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Arthur Veríssimo narra experiências vividas em viagens à India
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Arthur Veríssimo narra experiências vividas em viagens à India

| AUTOCONHECIMENTO | Atração de hoje no FVA, o jornalista Arthur Veríssimo narra as experiências vividas em inúmeras viagens à Índia
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Arthur Veríssimo

Especial para O POVO

 

 

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Há 40 anos tenho viajado e pesquisado in loco, diversas manifestações religiosas, xamânicas e coletivas pelo planeta e a Índia é um universo por onde estive por mais de 20 vezes.


De 12 em 12 anos, acontece na Índia o festival Kumbh Mela nas cidades de Haridiwar, Allahabad, Nasik e Ujjain. O Kumbh Mela é o festival mais antigo da história da humanidade e reúne mais de 70 milhões de pessoas.


Tive a oportunidade de estar presente no Kumbh Mela nas quatro cidades sagradas onde fotografei, registrei e captei imagens atemporais. A história e mitologia do festival está inserida nos livros sagrados hindus. O mega-festival já acontecia séculos antes de Cristo. O primeiro registro escrito só foi feito no século sete D.C pelo viajante chinês Hiuen Tsiang que, naquele período, calculou 500 mil pessoas no evento. A época e duração do festival estão intimamente ligadas pelo alinhamento dos planetas e o movimento de Júpiter pelo Zodíaco. O mito se baseia na grande batalha entre os Deuses e os Asuras (Demônios) pelo pote sagrado que continha o néctar da imortalidade (Amrita). Segundo a crença, o Deus Vishnu (que sustenta e mantém o universo) capturou o vaso e na batalha quatro gotas do néctar caíram nas quatro cidades sagradas. Desde então, a cada 12 anos, celebra-se o contato da substância divina com a Terra em seus respectivos rios. O frenesi da multidão é alucinante. O néctar, a fé, a devoção arrasta milhões de peregrinos para se purificarem nas águas sagradas em datas pré-estabelecidas com o ciclo lunar. As noites de lua Nova e Cheia são os dias mais auspiciosos para os banhos. Estar presente no Kumbh Mela e mergulhar nas águas sagradas tem como objetivo purificar os peregrinos dos pecados cometidos nesta encarnação e em vidas passadas de acordo com os preceitos hinduístas. No Kumbh Mela de Haridwar em 2010 tive a felicidade de conhecer e entrevistar Sri Prem Baba.

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Em todas minhas participações nos Kumbh Mela, sempre ouvia histórias e lendas sobre o Monte Kailash. Monges, yogues, gurus, peregrinos e sacerdotes comentavam sobre esta montanha . E lá fui conhecer e fazer a peregrinação.


Em 2008 realizei minha primeira expedição ao monte Kailash onde realizei o kora, a circumambulação (a pé) ao redor da montanha mais sagrada do planeta, o Kang Rinpoche, “a preciosa joia das Neves”. No ano de 2014 voltei ao Kailash junto com meu filho mais velho, João, e realizamos uma aventura de autoconhecimento, unindo pai e filho nos confins do Tibet. Montamos o planejamento estratégico da nossa expedição e, no mês de setembro, partimos para Katmandu. Depois de alguns dias no Nepal, todas as autorizações, permissões e vistos para entrar no Tibet e ir ao Kailash foram entregues ao nosso guia.


Tínhamos a oportunidade única para que, juntos, ao longo da jornada, construíssemos um capítulo magistral de nossa relação congênita. O ano de 2014 foi o ano do cavalo de madeira, um dos mais auspiciosos e dinâmicos no calendário tibetano para se fazer o Kora ao redor do Kailash.

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O circuito do Kailash é de 52 km. A maioria dos peregrinos atravessa a jornada em dois dias e meio pernoitando em tendas e guest-houses. Por todos os lados transbordam lendas, mitos, histórias e sagas. O Kailash não é o limite e sim o centro. Como um espelho, a montanha reflete de volta a divindade que temos em nossa alma. Reaprendemos a andar, escutar, respirar e conectar. Para o peregrino, todos os estágios são finais. Quando você se dá conta de que cada passo poderia ser o último, tens a consciência de que cada passo é definitivo. Como toda a experiência última, esta peregrinação é inefável. Não é por falta de palavras, é porque está além de qualquer descrição. A peregrinação, pertence ao espírito, ao outro lado da razão.


Como disse Raman Maharshi, “tem lugares como o Kailash que somente se pode ir a pessoa que está predestinada. Não de outra maneira. Ir ao Kailash e retornar equivale a um novo nascimento”.


Arthur Veríssimo é jornalista, autor dos livros Karma Pop (2010) e Gonzo! 30 anos de jornalismo transcultural (2014)


Palestra Karma Pop, com Arthur Veríssimo

Quando: hoje, 23, às 17 horas

Onde: Sala Violeta, 2° mezanino


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