[FOTO1]
O Peru é um país que, embora tenha evidentes desigualdades sociais como todos os países da América Latina, tem uma riqueza cultural secular cujo potencial transborda os estereótipos e reiteradas imagens turísticas. A profusão artística do país está evidente nos tecidos produzidos pelas cholitas da região andina, na arte gastronômica, mas também na produção cinematográfica recente. Apesar de produzir cinema desde 1910, e ter um apogeu nos anos 1960, o Peru padeceu com pouca circulação dos filmes noutros países e contextos. Desde os anos 2000, essa realidade começou a mudar com um volume maior de lançamentos de filmes e uma distribuição mais alargada chegando, mesmo que ainda de forma escassa, a outros países como o Brasil.
As raras oportunidades de assistir à diversidade cinematográfica do Peru geralmente acontecem em contextos de mostras e festivais, como no caso da Mostra de Cinema Peruano, integrante da programação do 28º Cine Ceará - Festival Ibero-Americano de Cinema. Na ocasião, uma demonstração da potencialidade do cinema peruano contemporâneo estará em evidência por meio dos filmes de diretoras e diretores como Claudia Llosa, Karina Cáceres, Erica Perez, Juan Daniel F. Molero, Héctor Gálvez, Raúl del Busto, os irmãos Vega - Diego e Daniel Vega, Javier Corcuera, entre outros.
Os 16 filmes que compõem a Mostra confirmam dois elementos em destaque no cinema peruano atual: a produção crescente e contínua, e o experimentalismo narrativo. Apesar do apoio insuficiente das políticas públicas culturais, e padecendo com o patrocínio privado de olho somente em produções previsíveis, este tipo de cinema tem conseguido furar o bloqueio do óbvio oportunizando ao espectador uma experiência surpreendente e para além dos estereótipos do país. Cabe destacar que alguns destes filmes recuperaram o interesse dos peruanos em ir às salas de cinema assistir cinema nacional não blockbuster, como o caso dos filmes Rosa Chumbe (2015), do diretor Jonatan Relayze, e La última tarde (2014), do diretor Joel Calero.
Também na linha de novas propostas narrativas e diversas, o Cine Regional (cinema regional, em português), denominado pelo pesquisador peruano Emilio Bustamante, congrega a produção fora da centralidade da capital Lima, e integra o cinema peruano contemporâneo por meio de obras audiovisuais provenientes de outras regiões do país com cineastas e produtores empoderados em contar suas próprias histórias. A cineasta Karina Cáceres é de Arequipa, localizada na região sul do Peru, e apresenta o potencial do cinema regional por meio de dois de seus filmes: Cable a tierra (2012) e Bajo la influencia (2016), e ainda com outras ações importantes como a direção do Okupas Colectivo Audiovisual no qual fomenta a produção, realização e difusão do audiovisual em Arequipa.
Parte desta grande variedade cinematográfica do Peru estará disponível nos próximos dias em Fortaleza, cabe agora aos cinéfilos ficarem de olhos e ouvidos bem abertos a esse universo potente e esteticamente prodigioso.
Carla Daniela Rabelo é pesquisadora de Cinema Peruano, coordenadora do bacharelado em Produção e Política Cultural da Universidade Federal do Pampa (RS)
Mostra de Cinema Peruano
Quando: de 31/7 a 5/8
Onde: Caixa Cultural Fortaleza (Av. Pessoa Anta, 287)
Acesso gratuito; ingressos distribuídos 1 hora antes das exibições
Infos: cineceara.com