Logo O POVO+
Ventre, curta de Fábio Limah, faz reflexão sobre aborto
Vida & Arte

Ventre, curta de Fábio Limah, faz reflexão sobre aborto

| CURTA-METRAGEM | Ainda inédito em Fortaleza, Ventre, filme dirigido por Fábio Limah, reflete sobre os conflitos que se impõem sobre as mulheres diante da maternidade
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
NULL (Foto: )
Foto: NULL
[FOTO1]

Um diálogo entre uma mulher prestes a abortar e um feto que soma cinco semanas. O curta-metragem Ventre apresenta essa conversa improvável por meio de uma narrativa cuja construção passa longe de maniqueísmos e resoluções simplórias. Ainda inédito em Fortaleza, o filme estreia amanhã, no Cine Olympia, em Belém. O POVO teve acesso ao curta e conversou com o diretor, Fábio Limah, que planeja trazer o trabalho à Capital no segundo semestre.


“Quem pariu que crie”, “Quem mandou não se prevenir” e “Na hora de abrir as pernas...”. São essas algumas das frases jogadas sobre Ela, única personagem de “corpo presente” da obra. O papel coube à carioca Kelly Tiburcio, que vive (com firmeza) essa mulher. O ator Rafael Mello traz à tona a voz do personagem Feto, representado visualmente por um pedaço de carne. Por meio dessa voz em off, um mundo de responsabilidades e culpas são atribuídos à Ela.


O trabalho foi todo gravado em estúdio e a linguagem audiovisual apresentada se aproxima do jogo de cena teatral. A obra exala caráter surrealista, aproximando-se de filmes como Dogville (Lars von Trier, 2003) e Frida (Julie Taylor, 2002). Ventre ganha ao escapar do realismo-naturalismo tão onipresente na filmografia brasileira recente. A obra não foge dos assuntos do agora, mas apresenta-os de maneira alegórica, simbolizada.

[QUOTE1]

“É uma declaração de guerra contra a misoginia e a opressão, onde um conflito aparentemente íntimo de uma mulher é capaz de dizer tanto sobre a realidade de muitas outras mulheres, brasileiras, latino-americanas, lutando para serem reconhecidas como cidadãs deste mundo”, destaca Fábio Limah. Ator e pesquisador com carreira no teatro, o paraense transporta, com sensibilidade, a temática para os frames. Não há uma preocupação óbvia com a representação exata de objetos, sentimentos e pessoas, dando ainda mais beleza e força ao que é visto na tela.


Sobre ser um homem abordando a maternidade compulsória, Fábio argumenta: “Ao nascer, eu não pude escolher meus pais, cor de pele, gênero, condição social e nem minhas oportunidades, mas, ao longo da vida, eu posso escolher de que lado eu estou”, responde Fábio, inspirado no que ouviu da cineasta Tereza Trautman ao longo do processo de filmagem. O filme teve assistência de direção de Kelly Gomes, que é também roteirista. A montagem foi realizada com Rafael Carvalho e Lucas Machado.


O curta é resultado do Curso Intensivo de Formação em Realização Audiovisual, da Escola de Cinema Darcy Ribeiro (RJ). A formação é destinada a cineastas estreantes sem condições de arcar com os custos dos cursos regulares da instituição. A construção passou por muitas mãos e pela supervisão de professores da instituição, a exemplo da artista visual Ziza Dourado.


Ventre declara guerra não só contra o machismo e o patriarcado, mas também contra o cânone dos formatos fílmicos. Ao dispensar a linearidade narrativa, ganha liberdade poética para refletir sobre o quão doloroso é para mulheres (mães ou não) ter de responder a série de expectativas sociais.

 

O que você achou desse conteúdo?