A Marvel Studios criou aquilo que, para muitos fãs e admiradores da sétima arte, era considerado impossível: uma série de franquias conectadas. Depois do longa Homem de Ferro, Kevin Feige, produtor executivo do estúdio, ofereceu aos fãs outros 18 filmes interligados e coesos entre si, o que transformou a franquia em um dos produtos mais invejáveis da história do cinema, tanto em crítica quanto em bilheteria. Apesar disso, o gênero foi saturando. Nos últimos anos, obras da Marvel e de sua concorrente DC tornaram-se filmes fracos e repetitivos. Passaram a durar pouco na memória.
E essa era a missão dos Irmãos Russo, diretores dos dois últimos filmes do Capitão América e de Guerra Infinita, nova aventura dos Vingadores que estreou na meia noite desta quinta-feira, 26. Eles precisavam reformular o gênero, reinventar a roda e honrar os dez anos de Universo Marvel, que, no início de tudo, revolucionou o modo de fazer cinema.
A boa notícia é que, felizmente, Guerra Infinita funciona espetacularmente bem. O lançamento é O Senhor dos Anéis e Star Wars da nova geração. O elenco de mais de 20 heróis é dividido entre grupos imprevisíveis, como acontece em O Retorno do Rei, para vencer um vilão que os massacra constantemente, como em O Império Contra-Ataca. Isso é ressaltado pela trilha sonora magistral de Alan Silvestri, que compreende os grupos e cria temas distintos para cada um de modo inspirado.
Além disso, para o épico funcionar entre esses núcleos, o vilão precisava ser à altura dos heróis. Thanos, interpretado elegantemente por Josh Brolin, surge no filme para capturar as seis Joias do Infinito, apresentadas anteriormente nos filmes da Marvel. Ele parte para uma aventura descontrolada, aniquilando todos que encontra pela frente, somente no intuito de destruir metade do universo. Sabendo disso, o ator o interpreta como uma força da natureza impossível de ser controlada.
Essas características fazem com que Thanos seja realmente assombroso. Em sua primeira cena, o vilão diz a que veio e mostra como será o destino dos heróis. Eles sofrem e, a todo momento que um deles fica cara a cara com o titã roxo, a tensão é justificada em minutos. Thanos, além de brutal, representa um trabalho competente e necessário para a franquia que exigia uma urgência que os outros vilões não tinham.
O filme, desse modo, possui um fator riquíssimo e raro na sétima arte atualmente: ele é imprevisível. A união dos heróis, os encontros, as sequências de batalhas e reviravoltas fazem a plateia vibrar, torcer e se emocionar, como se fosse um jogo de futebol, onde a reação do público faz parte da partida. Inclusive, há situações em que aqueles que acompanham a franquia há uma década se surpreendem com a presença de personagens de obras anteriores. Tais sequências, por sinal, são arrepiantes pelo que representam na franquia.
Essa imprevisibilidade faz com que a obra pulse tensão constantemente. Existe uma lista de cenas assim, como aquela que envolve Thanos e sua filha Gamora e as batalhas simultâneas que acontecem em Wakanda, com o grupo do Capitão América e Pantera Negra protegendo Visão, e em Titã, planeta que Thanos habita. As guerras são representadas de forma complexa, sendo impossível não perder o fôlego ou vibrar com a construção narrativa das duas. Um deleite.
Guerra Infinita está entre nós. O filme mantém o humor comum ao universo e cenas de ação espetaculares. E mais que isso: o roteiro é conciso, bem escrito e arrepiante. Não há defeitos, furos. E apesar da conclusão vir somente em maio de 2019, os fãs podem se deliciar, finalmente, com a seriedade que a Marvel trouxe consigo.
Inclusive, não se esqueçam de que há uma cena pós-crédito. Ela consegue confortar o nosso coração desesperado por Vingadores 4.