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Em Cargo, gênero de zumbis é tratado de forma diferenciada
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Em Cargo, gênero de zumbis é tratado de forma diferenciada

| NETFLIX | Em Cargo, o gênero de zumbis é abordado de forma diferenciada, apostando mais no desenvolvimento dos personagens e menos na violência gratuita
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Os zumbis fazem parte do imaginário popular há décadas. Desde que ganharam popularidade na época de ouro do diretor George A. Romero, os mortos-vivos seguem como protagonistas de quadrinhos e seriados, como o sucesso The Walking Dead, e inúmeros filmes e jogos. Novas produções são lançadas todos os anos, normalmente abordando temas já vistos no passado. Ao trazer um pouco de mudança para um gênero tão batido, o filme Cargo, lançado no Brasil pela Netflix em maio, aposta mais na construção de seus personagens que em cenas de ação e desmembramento de corpos.


Baseado em um curta-metragem homônimo lançado em 2013, Cargo é comandado pela dupla Ben Howling e Yolanda Ramke. A trama começa com Andy (Martin Freeman, o Bilbo Bolseiro da trilogia Hobbit) e Kay (Susie Porter) após um aparente apocalipse no qual a sociedade chegou ao fim. Após um descuido, Kay acaba infectada, para então transmitir a doença à Andy. Sem a esposa, o homem tem apenas 48 horas até a infecção tomar de conta do seu corpo. Nesse meio tempo, deve encontrar um lar seguro para a filha, um bebê de colo. Em paralelo, a jovem Thoomi (Simond Landers), membro de uma tribo aborígene, procura salvar o pai, transformado em zumbi pela doença.

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Mesmo não sendo um filme longo, Cargo aproveita o tempo para desenvolver o lado humano dos protagonistas. Apesar do fim trágico, o relacionamento de Kay e Andy é construído de forma a aproximar a audiência do drama dos personagens. É nesse ponto que reside o aspecto mais característico do filme: enquanto em outras produções os zumbis e a violência são o foco, aqui os mortos-vivos são apenas um detalhe deste universo.


O uso reduzido de flashbacks também beneficia a história, tanto por não entregar todas as informações de forma expositiva, como contribui para mostrar como eram os infectados antes da doença. Essa escolha do roteiro, escrito por Ramke, dá mais personalidade ao filme, por não tratá-los apenas como monstros. Dito isso, Cargo é um filme que não economiza na violência. Quando é preciso, cenas fortes são apresentadas, além do design diferenciado dos zumbis, que possuem olhos, boca e nariz cobertos por uma substância amarelada semelhante a mel.

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Aqui, o prazo para um humano se tornar um zumbi é de 48 horas a partir da mordida. Os sintomas logo começam a se manifestar, e boa parte da narrativa mostra ao espectador toda a angústia de Andy para aguentar o sofrimento. Vômitos frequentes, dores, desmaios, o desejo por sangue e o ato de cavar buracos no chão compõem a cartilha da infecção.


Ao integrar alguns detalhes da cultura aborígene na história, ainda que de forma superficial, é o filme permite a criação de uma empatia por Thoomi. Por mais que evite algumas armadilhas do gênero, o filme não está isento dos clichês. Uma batalha final sem explicação quebra o clima de suspense apresentado até então. O estereótipo do “homem cruel que irá atacar o protagonista” também está presente e se torna uma resolução previsível do longa.


Lançado sem alarde, Cargo pega um gênero saturado e foca nos personagens para proporcionar uma experiência um tanto diferenciada para a audiência. Por funcionar quase como um road movie australiano, o longa se destaca em meio a tantas produções semelhantes, com cenários vastos e personagens bem construídos.

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