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Mostra "O Sertão das Rabecas" celebra presença do instrumento no Ceará
Vida & Arte

Mostra "O Sertão das Rabecas" celebra presença do instrumento no Ceará

| EXPOSIÇÃO | Resultado de uma viagem que percorreu mais de 50 municípios para catalogar a presença das rabecas, mostra reúne rico acervo da cultura popular musical sertaneja
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Sertão não se traduz em escassez. É o bom e velho arrasta-pé de um forró nas salas de reboco; são as danças de São Gonçalo; os baiões de reisado. É toda uma fartura proveniente da confirmação em gotas de um "bonito pra chover". É como bem versou ainda Maciel Salu: "se tem rabeca e zabumba, eu não saio daqui nunca mais". De origem europeia, a rabeca – com suas quatro cordas retesadas e toque inconfundível – ultrapassou o tempo e simboliza até hoje um sertão que teima, por sorte, em resistir.


Professor e pesquisador, Gilmar de Carvalho, na companhia do fotógrafo Francisco Sousa, caiu na estrada em busca de um sertão bastante particular. A viagem, por mais de 50 municípios do Estado, ultrapassou a mera catalogação desse ofício. "Queríamos saber por que a rabeca tinha sido 'sequestrada' da história cultural do Ceará. A pesquisa foi exaustiva. Tinha a ver com os folguedos que ela animava, com as formas de sociabilidade, com o Patrimônio Imaterial, com a memória, com o que fomos, somos e queremos ser", afirma Gilmar.


Entre estradas carroçáveis, sobe-e-desce de trilhas até chegar ao asfalto propriamente dito, a dupla finalizou a pesquisa (iniciada em fevereiro de 2004, até o início de 2014) com um número expressivo de 184 rabequeiros e luthiers e apenas uma mulher - dona Ana Soares, da cidade de Umari. "Tivemos poucas pistas no começo. Íamos aos mercados, onde estava gente mais idosa reunida, igrejas, sem uma direção certa. Depois, uns iam dando a pista dos outros. Não tivemos apoio para a pesquisa. Gastamos combustível, pagamos hotéis, restaurantes, desgaste do carro, oficinas, tudo", destacou o pesquisador que, para a publicação agora do livro, contou com a empresa M. Dias Branco, a Secretaria das Cidades do governo do Estado, a Cagece e a Verve Comunicação.


O resultado da série de viagens de Gilmar de Carvalho e Francisco Sousa pode ser conferido neste sábado, 28, às 10 horas, em formato de exposição. O Sertão das Rabecas, que permanecerá em cartaz durante dois meses no Museu do Ceará (Centro), divide-se em dois momentos – Lutheria e Performance - e traz ao público muito além de fotos e peças à mostra.


"A exposição tem um conceito. Irá rodar documentários sobre Mestre Vino e uma gravação feita pelo Iphan, quando Francisco Sousa e eu fomos premiados em 2014. É um trabalho de equipe, envolve muita gente e isso é bom porque garante uma diversidade dos olhares e soma experiências", enfatiza Gilmar.


Os rabequeiros entrevistados, de acordo com ele, eram geralmente pessoas que lidavam com a agricultura em seu dia-a-dia. "Gente que cultivava a terra dos outros em troca de parte da colheita. Um regime bem medieval, como se vê. Tinham em comum o amor à música, o improviso, o desejo de alegrar o sertão. Uns têm domínio da lutheria, adquirida por meio da feitura de telhados, aviamentos de casas de farinha, de móveis. A maior parte era formada por tocadores de rabecas", enumera. Ainda de acordo com Gilmar, as novas gerações encontram-se a par dessa arte por meios bem variados, que passam também pela questão das políticas públicas.


"As novas gerações descobriram as rabecas. Muito por conta, eu creio, do (grupo pernambucano) Mestre Ambrósio, do Antonio Nóbrega... Diria que foi forte a contribuição pernambucana. Temos políticas públicas que investem no ensino do toque da rabeca e na lutheria para os jovens. Temos orquestra de rabecas no Juazeiro do Norte (Sesc). Na Cachoeira do Fogo, em Independência, muita gente aprendeu com o povo do grupo Dona Zefinha. Outros municípios apostam na iniciação musical como forma de retirar os jovens do contexto da violência. Di Freitas, por exemplo, ensina a fazer rabecas de cabaças e de papelão. É comovente e muito lúdico", ressalta.


A viagem de Gilmar e Francisco Sousa, porém, não se resume a O Sertão das Rabecas. "Estamos levantando histórias de vida e de sabedoria dos Mestres da Cultura. Pretendemos lançar um livro com este conteúdo, ainda este ano. Pesquisamos também a memória dos velhos vaqueiros de Morada Nova. Pretendemos reunir em livro a produção do Joaquim Mulato, decurião dos penitentes de Barbalha, morto em 2010. Gostaria de reunir em livro as esculturas de Mestre Joviniano, de Crateús, outro grande santeiro". Ou seja: muita coisa ainda por vir.


Exposição O Sertão das Rabecas


Quando: abertura sábado, 28, às 10h, seguindo por dois meses

Onde: Museu do Ceará (rua São Paulo, 51 - Centro)

Visitação: de terça-feira a sábado, das 9h às 17 horas

Entrada franca

Telefone: (85) 3101 2610

 

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