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Clarice Niskier discute as contradições humanas na peça A Alma Imoral
Vida & Arte

Clarice Niskier discute as contradições humanas na peça A Alma Imoral

| FESTIVAL VIDA&ARTE | Atriz carioca Clarice Niskier apresenta o espetáculo A Alma Imoral, nos dias 23 e 24 de junho. A obra aborda as contradições do comportamento humano
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Uma cadeira, um tecido simples e uma atriz que se reconstrói a cada encenação. Clarice Niskier sobe aos palcos do Festival Vida&Arte com a experiência de uma veterana, mas a paixão de uma aprendiz: seu monólogo A Alma Imoral já completa 12 anos ininterruptos em cartaz, provocando dogmas religiosos e afirmando a força da transgressão.


A Alma Imoral, adaptação da atriz carioca para o livro homônimo do rabino Nilton Bonder, é resultado de uma provocação recebida num programa televisivo. “A pergunta do apresentador de TV era ‘qual é sua religião?’ e eu disse que era judia budista. Veio, então, o fax de uma telespectadora dizendo ser uma aberração aquilo. Ou era uma coisa, ou outra. Eu só tinha vontade de chorar e dizer ‘por que eu não posso ser, se eu sou?’”, conta Niskier. O rabino, outro convidado do show, saiu em defesa da atriz e apresentou questionamentos que mudaram não só a carreira da artista, mas também sua
relação espiritual.


A provocação oportuna de Dona Léa, a telespectadora cuja única informação que se tem é o nome que vinha no fax, desencadeou um processo irreversível na vida de Niskier: de família judaica, a atriz trilhava uma aproximação com a ancestral sabedoria budista na busca por compreender a complexidade da alma humana, tão repleta de contradições. Foi Nilton Bonder, rabino da Congregação Judaica do Brasil, quem a introduziu nos caminhos do movimento progressista Hassidismo e também na tradição cabalística.


“O espectador, então, vê uma atriz chegando, explicando como ela se aproximou do livro e contando que a peça é uma resposta após ser atacada na televisão dizendo que ela não podia ser o que ela era. A obra do Bonder contém toda uma filosofia que está na sabedoria judaica sobre a sagrada desobediência, sobre a força da transgressão e a importância de abrir novos caminhos”, explica a artista. O público confere, então, durante uma hora e meia de espetáculo, os frutos dessa trajetória em constante renovação.


Niskier argumenta que a alma é imoral perante os olhos de um corpo moral socialmente construído, principalmente no Ocidente: “Ela é imoral porque não colabora com os dogmas da moral, porque ela trai a moral em nome da evolução. Eu acho que essa minha busca traz um entendimento da alma imoral de uma forma vivida, não fico na intelectualidade dos argumentos. Eu tenho uma vivência emocional, totalmente emocional, de legitimar esse lugar da desobediência”, pontua. Assim, o espetáculo trabalha com dualidades como corpo e alma, certo e errado, tradição e traição.


No palco, Niskier tira o vestido e senta-se nua na cadeira para iniciar um passeio pelas transgressões que identifica no Velho Testamento. “A primeira frase da peça é ‘não há nudez na natureza’ e, sendo assim, eu só quero mostrar através do meu corpo a alma que habita nele. O desnudamento da roupa é um movimento de ficar nua com a minha alma”, explica a atriz.


As narrativas presentes nos livros sagrados constroem a obra cênica. “Os exemplos de transgressão são muitos no Velho Testamento, como a travessia do Mar Vermelho e a história das Filhas de Loth, que cometem um incesto com o pai para a espécie não acabar. Aquilo é uma força da alma, quando elas decidem descumprir uma lei para cumprir uma lei da vida. São transgressões que vêm não como uma mudança moral, mas como uma mudança onde o errado passa a ser o certo por uma legitimidade da alma. Quando a alma está agindo sem segundas intenções, com a força de uma preocupação com a vida, ela sempre acaba sendo legitimada pela história. É muito lindo, é um conhecimento muito profundo, muito ancestral e que ficou oculto para o Ocidente por muito tempo”, defende.


O comprometimento com a pluralidade espiritual e o amplo diálogo religioso se dá desde a composição do espetáculo. O diretor de A Alma Imoral é Amir Haddad, teatrólogo brasileiro de origem árabe que é do candomblé. Além de Haddad, a peça conta com a supervisão atenta de Nilton Bonder e direção de produção do marido da atriz, José Maria Braga.


Sucesso de público, o espetáculo já ultrapassou a marca dos 400 mil espectadores e rendeu à Niskier o Prêmio Shell-RJ 2007 e o Prêmio Qualidade Brasil em 2008, ambos na categoria Melhor Atriz. A Alma Imoral foi contemplada ainda pelos Prêmios Caixa Cultural e Caravana Funarte de Circulação Nacional de Teatro.


A Alma Imoral no FVA

Data: 23 de junho, às 23 horas; e 24 de junho, às 19 horas, no Teatro J. Cabral

Classificação etária: 18 anos

Local: Centro de Eventos do Ceará (av. Washington Soares, 999)
Quanto: R$20 (inteira) R$10 (meia) - válido para toda a programação do dia no evento (o acesso às atrações está sujeito à lotação dos espaços onde elas se apresentarão)

Ingressos à venda no site: www.festivalvidaearte.com.br, na portaria do Jornal O POVO (av. Aguanambi, 282 - Joaquim Távora) e nas Lojas JEF (RioMar Fortaleza e Iguatemi Fortaleza)

Programação completa: www.festivalvidaearte.com.br

 

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