As iniciais do São Paulo Fashion Week não são mais as mesmas, pelo menos até o fim da edição N45, nesta quinta, dia 26. O formato orgânico do SPFW no Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque do Ibirapuera, simboliza o novo momento da moda brasileira, que volta às raízes, à criatividade, original e sem limites. Batizada de “Pow! Explosão Criativa”, a maior vitrine de moda do País veste-se de Conrado Segreto (1960-1992) para uma edição mais uma vez de declaração de amor à moda, assinada por Paulo Borges, diretor criativo do evento fashionista.
Da materialização do estilista paulista a seu produtor e mentor na carreira na moda, Paulo Borges aguardou o tempo certo para homenagear Conrado, mas também a moda brasileira, alegre e criativa, que é sempre possível (e importante) resgatar, com doses extras de laranja - a cor oficial do SPFW N45. “O mundo precisa disso. E não só a moda brasileira, mas o Brasil”, reflete Paulo.
[SAIBAMAIS]O diretor criativo do SPFW e o artista multifacetado, responsável por modernizar a alta-costura brasileira - imprimindo nacionalismo em uma breve e explosiva carreira entre meados dos anos 1980 e início dos anos 1990-, tinham paixões muito semelhantes. Eram ligados à moda.
“O Conrado tinha essa coisa da criação por compulsão, da criação sem exceção, sem limites, sem concessões nenhuma. Eu acho que o mundo precisa disso hoje. Resgatar a alma criativa. As palavras, principalmente a criação, ficaram muito comoditizadas. Criatividade não sai da boca, sai do coração, sai da alma. Então para você fazer, você tem que dar um mergulho profundo nas tuas paixões, nas tuas ideias... O Conrado era assim. Ele desenhava, escrevia, tinha poema, tocava música... e fazia roupa”.
[QUOTE1]Para o cabeça da principal semana de moda do Brasil, a obra de Conrado, reconhecido por seu talento e irreverência, sempre esteve à frente, quem sabe, até do próprio designer. “O Conrado viveu em 80 o que, hoje, o mundo procura viver. E poucas pessoas conseguem. Ele lidava com a ideia da criação de uma maneira libertária, ele usava isso como uma emoção. E por isso que o Conrado está aqui hoje. Não para que as pessoas pudessem ver a roupa, mas para que as pessoas pudessem sentir a alma”, continuou em entrevista ao O POVO.
A homenagem a um dos ícones da moda brasileira, morto aos 32 anos vítima de aids em 1992, ganha destaque na área do térreo do pavilhão no Ibirapuera, com exposição ocupando todo o andar com obras de Conrado. É lá onde roupas, textos e ilustrações do estilista (guardados pela irmã, Rita Segreto, idealizadora do livro Conrado Segreto – Moda e Paixão, da Editora Luste) ultrapassam o significado do fazer moda para, junto a um recorte de 32 artefatos do acervo de arte plumária do Pavilhão das Culturas Brasileiras, que integra o Departamento dos Museus Municipais da Secretaria de Cultura de São Paulo, assumirem um convite à identidade cultural brasileira.
[FOTO2]O espaço também abriga série fotográfica com time de new faces em participação inédita na temporada de moda, todas de looks Conrado, claro. “Acho fundamental lembrar a história dos grandes artistas do mundo da moda. Sempre fui fã do Conrado e nesse editorial resgatamos o passado, mas o trabalho dele é tão genuíno e atemporal que a imagem construída é absolutamente atual”, afirma Adriano Damas, autor do material de memória.
Além do projeto concebido pelo diretor criativo do SPFW, Paulo Borges, a fashion week abriu mais espaço para a criação fotográfica, envolvendo nove duplas de fotógrafos e stylists, que criaram imagens usando as roupas do estilista Conrado Segreto. Uma das fotos mais impactantes é de Gustavo Zylbersztajn, com stylist Paulo Martinez. Modelo parece estar em um quadro de arte.
A cobertura completa da semana de moda de São Paulo está no subcanal Moda & Beleza do O POVO (www.opovo.com.br/vidaearte/modaebeleza).
*A repórter viajou a convite do SPFW
JULLY LOURENÇO
*ENVIADA A SÃO PAULO