Em uma época não muito distante, as pessoas valorizavam os cartazes de divulgação de um filme. Lado a lado de um trailer, o longa era “vendido” ao público com o seu pôster, que oferecia imagens vibrantes, os principais astros e uma frase de efeito em letras chamativas. Isso não ocorria só nos corredores de cinemas, inclusive. As locadoras também tinham um charme e tanto com os seus cartazes emoldurados espalhados pelo lugar, sendo disputado pela grande maioria dos clientes, que pediam aqueles de seus filmes favoritos. Eu mesmo fiz isso. Tenho pôster de As Aventuras de Tintim, filme importante, que também se faz presente na minha parede.
Com o passar dos anos, no entanto, isso foi sendo esquecido. Não pelo público, mas pelos realizadores, que entraram em uma moda de criar cartazes recheados de detalhes, com o máximo de informações possíveis. Isso fez com que as peças ficassem extremamente poluídas, coloridas e confusas o suficiente para distanciar o público, algo que também aconteceu com os trailers, que, constantemente, explicam o filme e prejudicam aquilo que deveria ser considerado segredo. Chega a ser cômico que o material de divulgação seja responsável, em muitos casos, por tirar a vontade de conferir a obra.
Isso tudo, por outro lado, veio a acontecer recentemente, com os blockbusters tomando espaço de outros filmes em cinemas de shopping. Reparem como todos são iguais. Anteriormente havia um glamour, era uma peça artística, mesmo que publicitária. Uma das referências, usada como exemplo até hoje, é Bill Gold, artista que trabalhou em inúmeros cartazes clássicos. Falecido aos 97 anos, em maio último, o autor trabalhou em peças de obras da Warner Bros., como Laranja Mecânica, Os Imperdoáveis, O Exorcista, Dirty Harry e Os Bons Companheiros, filmes e cartazes de qualidade indiscutíveis.
Lembrado por ser um artista de obras misteriosas e que despertam a curiosidade do público, Gold também tinha a missão de transformar o cartaz em uma peça de arte e o filme em um sucesso. Ele trazia o espírito do filme e, dependendo do tema da obra, já construía a sensação gerada dentro da sala escura.
Mas hoje está tudo diferente. Lembram do pôster de Vingadores: Guerra Infinita, por exemplo? Como o material de divulgação precisa dos principais astros, o pôster teve praticamente todos os 30 personagens colocados de algum modo lá, um exemplo perfeito da tal poluição visual. Além disso, ainda há a técnica de pôster digital, criado para telões elétricos. Ao depender de energia, eles ficam escuros e ainda mais confusos que os que são feitos de papel.
Outros que também vem perdendo espaço são os cartazes minimalistas. Chamado de “pôster alternativo”, o material cada vez mais se torna uma obra de arte morta. Há 10 anos existia essa técnica de usar os cartazes para não contar nada sobre o filme, somente o nome do diretor e dos astros, com o apoio das cores em sintonia com a mensagem e/ou objeto misterioso. Eles instigam a curiosidade e imaginação do público diante do que é visto e fazem sabiamente com que a audiência confira a obra.
O cinema se renova constantemente. Essa geração de cartazes atual, um dia, vai passar. Quem sabe no futuro, o glamour dos pôsteres retorne.