirren) é assombrada pelas almas de pessoas mortas pelo rifle criado pela família Winchester. Após a morte do filho e do marido, ela decide construir uma mansão para manter os espíritos afastados.
DUDA E OS GNOMOS
(Gnome Alone, EUA, 2018), de Peter Lepeniotis. Animação. 85 minutos. Livre. Duda se muda para uma nova casa, cheia de estranhos gnomos. Aos poucos, ela se une aos “moradores” para proteger o local da invasão dos temíveis trolls.
ARTISTA DO DESASTRE
(Disaster Artist, EUA, 2018), de James Franco. Drama/Comédia. 104 minutos. 14 anos. O Cinema de Arte estreia um filme sobre um dos piores filmes já feitos. A história por traz do clássico cult The Room e de seu diretor, roteirista, produtor e protagonista, o infame Tommy Wiseau (James Franco).