Da casa de número 266 na rua Ratisbona, no centro do Crato, o Grupo Ninho de Teatro ganha o País. Em 2018, a companhia celebra dez anos de trajetória e, coroando as comemorações, acaba de ser selecionada pelo Rumos Itaú Cultural, importante ferramenta de fomento às artes brasileiras. Nessa década de atuação, essa não é a primeira vez que o Ninho é contemplado em editais disputadíssimos Brasil afora: em 2015, com o espetáculo Avental todo sujo de ovo, o grupo circulou pelo projeto Palco Giratório, do Sesc. No ano seguinte, a mesma peça participou de mostra de espetáculos das Olimpíadas no Rio de Janeiro.
Toda essa possibilidade de circulação, entretanto, não significa facilidade de manutenção da companhia. Por iniciativa própria, os artistas possuem sede, que é aberta ao público público e recebe atividades. A Casa Ninho vive, ano após ano, desafios para se manter aberta e agora, mais do que nunca, o espaço se faz importante. É que o grupo está com inscrições abertas, até o próximo dia 8, para um curso de formação teatral (ver matéria coordenada).
[SAIBAMAIS]“Nesses 10 anos, se a gente tivesse se fechado na gente, teríamos perdido a dimensão politica do nosso fazer artístico”, reflete o ator e produtor Edceu Barboza, destacando ser proposta basal do grupo a conexão com o entorno. Para o artista, especialmente por haver um “deslocamento geográfico” dos grandes centros, a função do Ninho se faz ainda mais necessária. “Não podemos deixar de abraçar o eixo formativo. É um posicionamento ético político”, confirma.
Nas redes sociais, o grupo divulgou carta aberta falando sobre as dificuldades de manter a sede aberta. O escrito dizia: “As ações de trabalhos que desenvolvemos para custear as despesas de manutenção — apresentações de espetáculos, cachês, cursos e oficinas, e outras formas — ainda não cobrem as contas”. Os artistas revelam estar abertos a parcerias com outros grupos, a exemplo do que acontece com o Coletivo Atuantes em Cena, que há dois anos divide a Casa.
[QUOTE1]“É um prédio alugado, as despesas são altas e acho que nossa maior vitória é essa: conseguir se manter, sobreviver. Chegar aos dez anos no interior do Estado e estar vivo e atuante é muito difícil”, destaca a atriz Sâmia Ramare. “A gente recebe grupos do País inteiro. Quando eles vêm para o Cariri, já entram em contato com a gente para se apresentar ou ministrar oficina”, completa.
No repertório da companhia, sete montagens produzidas ao longo desses anos. Segundo Sâmia, é objetivo central do grupo uma pesquisa continuada em sintonia com uma realização coletiva. “A gente anda um pouco na contramão do mercado. Não estamos fazendo espetáculos todos os anos, precisamos de espaços para respirar outras coisas, inclusive com trabalhos fora do grupo”, diz.
O grupo volta a Fortaleza esta semana com os espetáculos Avental todo sujo de ovo e Poeira, esta última fruto de forte ligação com a cultura popular. “O trabalho foi desenvolvido no Porto Iracema das Artes e fizemos uma pesquisa com tradição popular que amadureceu muito no laboratório (da escola). O Cariri é uma potência de tradição popular e queríamos dialogar com esses mestres da cultura sem cair na camada da espetacularização”, afirma Edceu.
Mostra Ninho
Quando: dias 6 de junho (18 horas) e 7 (às 15h30min e 18 horas).Onde: Centro Cultural Banco do Nordeste (R. Conde d’Eu, 560 - Centro)
Programação gratuita